PERFIL: Baiana, nova presidente assume UNE com apoio do PCdoB e esquivas por abandono de faculdade
PERFIL: Baiana, nova presidente assume UNE com apoio do PCdoB e esquivas por abandono de faculdade
Há seis anos à frente de manifestações pelo movimento estudantil, Marianna Dias, 25 anos, já via a liderança da União Nacional dos Estudantes (UNE) em seu horizonte desde que começou a pavimentar seu caminho pela política. Presidente eleita no último congresso da entidade octogenária, a jovem baiana tem a responsabilidade, pelos próximos dois anos, de ser o rosto e a voz de sete milhões de estudantes universitários, que se dividem entre os que a respeitam e os que a desprezam.
Cabeça da chapa ?Frente Brasil Popular: A unidade é a bandeira da esperança?, Marianna conquistou 79% dos votos, em eleição indireta, no 55º Congresso da Une, no dia 18 de junho, em Belo Horizonte (MG). Sua gestão será de continuidade, visto que ela pertence ao mesmo grupo político da antiga presidente, a paulista Carina Vitral, agora realocada em uma diretoria da instituição.
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O grupo político ao qual ambas, Marianna e Carina, integram (a União da Juventude Socialista, cuja maioria dos membros são ligadas ao PCdoB) compõe a hegemonia da UNE desde a década de 1990. Há oito anos consecutivos, a UJS ocupa a presidência da entidade.
É difícil identificar os personagens que disputam o complexo jogo que é a política estudantil. Na corrida pela presidência da Une, as chapas que ficaram na segunda, quarta e quinta posição todas tinham motes semelhantes, com reivindicações anti-Temer e pró-eleições gerais. A exceção ficou por conta da participação da Juventude Tucana, ala estudantil do PSDB, na chapa que levava o inofensivo nome ?Vem que a Une é nossa? — e que só conseguiu 3% dos votos na última plenária.
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Mesmo com o intuito de continuar o legado de Carina, a baiana é celebrada pelos seus pares como alguém de ?personalidade forte?, boa retórica e eficientes articulações. ?Ela que me ensinou a importância das mulheres e da juventude na política brasileira?, relata a presidente da União dos Estudantes da Bahia (UEB), Nágila Maria, de 24 anos.
A própria Marianna já foi presidente da entidade baiana no biênio 2013-2015, tendo posteriormente passado o bastão para Nágila. A atual presidente da UEB e recém formada em psicologia pela UFBA não disfarça a afeição que sente pela ?companheira?, tratamento próprio dos militantes de esquerda, aos moldes da política tradicional.
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Para Nágila, entre os feitos de Marianna Dias está uma série de lutas que culminou no programa ‘Mais Futuro’, do Governo do Estado, apresentado ao público na tarde da última quarta-feira (21/6), formulado em diálogo com os diretórios de várias instituições de ensino superior da Bahia. Nele, o governo oferece bolsas para universitários cadastrados no CadÚnico (sistema que reúne famílias que possuem meio salário mínimo mensal por pessoa), como forma de assistência estudantil.
?A educação transforma a vida das pessoas. É algo pelo qual sempre vai valer a pena lutar?, declarou a nova presidente, Marianna, em entrevista ao Aratu Online. Com a agenda atribulada, a jovem líder só pôde falar à reportagem por telefone, já dentro do avião que a levaria de Salvador à São Paulo, onde fica a sede da UNE e onde vive há dois anos para se dedicar exclusivamente à causa estudantil.
Sua escolha por preferir trancar seu curso de graduação, iniciado em 2009, para mergulhar de cabeça na política institucional, virou polêmica e um argumento para os que têm aversão à militância estudantil, frequentemente associada a partidos que caíram em desgraça na opinião pública nos últimos anos, como o Partido dos Trabalhadores (PT) e demais legendas que gravitam no campo da esquerda. ?A política exige muito da gente?, tenta justificar Marianna. ?Existem sacrifícios que a gente precisa fazer para levar nosso projeto adiante?.
DO OUTRO LADO DA TRINCHEIRA
O site O Antagonista — fundado por um Mário Sabino, ex-editor chefe da Veja, e Diogo Mainardi, ex-colunista da mesma publicação –publicou, no dia 19 de junho, uma nota na qual afirma que Marianna Dias desligou-se da Uneb em 2015, sem concluir a graduação em pedagogia. A matéria diz que chegou a acionar a assessoria da universidade, que confirmou a informação. O Aratu Online tentou checar o conteúdo do texto, mas nem a Uneb nem a própria Marianna comentaram o fato.
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Outra expoente ideologicamente contrária à Marianna, a jornalista baiana Priscila Chammas Dáu também se manifestou a respeito da polêmica envolvendo a graduação da nova presidente da Une. Em uma postagem no Facebook, denunciou aos seus quase 20 mil seguidores o que considera ser uma ?ironia do destino?.
?Marianna nos custou em torno de R$ 109 mil pelos 6 anos em que esteve na Uneb. Em troca do investimento, a sociedade deveria ter recebido uma pedagoga, mas recebeu uma militante do PCdoB que não concluiu os estudos?, disparou, referindo-se aos valores do orçamento da instituição para 2015.
Confira o post:
Ativa militante antipetista e pró-mercado livre, Priscila construiu um séquito fiel de seguidores com suas críticas à esquerda e aos políticos envolvidos em escândalos de corrupção. Em 2016, concorreu a uma das 43 vagas disponíveis na Câmara Municipal de Salvador encabeçando o movimento ‘Livres’ (de direita liberal) dentro da legenda PSL (Partido Social Liberal), mas terminou derrotada.
?Se o estudante não está pagando [pela universidade pública], é porque outra pessoa está. Não existe universidade grátis?, disse, em entrevista ao Aratu Online, fazendo sua própria versão da célebre frase popularizada pelo economista liberal Milton Friedman nos anos 1970 (?Não existe almoço grátis?).
O site O Antagonista e Priscila Chammas não são os únicos críticos à já mítica figura do ?militante profissional?, termo forjado para criticar estudantes tão envolvidos com o movimento estudantil que se tornam pouco assíduos nas salas aulas na faculdade. A secretária-geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da mesma Uneb de Marianna Dias, Michele Menezes, também já enfrentou estas críticas e acredita que elas não ?rasas, superficiais e nocivas? à compreensão da política estudantil.
?É um discurso clichê, usado pela direita, para deslegitimar nossa luta?, conclui Michele, que, desde sua entrada no curso de Relações Internacionais e no movimento estudantil, tem a nova líder da Une como uma das suas referências na política universitária.
Marianna prefere ignorar essas críticas, não se manifestando nas redes sociais sobre a polêmica, que, segundo ela, sempre volta a atingir os membros da União Nacional dos Estudantes. ?Aconteceu com Carina [Vitral, sua antecessora na presidência da Une], acontece comigo. Não é uma novidade. É um discurso feito para criminalizar a ação política?, defende-se. ?Mas nossa geração está mobilizada para mergulhar na política. Quero ver toda a juventude participando dos debates, das manifestações, sem medo de repressão?.
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