Meningite bacteriana: conheça sinais da doença que matou professor na Bahia
Professor Davidson Souza Brito, de 33 anos, morreu no último dia 5, diagnósticado com meningite bacteriana
O professor Davidson Souza Brito, de 33 anos, morreu no último sábado (5), em Feira de Santana, após ser diagnosticado com meningite bacteriana — a forma mais grave da doença, que afeta membranas do sistema nervoso central. O caso acende alerta para a enfermidade, que é transmitida por via respiratória e seus sintomas podem ser confundidos com os de viroses comuns, como vômito e dores de cabeça.
As meninges são membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal, estruturas que podem ser afetadas por infecções causadas por bactérias, vírus, fungos ou protozoários. É o que explica o infectologista Robson Reis, professor da Escola Bahiana de Medicina, ao Aratu On.
Os primeiros sinais da meningite são considerados inespecíficos, dificultando o diagnóstico precoce. No entanto, segundo o especialista, uma sequência de sintomas específicos — chamada por ele de “tríade” — pode acelerar a identificação da doença. “São eles: dor intensa de cabeça, rigidez na nuca e pescoço — dificultando encaixar o queixo na região do tórax — e vômitos”, detalha.
Ainda segundo o médico, os sintomas não costumam variar muito entre adultos, crianças e idosos. No entanto, nas crianças pequenas, alguns sinais são mais sutis. “Alguns quadros, principalmente crianças menores que dois anos, do tipo irritação, agitação, choro fácil, recusa a alimentar, então aí passa a chamar a atenção”, afirma.
Evolução do caso
Davidson começou a apresentar sintomas na quarta-feira (2). Ele chegou a ser encaminhado para a cidade de Serrinha para realizar exames. Durante o deslocamento, que dura cerca de 20 minutos, o professor voltou a passar mal, sendo atendido no hospital municipal de Serrinha. Em seguida, foi transferido para uma unidade em Santo Antônio de Jesus, no Recôncavo Baiano.
Na quinta-feira (3), a caminho do hospital, ele voltou a ter uma piora no quadro clínico e precisou ser atendido no Hospital Geral Clériston Andrade, em Feira de Santana, onde não resistiu.
Casos na Bahia
Segundo a Secretaria da Saúde da Bahia (Sesab), 49 casos de meningite — de diferentes tipos — foram registrados no estado nos três primeiros meses deste ano, com seis mortes confirmadas. Em 2024, a Bahia contabilizou 446 casos da doença, sendo 115 do tipo bacteriana, com 24 óbitos registrados ao longo do ano passado.
Transmissão
A forma bacteriana da meningite é, na maioria das vezes, transmitida pela via respiratória. Ou seja, através de secreções do nariz ou da garganta — por meio da tosse, espirros ou até mesmo da fala — uma pessoa infectada pode espalhar as bactérias que causam a infecção.
“O interessante é que algumas pessoas não apresentam sinais e sintomas e podem transmitir para outras pessoas, isso é conhecido como portador assintomático”, explica o infectologista.
A meningite meningocócica, causada pela bactéria Neisseria meningitidis, é a forma bacteriana mais comum no Brasil. Segundo Robson, há também outros tipos, como a meningite por Listeria, que é transmitida por contato orofecal.
Devido à facilidade de transmissão e ao fato de o professor ter contato direto com estudantes, a Secretaria de Saúde de Feira de Santana informou que familiares e alunos próximos receberam quimioprofilaxia — medida preventiva que consiste no uso de medicamentos para evitar o desenvolvimento da doença.
Diagnóstico
A suspeita diagnóstica ocorre por meio da avaliação clínica e de um exame físico minucioso. A confirmação, no entanto, se dá por um procedimento específico.
A confirmação acontece por meio de um exame chamado LICO. Nesse exame é feito uma punção lombar, que estuda o líquido do cefalorraquidiano (LCR), também conhecido como exame do líquor, onde analisa o fluido que circula no cérebro e na medula espinhal.
"Assim podemos ali identificar a quantidade de células, a glicose, proteínas e, principalmente, a presença de agentes infecciosos", explica.”
Tratamento
O início precoce do tratamento é fundamental para aumentar as chances de recuperação do paciente. “Quanto mais cedo o tratamento foi instituído para o paciente, maior a chance desse paciente sobreviver. Alguns tipos de meningite, a letalidade é muito variável, mas pode chegar a 20%, a 30%. A exemplo da meningite meningocóscica é quando não tratada. Então quanto mais cedo o tratamento foi instituído, melhor a taxa de cura desse paciente, melhor o prognóstico desse paciente.”
Segundo o especialista, o principal antibiótico utilizado no tratamento é a ceftriaxona. “Robson detalha que o tratamento depende de uma dose mais alta do medicamento, para que ele possa penetrar melhor no sistema nervoso central.”
A reportagem não incentiva a automedicação. Em caso de sintomas semelhantes aos da meningite bacteriana, é fundamental procurar um médico.
Sequelas
Mesmo com o tratamento, alguns pacientes podem desenvolver sequelas, como perda de audição e visão, problemas renais, paralisia e, em casos mais graves, necessidade de amputações.
Vacinação
A principal forma de prevenção da meningite bacteriana é por meio da vacinação. As vacinas estão disponíveis gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), dentro do Programa Nacional de Imunização (PNI). As principais são:
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Vacina Meningocócica C (Conjugada): protege contra o sorogrupo C.
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Vacina Pneumocócica 10-valente (Conjugada): protege contra o Streptococcus pneumoniae.
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Vacina Pentavalente: protege contra o Haemophilus influenzae tipo B (causador da meningite), além de difteria, tétano, coqueluche e hepatite B.
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Vacina Meningocócica ACWY (Conjugada): protege contra os sorogrupos A, C, W e Y.
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