Lula, a “química excelente” com Trump, e o delírio dos apaixonados

Outros apaixonados, os Bolsonaros e aliados, que sustentavam o discurso da monogamia com Donald Trump, devem ter sentido o peso do “adultério”

Por Pablo Reis.

Lula, a “química excelente” com Trump, e o delírio dos apaixonados

A Assembleia Geral da ONU se preparava para um embate entre titãs, mas o que se desenrolou em Nova York foi um inesperado "momento mágico", uma reviravolta digna de um enredo de sedução geopolítica: o fervor da oposição cedeu lugar a um abraço protocolar de apenas 20 a 39 segundos. O suficiente para promover uma ebulição de paixões. De um lado, um Lula incisivo; do outro, um Donald Trump surpreendentemente afetuoso. O resultado provisório dessa dança diplomática? Lula é o craque da rodada no xadrez da geopolítica. O Don Juan em forma de estadista. Mas não é tão simples assim, como passar uma cantada no bloco de carnaval…

O Protagonismo e a Paixão pela Soberania

Desde 1947, cabe ao Brasil abrir os trabalhos da ONU — cortesia histórica de Oswaldo Aranha. Lula aproveitou a vitrine global para fazer uma defesa apaixonada da democracia. Seu discurso foi incisivo, repleto de verdades que seriam, para muitos, bastante inconvenientes, especialmente para o presidente norte-americano Donald Trump.

Lula chegou à ONU para defender o multilateralismo e lançou recados contundentes ao ambiente doméstico e à comunidade internacional. Ele denunciou que "atentados à soberania, sanções arbitrárias e intervenções unilaterais estão se tornando a regra". Em uma clara alfinetada a Trump e em defesa do STF, afirmou que a "agressão contra a independência do Poder Judiciário é inaceitável".

O presidente brasileiro, que invoca para si a guerra contra a fome e contra a pobreza como a única eticamente autorizada, capitalizou a narrativa de legitimidade e resistência aos desmandos do trumpismo. Chegou a citar Cuba de maneira positiva e condenou os ataques a Gaza, usando o termo "genocídio em curso", o que colocou o Brasil "do bom lado da história". Diante disso, Lula saiu com imagem fortalecida perante a parte do planeta que aplaude chefes de estado com discursos pacifistas. 

A Química Inesperada: Afeto no Corredor

Apesar da escalada de tensões prévias — marcada por sanções e tarifas de 50% sobre produtos brasileiros —, o que se esperava ser um duelo se transformou em um momento de cortejo. Trump, conhecido pelo seu temperamento beligerante, fez um afago público que deixou os governistas brasileiros perplexos. Ele declarou que eles "se abraçaram" e que tiveram uma "química excelente", mesmo que por apenas 39 segundos. O presidente americano foi além na metáfora do apaixonamento, dizendo que Lula parecia "um cara muito legal" e que ele "só faz negócios com pessoas que eu gosto".

Esse momento mágico gerou euforia e deu resultados práticos para a economia brasileira, com o índice Ibovespa 146.000 pontos e o dólar perdendo força na cotação. O mercado interno se mostrou satisfeito com essa sinalização de aproximação. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) avaliou o anúncio como uma "retomada do diálogo de alto nível" e "fundamental para a reaproximação dos dois países".

O Risco da Arapuca: Um Amor Calculado

Apesar do tom de romance súbito, a cautela se impõe. Analistas alertam que o afago de Trump, que ocorreu logo após sanções serem impostas a autoridades e familiares brasileiros, pode ser a preparação de uma cilada diplomática.

A ambivalência é típica do estilo negociador de Trump: elevar a tensão, aplicar pressão e, em seguida, reposicionar-se para negociar em condições mais vantajosas — marcas de firmeza estratégica combinada com inteligência política. Embora tenha elogiado Lula, ele manteve o recado duro, dizendo que o Brasil estava "indo mal" e só poderia se sair bem se estivesse "trabalhando conosco".

O gesto súbito de química é visto por alguns analistas como uma "armadilha" que busca colocar Lula em uma situação desconfortável ou, até mesmo, retirá-lo do discurso de vítima. O temor de um "efeito Zelensky" — onde Trump humilhou um líder estrangeiro publicamente — levou o corpo diplomático brasileiro a agir com prudência. O Itamaraty se negou a confirmar uma reunião presencial, alegando que a agenda de Lula estava ocupada, e a reunião deve ser virtual, o que minimiza a possibilidade de constrangimentos.

Outros apaixonados, os Bolsonaros e aliados, que sustentavam o discurso da monogamia com Donald Trump, devem ter sentido o peso do “adultério”. Como alguns parceiros traídos, dedicaram-se a transformar o ato que, à primeira vista, parece infidelidade, em uma narrativa de aproximação estratégica. Para eles, Trump estaria mais para Cleópatra do que para Messalina ou Ana Bolena.

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O Vencedor Provisório

Em meio à tensão e à incerteza sobre o próximo passo da relação, é inegável que Lula conseguiu, no presente momento, uma vitória diplomática de peso. Ele conseguiu desmobilizar grande parte dos argumentos da oposição interna e externa e se posicionou como um ator fundamental no cenário global.

Embora Trump seja imprevisível, e o diálogo que se abre seja pragmático e frágil, a diplomacia brasileira não cedeu "nenhum milímetro" ao enfrentar o estresse imposto previamente. Lula e sua equipe fizeram um trabalho que pode ser chamado de impecável.

Mesmo com a sombra da arapuca pairando sobre o futuro encontro, a imagem de Lula ficou muito fortalecida. O presidente brasileiro, o craque da rodada, provou que a política internacional, assim como o amor, pode ser intensa e paradoxal, mas que, no momento, a atração foi irresistível. O beijo que geralmente se segue a uma investida bem sucedida, ainda não sabemos o teor: se é da sorte, ou da morte. 

 

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