Caso que promotor morto investigava indicia presidente da Argentina, Cristina Kirchner
Caso que promotor morto investigava indicia presidente da Argentina, Cristina Kirchner
A Justiça argentina indiciou nesta sexta-feira (13) a presidenta Cristina Kirchner e o chanceler Héctor Timerman, suspeitos de terem acobertado os responsáveis pelo atentado ao centro comunitário judaico Amia, em 1994, que é considerado o pior na historia do pais. A denúncia foi feita no dia 14 de janeiro pelo promotor Alberto Nisman, responsável pela investigação do atentado. Na explosão, ocorrida há 21 anos, 85 pessoas morreram e mais de 300 morreram.
Nisman foi encontrado morto, com um tiro na cabeça, quatro dias depois da denúncia e às vésperas de comparecer ao Congresso para explicar o que o levou a fazer acusações tão sérias.
Passado quase um mês, a morte de Nisman ainda está sendo investigada, em meio a rumores envolvendo desde os serviços secretos argentino, norte-americano, israelense e iraniano até a presidenta Cristina Kirchner, além de aliados e opositores do governo. Ninguém sabe ainda se o promotor se suicidou, foi induzido a se matar ou foi assassinado.
Paralelamente à investigação da morte de Nisman, a cargo da promotora Viviana Fein, foi aberta outra, sob responsabilidade do promotor Gerardo Pollicita, para investigar a denúncia feita por Nisman, resumida em um relatório de 300 páginas. O documento, tornado público, foi redigido com base em escutas telefônicas obtidas com o apoio da Secretaria de Inteligência, que o governo acaba de reformar.
Hoje, Pollicita anunciou que vai investigar as acusações de Nisman, para comprovar sua veracidade. Além de Cristina Kirchner e Héctor Timerman, serão investigadas cinco pessoas, entre elas o deputado governista Andrés Larroque e o militante Luis D?Elia (que aparece varias vezes nas gravações, conversando com supostos agentes iranianos).
Nisman foi indicado para retomar as investigações do atentado à Amia pelo ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007). Ele abandonou a tese anterior, de que o atentado teria sido planejado pelo governo sírio, e acusou o Irã de ter arquitetado o ataque terrorista, com a ajuda do grupo xiita libanês Hezbollah. A pedido dele, a Interpol emitiu, em 2007, alertas vermelhos contra cinco iranianos ? dois deles ex-ministros de Estado.
A viúva e sucessora de Néstor Kirchner, a presidenta Cristina, sempre acusou Teerã de não cooperar com a Justiça argentina para investigar o atentado, até 2013. Naquele ano, o regime iraniano ? que sempre negou qualquer responsabilidade no ataque terrorista – aceitou falar sobre o assunto.
O governo desmentiu as acusações, alegando que o petróleo iraniano sequer pode ser usado nas refinarias argentinas, e tornou pública uma carta da Interpol, confirmando que a Argentina (mesmo depois de assinar o entendimento) pediu a manutenção dos alertas vermelhos. Mas a inesperada morte de Nisman mudou o cenário politico, em ano eleitoral.
No próximo dia 18, os promotores da Argentina vão promover a Marcha do Silêncio, em homenagem a Nisman, e já criticada duramente pela presidenta.