Qual é a maior festa religiosa da Bahia? Conheça o calendário da fé no estado

Este ano, a Lavagem do Bonfim, maior festa religiosa da Bahia, reuniu cerca de dois milhões de pessoas, segundo o padre Edson Nunes, reitor da Basílica Senhor do Bonfim

Por Bruna Castelo Branco.

A maior festa religiosa da Bahia, na opinião de historiadores, acontece logo no começo do ano, em janeiro, é rica em sincretismo religioso e participação popular, e é realizada na Cidade Baixa, em Salvador. Este ano, a Lavagem do Bonfim reuniu cerca de dois milhões de pessoas, segundo o padre Edson Nunes, reitor da Basílica Senhor do Bonfim.

O cortejo, que parte por volta das 8h da Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia, percorre 7,2 km até a Colina Sagrada, onde fica a Igreja do Senhor do Bonfim.

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Este ano, a Lavagem do Bonfim reuniu cerca de dois milhões de pessoas, segundo o padre Edson Nunes, reitor da Basílica Senhor do Bonfim. | Foto: Rafael Martins/GOVBA

Este ano, a celebração marcou os 280 anos da chegada da imagem do Senhor do Bonfim a Salvador e teve como tema “Encharque o Coração de Esperança”, em referência ao Ano Jubilar de Esperança, instituído pelo Papa Francisco.

Ao Aratu On, o historiador Rafael Dantas, especialista na história de Salvador, explicou que a força da Lavagem está, justamente, na diversidade de pessoas, religiões e demonstrações de fé da festa.

A maior festa religiosa da Bahia é marcada pelo sincretismo religioso e união entre diferentes demonstrações de fé. | Foto: Lucas Moura/Secom

"É interessante entendermos que a força da Festa do Bonfim bebe diretamente dessa inserção popular. Os romeiros, ao longo do tempo, foram entendendo que o Bonfim, para além de uma questão tradicional, religiosa e católica, também traz o sincretismo. E, sem dúvida nenhuma, esse é um ponto que fortalece a festa para os diversos grupos presentes no cortejo em suas demonstrações de fé. Isso acontece com outras festas também, mas, talvez, com o Bonfim tenha atingindo um nível mais estratosférico", detalhou.

Todos os anos, fiéis vestidos de branco caminham até o templo, onde promessas, agradecimentos e pedidos são depositados. Muitos amarraram as tradicionais fitinhas do Bonfim no gradil da igreja, em gesto de devoção.

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Todos os anos, fiéis vestidos de branco caminham até o templo, onde promessas, agradecimentos e pedidos são depositados. | Foto: Lucas Moura/Secom

Maior festa religiosa da Bahia: origem da Lavagem do Bonfim

O culto ao Senhor do Bonfim remonta a 1745, quando o capitão-de-mar-e-guerra português Theodózio Rodrigues de Faria, também traficante de pessoas escravizadas, prometeu que, caso sobrevivesse a uma travessia marítima, traria a imagem de Portugal para o Brasil. Em 1746, começou a construção da igreja e, em 1754, a imagem foi levada em procissão da Capela da Penha até a Colina do Bonfim.

Como aponta o historiador Murilo Mello, por ter essa origem, antes de ser conquistada pela população de Salvador, a festa e a irmandade da Igreja "nasceram nos braços de pessoas abastadas" da cidade. "A Igreja do Bonfim foi construída por Theodózio, né? Capitão-de-mar-e-guerra, comerciante de escravos, muito abastado, com status e poder na Bahia. E pelas pessoas, pela irmandade que o cerca. Então, ela já nasce sobre os braços de pessoas abastadas da cidade".

Este ano, a celebração marcou os 280 anos da chegada da imagem do Senhor do Bonfim a Salvador. | Foto: Rafael Martins/GOVBA

Mas, no início do século XIX, de acordo com Dantas, a festa começou a ser mais parecida com a que conhecemos hoje. "Antes disso, já tínhamos uma Lavagem, mas em um contexto muito mais tradicional e religioso, mais um preparativo que antecedia o dia da 'epifania', o dia da festa mesmo. Com o passar do tempo, foi ganhando uma tônica muito mais representada por essa expressão popular que a gente encontra hoje".

Segundo o "Dossiê Festa do Bonfim: a maior manifestação religiosa popular da Bahia", formulado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional (Iphan), foi a população negra que deu à celebração a dimensão atual. A lavagem do templo, realizada na segunda quinta-feira após o Dia de Reis, passou a ser associada ao culto de Oxalá, orixá ligado à criação do mundo e símbolo da paz nas religiões de matriz africana.

No início do século XIX, de acordo com o historiador Rafael Dantas, a festa começou a ser mais parecida com a que conhecemos hoje. | Foto: Lucas Moura/Secom

Resistência cultural

A Igreja Católica tentou proibir a Lavagem, impedindo que o interior dos templos fosse acessado durante as festas. As mulheres negras, no entanto, mantiveram o ritual do lado de fora. Com vassouras, flores e quartinhas com água de cheiro, passaram a lavar o adro e a escadaria da Igreja do Bonfim, prática que permanece até os dias atuais.

Atualmente, a Festa do Bonfim é reconhecida como uma manifestação popular e identitária, e passou a atrair visitantes do mundo inteiro, como indica Murilo Mello: "O baiano se vê na Lavagem do Bonfim, é um marco cultural. E, além desse marco cultural e identitário, a celebração tem um apelo turístico hoje, vem gente do Brasil inteiro, né? Dos interiores da Bahia, de fora do Brasil, e por aí vai. Então, movimenta a economia local, a rede hoteleira, os vendedores ambulantes... é um patrimônio riquíssimo para a Bahia".

Além de ser manifestação secular e uma festa que celebra resistência religiosa e cultural, a Lavagem de Senhor do Bonfim é descrita por Rafael Dantas como um elo entre passado e presente. "A importância da festa como todo, não podemos esquecer, é porque ela é um elo de tempo, um elo de cultura, um elo de tradições, de representatividade".

A Festa do Bonfim é reconhecida como uma manifestação popular e identitária e passou a atrair visitantes do mundo inteiro. | Foto: Rafael Martins/GOVBA

'Calendário da Fé' na Bahia

A Bahia se destaca por um calendário cheio de celebrações religiosas, que movimentam milhares de fiéis e turistas ao longo do ano. Além da Lavagem do Bonfim, em janeiro, as festas mais conhecidas são a Festa de Iemanjá, em fevereiro, a Festa de Santa Bárbara, em dezembro, e a Festa de Nossa Senhora da Conceição da Praia, também em dezembro.

A lavagem do templo, realizada na segunda quinta-feira após o Dia de Reis, passou a ser associada ao culto de Oxalá. | Foto: Lucas Moura/Secom

Confira, abaixo, o calendário da fé no estado:

  • Festa do Bonfim (janeiro): Considerada a maior manifestação religiosa popular da Bahia, em homenagem ao Senhor do Bonfim. Inclui novenas e o tradicional cortejo com a lavagem da escadaria da igreja.

  • Festa de Iemanjá (2 de fevereiro): Celebração do candomblé, com oferendas à orixá levadas ao mar no bairro do Rio Vermelho, em Salvador.

  • Festa de Santa Luzia (13 de dezembro): Homenagem à padroeira dos olhos, com missas e procissões.

  • Festa de Nossa Senhora da Conceição da Praia (8 de dezembro): Comemoração em honra à padroeira da Bahia, com grande concentração de fiéis no bairro do Comércio, em Salvador.

  • Festa de Nossa Senhora da Boa Morte (agosto): Tradição centenária na cidade de Cachoeira, une religiosidade católica e cultura afro-brasileira, com destaque para o simbolismo da luta pela liberdade de pessoas escravizadas.

  • Festa de São Lázaro (data variável): Atração popular em Salvador, marcada pela devoção a São Lázaro.

  • Festa de Santa Bárbara (4 de dezembro): Celebração em Salvador que reúne católicos e adeptos do candomblé, marcada pelo sincretismo com Iansã.

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