Nem sempre é o trabalho: estudo sugere novas causas para o burnout
Reconhecido pela OMS como uma síndrome resultante do estresse crônico no ambiente de trabalho, o burnout vem sendo tema de novos estudos
Por Bruna Castelo Branco.
Reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma síndrome resultante do estresse crônico no ambiente de trabalho, o burnout vem sendo tema de novos estudos que sugerem causas mais amplas para o problema. Pesquisadores da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia (NTNU) apontam que nem todos os casos da condição têm origem exclusivamente profissional.
O termo burnout foi criado na década de 1970 pelo psicólogo americano Herbert Freudenberger, ao descrever o estresse intenso entre profissionais, principalmente cuidadores. Desde então, a síndrome passou a ser associada ao contexto ocupacional, mas o novo estudo norueguês propõe uma revisão desse entendimento.
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Os pesquisadores ouviram 813 trabalhadores na Noruega e avaliaram os participantes por meio de uma escala de burnout, além de aplicarem questionários sobre a percepção das causas de seus sintomas. Apenas 27,7% dos indivíduos que apresentaram sinais da síndrome atribuíram os problemas diretamente ao trabalho — índice semelhante ao observado em pessoas com outros quadros de estresse psicológico não classificados como burnout.
“O fato de apenas uma fração limitada de indivíduos com sintomas de burnout atribuir esses sintomas ao trabalho não está de acordo com a noção de que o burnout é inerentemente um fenômeno ocupacional”, afirmaram os autores no artigo publicado na revista Journal of Psychosomatic Research. Eles destacaram que “presumir que os sintomas experimentados no trabalho são necessariamente induzidos pelo trabalho pode prejudicar nossa capacidade de atenuar esses sintomas”.
Segundo o psicólogo e professor da NTNU Renzo Bianchi, responsável pelo estudo, muitas pessoas com burnout descrevem situações de estresse em diferentes aspectos da vida. “Você poderia chamar de estresse depressivo na vida”, disse.
Bianchi também aponta que a personalidade pode influenciar no desenvolvimento da síndrome. “Para as pessoas com personalidade mais ansiosa, as preocupações e o estresse podem drenar muita energia, sem que isso tenha necessariamente a ver apenas com o trabalho. Acho importante realizar mais pesquisas sobre isso, especialmente sobre o impacto da personalidade”, afirmou, em comunicado da universidade. “Preocupar-se constantemente com o que pode dar errado é exaustivo”, completou.
Ainda assim, o estudo reconhece que, para alguns indivíduos, o ambiente de trabalho é um fator determinante para o burnout. A pesquisa identificou que pessoas com pontuação mais alta na escala de burnout tinham maior probabilidade de apontar o trabalho como causa dos sintomas.
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Os pesquisadores também observaram que trabalhadores que recebiam apoio de colegas, tinham segurança no emprego e autonomia no desempenho das funções eram menos propensos a relatar esgotamento. “Esses são três fatores que têm um efeito preventivo. Minha experiência é que a vida profissional melhorou para muitas pessoas, com maior foco na saúde mental”, avaliou Bianchi.
O pesquisador ressaltou ainda a importância de relações justas no ambiente de trabalho. “A falta de justiça é, na verdade, um grande fator de estresse para muitas pessoas. É importante que a pessoa mais competente seja de fato promovida ou contratada. É fundamental que as pessoas não recebam um salário mais alto apenas por serem amigas do chefe ou por alguma política interna”, afirmou. Para ele, essa atenção é ainda mais relevante porque “nem todos têm a sorte de amar seu trabalho e, como resultado, ter a capacidade de tolerar mais estresse nele”.
Fatores de risco para burnout
A OMS lista uma série de condições laborais que podem contribuir para o desenvolvimento de problemas de saúde mental, entre elas:
- Subutilização de habilidades ou falta de qualificação para o cargo;
- Carga ou ritmo de trabalho excessivos e falta de pessoal;
- Jornadas longas, inflexíveis ou com horários não sociais;
- Falta de controle sobre o planejamento ou a execução das tarefas;
- Condições físicas de trabalho precárias ou inseguras;
- Cultura organizacional que tolere comportamentos negativos;
- Apoio limitado de colegas ou liderança autoritária;
- Violência, assédio ou bullying;
- Discriminação e exclusão;
- Função de trabalho pouco clara;
- Promoção insuficiente ou excessiva;
- Insegurança no emprego, remuneração inadequada ou falta de investimento em desenvolvimento profissional;
- Conflitos entre demandas do trabalho e da vida pessoal.
Sintomas
Os sintomas do burnout podem se manifestar em diferentes níveis. Entre os sinais físicos estão fadiga persistente, dores de cabeça, alterações no sono e apetite, além de problemas gastrointestinais.
Emocionalmente, a síndrome pode causar exaustão, irritabilidade, ansiedade, tristeza, cinismo e despersonalização. No aspecto comportamental, podem ocorrer queda no desempenho, procrastinação, isolamento social e aumento no uso de substâncias.
Entre os principais fatores de risco estão excesso de trabalho, ambientes laborais tóxicos, falta de autonomia e características individuais, como perfeccionismo, dificuldade em estabelecer limites e incapacidade de relaxar.
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