CONSCIÊNCIA NEGRA: Conheça os projetos que desenvolvem ações de luta contra o racismo
CONSCIÊNCIA NEGRA: Conheça os projetos que desenvolvem ações de luta contra o racismo
Criado pelo projeto de lei 10.639/2003, até ser instituído em todo território nacional pela lei nº 12.519, de 10 de novembro de 2011, o Dia da Consciência Negra, comemorado nesta segunda-feira (20/11), é um marco na batalha por direitos do povo negro e afrodescendentes no país, pois coincide com a data que representa a partida de Zumbi dos Palmares, um dos maiores guerreiros da luta contra a escravidão no Brasil.
Passados 322 anos desde a morte do líder do Quilombo dos Palmares, a data atualmente é dedicada também ao debate sobre a inserção do negro na sociedade brasileira e diversos outros desdobramentos que atingem diretamente esta população, como o acesso as políticas públicas de ações afirmativas, intolerância religiosa e estética afro.
A importância da data fez com que o mês inteiro ficasse ligado à celebrações e promoções de atividades para os movimentos de reivindicações racial. O poder público e o setor privado, pontualmente, desenvolvem intervenções durante o “Novembro Negro” com o objetivo de levantar a bandeira do autorreconhecimento e da resistência negra, pautar o racismo e discutir a cultura e as mazelas que ainda cercam a população negra.
Apesar do destaque dessas ações durante um mês inteiro, sobretudo para os movimentos sociais organizados que reivindicam por melhoria, os debates e execuções de projetos que visam esse objetivo ultrapassam os limites de novembro e se perpetuam durante todo o ano.
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DESCONSTRUINDO PARA EMPODERAR
Provendo oficinas itinerantes que acontecem o ano inteiro, ações de pertencimento e combate às opressões impostas pelas padronizações da beleza estética, o projeto sócio-educativo Pérolas Negras leva a autoestima e autocuidado para jovens e mulheres negras de periferias espalhadas pelo Brasil, por meio da Pedagogia da Abayomi.
Segundo a mestranda em Educação e uma das idealizadoras do projeto, Raissa Rosa, em quatro anos, o Pérolas Negras já atendeu mais de 1000 meninas em diversas partes do país e, atualmente, conta com ações que acontecem nas cidades de Viçosa, em Minas Gerais, e Salvador.
“Utilizamos métodos afetivos para trabalhar sentimento de pertencimento, representatividade, inteligência social e memória afetiva. Isso são passos para trabalhar estímulos, afirmação identitária e entendimento sobre o nosso corpo [enquanto mulher negra] para quebrar todos os estereótipos que são construídos socialmente em torno disso”, explica a pedagoga.
Em uma sociedade em que o padrões estéticos são estritamente moldados e apresentados, desde muito cedo, a todos, as meninas negras sentem o primeiro impacto do racismo em suas vidas a partir da não representação dos seus semelhantes, por exemplo, nas bonecas – que são geralmente brancas, loiras e magras.
Entendendo a problemática, a metodologia aplicada a partir da Pedagogia da Abayomi, busca resgatar essa autoestima perdida pela imposição dos sistemas estéticos que movimentam a sociedade.
Abayomi, que significa encontro precioso em iorubá, são bonecas de pano que eram feitas pelas mães africanas dentro dos navios negreiros, com pedaços de panos de suas saias, para proteger e trazer felicidade para as crianças. Resgatando a historia por meio da arte, a confecção das abayomis auxiliam no desenvolvimento sócio-emocional de crianças em período formal de educação que, com a aproximação familiar com as bonecas, se reconhecem e se identificam enquanto negras.
“Tudo que envolva a Pedagogia da Abayomi são metodologias para estimular o potencial de cada uma. É uma coisa que vai além da estética, é entender a partir do processo de pertencimento qual o verdadeiro o seu verdadeiro valor e assim conseguir liberar portas que a sociedade, o machismo, o racismo e a opressão bate”, pontua Raissa.
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Criado por incentivo da rede de empreendedorismo de mulheres negras “Apreendedoras”, o projeto Mulheres e criança primeiro desenvolve oficinas com fotografia, no qual o produto final é o despertar do autoconhecimento e elevação da autoestima dos participantes.
A responsável pela ação é a fotógrafa Katyana Marques, que desde março deste ano se entrega totalmente ao projeto. A partir da afirmação: “A beleza está nos olhos de quem vê”, Katyana realiza ações, especialmente com crianças, no descobrimento das suas identidades, através de fotografias e colagens.
“Eu trabalho muito a autoestima das crianças com as colagens. Porque eu sei o que a sociedade faz com a gente, até porque sou negra também. E através das ações de empoderamento e reconhecimento da identidade para não perder seus sonhos devido ao racismo. Já passei por isso e não quero que elas passem também”, afirma Katyana.
RESISTÊNCIA ATRAVÉS DA ARTE
São nos ônibus que circulam em Salvador que um grupo formado por jovens negros, e moradores da periferia, encontraram como forma de expressar a luta diária recorrendo a poesia marginal como forma de expressão.
O Grupo de Poesia Resistência Poética surgiu a partir da necessidade de levar a informação e provocar reflexão sobre assuntos que são pouco discutidos diariamente, mas que tem um grande impacto na vida da população negra.
Entre os assuntos que circulam nos versos fortes dos seis jovens que compõem o coletivo estão: racismo, machismo, discriminação e outros temas de cunho social, racial e econômico.
“O nosso público alvo são todos aqueles que estão inconformados com a realidade vivenciada e que possuem o desejo de promover mudanças. Os coletivos se tornaram nosso palco principal para realização das intervenções poéticas, buscamos através dos versos contundentes, provocar reflexões, chamar o público para o debate e fazer o mesmo, sair do lugar comum de mero espectador”, assim o coletivo se define.
Suas ações ultrapassaram as catracas dos ônibus. O coletivo já esteve presente na Bienal da UNE (União Nacional dos Estudantes) que ocorreu no Rio de Janeiro, em 2015, assim como do Festival Negra América que ocorreu em Salvador mais envolveu mais 4 países da América Latina.
Tais ações e grupos representam a luta contra o racismo. Não deve-se esquecer, porém, que cada uma das pessoas que vivem em sociedade têm o dever de respeitar o próximo. Para isso, o combate à intolerância não deve ser feito apenas em novembro, mas durante todos os meses do ano, 24 horas por dia.
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