Cantos, encantos, axé: os marcos históricos que traduzem Salvador

O historiador Rafael Dantas, especialista na história de Salvador, detalhou alguns desses fatos mais marcantes

Por Bruna Castelo Branco.

Se a gente já acha que viveu muito e viu muita coisa antes dos 30, imagina uma cidade de 476 anos? A aniversariante do dia, Salvador, já protagonizou momentos históricos que mudaram o Brasil e o mundo: além de ter sido a primeira capital do país, Soterópolis, a Terra do Sol, já foi motivo de disputa entre outras nações e a principal responsável pela Independência do Brasil.

Para marcar os 476 anos da capital baiana, o historiador Rafael Dantas, especialista em Salvador, respondeu à seguinte pergunta: se você tivesse que apontar cinco momentos históricos para recontar a história da cidade, quais seriam? No final, foi tanta coisa que não deu para ficar só em cinco. "É difícil, porque são vários momentos de muita atuação, de muitas vivências, de muitas trocas", comentou ele. Confira, abaixo, os fatos levantados pelo historiador.

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Foto: Lucas Moura/Secom

Salvador e a chegada dos primeiros navios

"Primeiro, teria que elencar esse momento de início, né? Da chegada do então governador Tomé de Sousa, em março de 1549, para a criação da Fortaleza do Salvador, que se tornaria a cidade do Salvador", começou Dantas. De lá até aqui, a cidade nunca deixou de ter habitantes, e está entre as mais antigas continuadamente habitadas do continente americano, além de ser o primeiro município planejado do Brasil.

"Esse momento marca, evidentemente, o início da ocupação, e de todas as violências inseridas nesse processo, além da imposição do poder português", detalhou ele.

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Imagem: Arquivo Público

Salvador e invasão holandesa

Portugal tomou a Bahia dos povos originários que viviam aqui, e os holandeses quase tomaram Salvador de Portugal 75 anos depois da fundação da capital, em 1624. Em 9 de maio daquele ano, 26 navios e cerca de 3.400 holandeses chegaram à Bahia e, com o objetivo de enfraquecer os colonizadores ibéricos e fincar raízes por aqui para controlar a produção de açúcar, bombardearam Salvador, trazendo prejuízos à cidade.

Mas, menos de um ano depois, em março de 1625, uma armada luso-espanhola de mais de 50 navios pegou a cidade de volta.

Para Rafael Dantas, esse evento também está entre os mais importantes da nossa história. "Esse momento foi muito relevante, a reconquista da cidade do Salvador pelos portugueses e espanhóis, lá em 1625. Isso é algo muito significativo para recordarmos, que marcou a história e os rumos da cidade naquele contexto", destacou.

Foto: Atlas do Património Mútuo e da Biblioteca Nacional dos Países Baixos

Mudança de capital

Salvador carregou o título de capital do Brasil por 214 anos, até que, em 1763, o governo foi transferido para o Rio de Janeiro. A capital baiana havia sido primeiramente escolhida por estar na região Nordeste, que era a principal produtora de açúcar e pau-brasil, e pela facilidade de exportar os produtos no porto da cidade.

Mas, dois séculos depois, os interesses mudaram: agora, Portugal queria ouro, e a descoberta do metal e de pedras preciosas em Minas Gerais fez a coroa portuguesa levar o centro administrativo do Governo Geral do Brasil para o sudeste.

Foto: Ilustrativa/Pexels

Conjuração Baiana

A Conjuração Baiana, também conhecida como Revolta dos Alfaiates ou Revolta dos Búzios, foi um movimento de caráter libertário que aconteceu no final do século 18. Diferente da Inconfidência Mineira, considerada uma "revolta elitista", a Conjuração Baiana foi um movimento popular, com a participação de diversos segmentos da população, incluindo sapateiros, bordadores, ex-escravos, escravos e alfaiates.

Foto: Arquivo Público

Os participantes da revolta defendiam a independência do Brasil e maior igualdade racial, a criação de um governo republicano e democrático, além da abertura dos portos e do aumento dos salários para os soldados. "Foi um evento que marcou toda uma época", ressaltou Rafael Dantas.

Foto: Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo

Independência

Se a chegada dos colonizadores portugueses em Salvador mudou a história do país, da América Latina e do mundo, a saída, ou melhor, expulsão, também deixou um marco. A Independência do Brasil na Bahia aconteceu em 2 de julho de 1823, e até hoje é uma das principais datas comemorativas do estado, especialmente em Salvador e no Recôncavo Baiano.

"Toda a movimentação pela nossa independência aconteceu com a participação popular de negros e de diversos agentes, como mulheres, por exemplo", disse o historiador.

Foto: Bruno Concha/Ascom

Revolta dos Malês

A Revolta dos Malês foi um levante de escravizados que aconteceu em Salvador, em 24 de janeiro de 1835, e até hoje é considerada a maior revolta de escravizados da história do Brasil. O movimento foi realizado por africanos de origem muçulmana, conhecidos como "malês", que lutavam, de forma bem estruturada, contra a escravidão e à opressão nas fazendas. "Foi um levante extremamente significativo para a nossa história", comentou ele.

Foto: Agência Brasil

Uma nova cidade

Para terminar, vamos dar um pulo de 1835 para os anos 1960. Nesse período, Salvador passou por diversas reformas urbanas, e a Região Metropolitana ganhou um polo petroquímico, transformando a geografia, política e economia da região. "Foi um dos momentos mais significativos da história da cidade no sentido de se pensar uma cidade diferente", concluiu o historiador.

Hoje, o lugarzinho que começou como uma fortaleza, virou a primeira capital do império e se tornou palco das revoluções mais importantes do país, além de ser um berço de cultura, é a quinta maior cidade do Brasil - e o baiano sempre foi, e continua a ser, um povo a mais de mil.

Foto: Ilustrativa/Pexels

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