Romantização da magreza extrema? veja os riscos dos padrões radicais

A romantização da magreza extremas nas redes sociais podem gerar consequências severas a sua saúde e bem-estar; entenda sobre a glamourização dos padrões irreais e de onde ela vem

Por Laraelen Oliveira.

A velocidade e alcance das redes sociais modifica e exige uma constante renovação de costumes, ou, em muitas das vezes a massificação de padrões irreais para seus usuários. A magreza extrema em muitos momentos da história foi associada a disciplina, sucesso e até mesmo felicidade, e atualmente vem sendo cada vez mais romantizada através de perfis, hashtags e conteúdos virais, principalmente em redes sociais como o Instagram, TikTok e Pinterest. O que antes estava restrito a passarelas e revistas de moda, hoje é disseminado em massa por influenciadores digitais, que apesar de não ter a intenção de criar um padrão estético, acabam sendo arrastados para uma realidade de romantização da magreza. 

Perfis de influenciadores, filtros e edições de imagem podem reforçar padrões inalcançáveis, afetando a autoestima de jovens e adultos/Foto: Freepik 

Filtros e edições de imagem criam uma estética de corpos quase irreais, mas vendidos como “naturais”. Esse processo reforça uma sensação constante de inadequação dos usuários que recorrem às dietas restritivas e treinos intensos, que acabam sendo apresentados como estilo de vida saudável, quando muitas das vezes escondem consequências perigosas à saúde. 

A glamourização da magreza extrema é um fator de estímulo para a anorexia nervosa, bulimia e compulsão alimentar. Principalmente jovens, sobretudo meninas e mulheres passam a enxergar o próprio corpo de forma negativa, a comparação constante gera frustração e pode desencadear quadros de ansiedade e depressão, mesmo quando estão dentro dos parâmetros saudáveis.

Os riscos físicos do emagrecimento rápido

O emagrecimento rápido costuma ser visto como um atalho tentador para alcançar um corpo magro “ideal” em pouco tempo, mas na prática ele traz uma série de riscos físicos que podem comprometer seriamente a saúde. Muitas dietas restritivas e métodos radicais que prometem resultados imediatos, porém ignoram completamente as necessidades nutricionais do organismo. A nutricionista Alice Alagia, alerta sobre os sinais de distorção de imagem: 

“Normalmente a pessoa que está desenvolvendo essa disfunção da imagem corporal se olha toda hora no espelho, se pesa toda hora, come muito pouco e diz que está cheia, episódios de tontura seguidos por vista escurecida, sinais de fraqueza. Além disso, apresentam oscilação de humor, horas euforia, horas deprimido.”

Emagrecer rápido não é sinônimo de saúde. Perda de massa muscular, problemas hormonais, alterações cardiovasculares e comprometimento do fígado e rins são apenas alguns dos efeitos que podem surgir/Foto: Freepik

Entre as consequências massivas para o corpo estão: 

1. Perda de massa muscular

Quando a perda de peso acontece de forma muito acelerada, o corpo não elimina apenas gordura, mas também massa magra (músculos). Isso reduz a força física, desacelera o metabolismo e aumenta a chance de efeito sanfona.

2. Deficiências nutricionais

Dietas muito restritivas deixam de fornecer vitaminas e minerais essenciais, podendo causar, queda de cabelo, unhas fracas e pele ressecada, anemia por falta de ferro, fraqueza e tontura devido à carência de vitaminas do complexo B e enfraquecimento dos ossos pela falta de cálcio e vitamina D.

3. Comprometimento do metabolismo

Emagrecer rápido demais faz o organismo entrar em “modo de economia de energia”, diminuindo o gasto calórico natural. Isso dificulta a manutenção do peso e aumenta o risco de recuperar os quilos perdidos.

4. Problemas no fígado e nos rins

Dieta hiperproteica ou uso de medicamentos sem acompanhamento pode sobrecarregar fígado e rins, levando a inflamações, cálculos renais e outras complicações.

5. Alterações hormonais

A restrição alimentar extrema pode desregular a produção de hormônios ligados ao apetite, ao ciclo menstrual (em mulheres) e até ao humor, causando desequilíbrios importantes.

6. Problemas cardiovasculares

Perda de peso abrupta pode provocar queda da pressão arterial, palpitações, arritmias e até aumentar o risco de insuficiência cardíaca, especialmente em pessoas com histórico de doenças do coração.

7. Efeito sanfona

O corpo tende a recuperar rapidamente o peso perdido de forma radical, muitas vezes com aumento de gordura corporal, o que gera um ciclo de frustração e prejuízos à saúde.

O papel das redes sociais na disseminação das “canetas emagrecedoras”

As chamadas “canetas emagrecedoras”, medicamentos injetáveis usados originalmente para o tratamento de diabetes tipo 2, tornaram-se um fenômeno global impulsionado pelas redes sociais. No Brasil e no mundo, plataformas como Instagram, TikTok e Youtube desempenham um papel central na popularização e na banalização do uso desses fármacos, muitas vezes sem uma orientação médica adequada.

Celebridades e criadores de conteúdo compartilham suas experiências com o medicamento, apresentando-o como uma “solução milagrosa” para emagrecer rápido, não apenas informando sobre o uso do remédio, mas também romantizando o uso, vinculando diretamente a magreza ao sucesso, autoestima e disciplina, reforçando padrões de corpos irreais. 

O fenômeno das ‘canetas emagrecedoras’ mostra como redes sociais podem banalizar medicamentos perigosos/Foto: Getty Images

As redes sociais transformaram as “canetas emagrecedoras” em símbolos de desejo e consumo imediato, mas também em um problema de saúde pública. Mais do que um fenômeno farmacológico, trata-se de uma questão cultural e comunicacional, a magreza continua sendo romantizada e vendida como ideal de vida, agora com o respaldo de um produto médico que, usado de forma irresponsável, pode causar graves consequências.

Dietas restritivas 

As dietas restritivas, apesar de populares pela promessa de emagrecimento rápido, apresentam diversas problemáticas que afetam tanto a saúde física quanto psicológica. A eliminação de grupos alimentares ou a redução drástica de calorias pode levar a deficiências nutricionais, comprometendo o metabolismo, o sistema imunológico e a saúde digestiva. Além disso, a perda de peso rápida gerada por essas dietas costuma ser temporária, frequentemente resultando no chamado efeito sanfona, como anteriormente citado, em que o corpo recupera o peso perdido e até mais, dificultando a manutenção de hábitos saudáveis a longo prazo.

Dietas muito restritivas podem parecer soluções rápidas, mas a longo prazo prejudicam a saúde física e mental/Foto: Reprodução 

No aspecto psicológico e social, as dietas restritivas também podem gerar sérios impactos. A pressão para seguir regras rígidas pode desencadear ansiedade, culpa e baixa autoestima, além de aumentar o risco de transtornos alimentares, como compulsão, anorexia ou bulimia. Socialmente, essas dietas podem provocar isolamento, dificultando a participação em eventos e refeições coletivas. Por isso, especialistas recomendam que mudanças alimentares priorizem o equilíbrio e a sustentabilidade, valorizando hábitos saudáveis e a orientação profissional, em vez de recorrer a restrições extremas que oferecem resultados temporários, mas comprometem a saúde integral.

Anorexia nervosa

A anorexia nervosa é um transtorno alimentar caracterizado por uma busca intensa pelo emagrecimento, imagem corporal distorcida e medo extremo de engordar, levando à restrição alimentar e a um peso corporal significativamente baixo. Geralmente, inicia-se na adolescência ou início da vida adulta, sendo mais comum em mulheres, embora casos em homens possam ocorrer e, muitas vezes, não sejam identificados. Existem dois tipos principais: o tipo restritivo, em que a pessoa limita a ingestão de alimentos sem purgação regular, e o tipo compulsão/purgativo, em que há episódios de compulsão alimentar seguidos de purgação, como vômitos ou uso de laxantes.

A anorexia não é apenas sobre comer menos, envolve distorção da imagem corporal e medo intenso de engordar/Foto: Reprodução 

As causas exatas da anorexia nervosa ainda são desconhecidas, mas fatores genéticos, psicológicos e sociais desempenham um papel importante. Pressões culturais para ser magro, preocupação com peso desde a infância e características pessoais como perfeccionismo e exigência consigo mesma aumentam a vulnerabilidade ao transtorno. Apesar de muitas jovens seguirem dietas ou adotarem medidas de controle de peso, apenas uma pequena porcentagem desenvolve anorexia nervosa. Os primeiros sinais incluem preocupação excessiva com alimentação e peso, mesmo em indivíduos com peso normal, e resistência a aceitar que há um problema, persistindo na tentativa de emagrecer.

O tratamento da anorexia nervosa envolve avaliação médica e acompanhamento nutricional e psicológico. O médico avalia o peso, altura, índice de massa corporal (IMC) e sintomas associados, além de descartar outros distúrbios que possam causar perda de peso. Em casos graves, pode ser necessária a internação hospitalar para garantir a ingestão adequada de calorias e nutrientes, utilizando, se necessário, alimentação por sonda nasogástrica. O acompanhamento interdisciplinar é essencial, pois o transtorno combina fatores físicos, emocionais e sociais, exigindo cuidados integrados para recuperação e manutenção da saúde.

Impactos da magreza extrema para a saúde mental e como se recuperar 

A magreza extrema pode ter impactos profundos na saúde mental, especialmente quando está associada a transtornos alimentares, como a anorexia nervosa. Pessoas muito magras frequentemente apresentam ansiedade intensa, depressão, baixa autoestima e distorção da imagem corporal, além de medo constante de engordar. O comportamento restritivo em relação à alimentação pode levar a isolamento social, dificuldade de concentração, irritabilidade e obsessão por dieta e exercícios. A pressão interna e externa para manter um corpo extremamente magro também aumenta o risco de transtornos compulsivos, como compulsão alimentar. 

A recuperação da saúde mental nesses casos exige uma abordagem multidisciplinar e paciente. O primeiro passo é buscar ajuda profissional, envolvendo psicólogos, psiquiatras e nutricionistas especializados em transtornos alimentares. A psicoterapia, especialmente a terapia cognitivo-comportamental (TCC), ajuda a pessoa a reconhecer padrões de pensamento distorcidos, a desenvolver uma relação mais saudável com a comida e a trabalhar a autoestima. Em alguns casos, medicamentos podem ser utilizados para tratar sintomas de ansiedade e depressão associados.

A magreza extrema pode afetar profundamente a saúde mental, gerando ansiedade, depressão e baixa autoestima/Foto: Getty Images

Além do tratamento clínico, a rede de apoio social é fundamental para a recuperação. Familiares e amigos devem oferecer suporte emocional sem julgamentos, incentivando a reintrodução gradual de hábitos alimentares equilibrados e a prática de atividades prazerosas que não estejam ligadas à aparência física. A paciência e a consistência são essenciais, pois a recuperação é um processo contínuo, que envolve reconstruir a percepção do próprio corpo, adotar hábitos alimentares saudáveis e recuperar o equilíbrio emocional.

“Se organize, muitos questionam que o hábito saudável gera mais trabalho para ser feito, porém tudo é organização. Fazer sua lista de compras de acordo com sua rotina, tirar uma tarde para organizar suas marmitas, testar receitas saudáveis, tudo isso faz parte de um hábito alimentar saudável”, orienta a nutricionista. 

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