AVENIDA DO TRABALHO: No meio da folia, ambulantes fazem das ruas suas residências temporárias
AVENIDA DO TRABALHO: No meio da folia, ambulantes fazem das ruas suas residências temporárias
O mesmo Carnaval que é traduzido como símbolo profano para a maioria das pessoas se reflete como uma oportunidade de trabalho ímpar para aqueles que abrem mão da folia para faturar. Estar nos circuitos da alegria, para alguns, nada têm nada de diversão. É a oportunidade de faturar uma parte, ainda que irrisória, de todo o lucro e milhões movimentados durante a festa.
Este é o caso de Cilene Braga de Oliveira, que montou o seu ?quartel general? nas proximidades do Shopping Barra. Moradora do Bairro da Paz, ela não sai de lá desde a última quinta-feira (04/02), quando as atividades tiveram início, quase em padrão militar: ?A gente não está nem dormindo. É levando direto?.
O circuito vira, literalmente, morada temporária para essas pessoas. Isto porque eles não têm a estrutura necessária para recolher todo o material, diariamente, e trazê-lo de volta para os pontos de venda. O sacrifício, segundo Cilene, vale à pena. ?Tenho que levar o pão para casa? diz, utilizando um argumento ao mesmo tempo comum e inquestionável.
Trabalhadora da construção civil, ela tem quatro filhos criados com o seu marido, José Carlos, que dá todo o suporte nesta empreitada. E é com orgulho que eles viram a noite nas ruas, sem direito à diversão. ?Eu luto para dar aos meus filhos o que eu não posso ter. Só não dou luxo, mas o que eu não tive, dou?.
Schin x Skol Beats ? Ambulantes sofrem com a guerra de marcas
Mas as dificuldades estruturais estão longe de representar a pior parte do trabalho. Segundo Cíntia Campos, que também trabalha na Barra, a limitação à venda de uma única marca de cerveja tem se mostrado o maior dos obstáculos. ?Eles (os empresários) deveriam respeitar os direitos dos outros. Todo mundo vende escondido. A Skol Beats está pior do que droga, porque a droga é vendida ao ar livre?, desabafa.
A opinião é compartilhada por Cilene, que teve parte de sua mercadoria apreendida neste sábado (07/02) e terá que lidar com um prejuízo de aproximadamente R$ 200,00, fora as multas. “Eles (os fiscais) abrem nossa caixa, metem a mão dentro, puxam o material de baixo pra cima…isso é um desrespeito!?.
A medida, motivada pelo fato de a Schin ser uma das patrocinadoras oficiais do Carnaval, tem causado prejuízos aos comerciantes. ?Somos obrigados a vender Schin. Eles poderiam colocar a critério (do consumidor) e oferecer outros tipos de produto?.
Pelo visto, a luta dos ambulantes no Carnaval de Salvador vai muito além do que um olhar mais superficial possa notar. Na festa que movimenta uma quantidade incalculável de dinheiro, existem aqueles que lutam diariamente pelo mínimo de respeito e dignidade. Sem curtição, mas ainda assim, com um sorriso no rosto.