Renato Teixeira emociona ao lado do filho Chico durante apresentação intimista em Salvador
Renato Teixeira emociona ao lado do filho Chico durante apresentação intimista em Salvador
Imaginem o que é poder desfrutar de uma apresentação quase que exclusiva com um dos nomes mais fortes da música feita no Brasil ao longo dos anos. Pois é exatamente isso que acontece na Caixa Cultural de Salvador até o próximo domingo, dia 19. Em uma sala da casa localizada na Rua Carlos Gomes, oitenta pessoas a cada dia terão o privilégio de acompanhar uma apresentação bastante intimista do mito Renato Teixeira acompanhado por seu filho, Chico Teixeira. Mito por que Renato e sua sensibilidade são pais de algumas das canções mais representativas da cultura brasileira nas últimas décadas. Romaria, Tocando em Frente, Amizade Sincera… Clássicos que tocam fundo na alma do brasileiro são apresentados durante o show, que teve ingressos esgotados para todos os quatro dias de apresentações em apenas uma hora de vendas. Simples como os Teixeira e sua obra, o show tem pai e filho acompanhados unicamente por suas vozes e seus violões. Um deleite.
E, para melhorar a experiência, entre uma música e outra os dois contam histórias vividas no seio familiar, mas também fatos que marcaram a carreira de Renato, que ao longo da vida teve parcerias com nomes como Dominguinhos, Almir Sater e Sérgio Reis. O formato do show Pai e Filho foi apresentado pela primeira vez ontem em Salvador e traz canções de Renato, de Chico e parcerias entre os dois. Renato contou que tem uma relação muito querida com a capital da Bahia. Ele, nascido no litoral paulista, teve como inspiração para sua música um artista que, como ele, vivia em uma cidade litorânea que o inspirava a escrever belas canções. Este homem era Caymmi, e na apresentação de ontem Teixeira relembrou passagens de sua vida por Salvador e homenageou a cidade cantando, de sua autoria, a música Tem que Ter Dendê. Na estreia da turnê do espetáculo, o cantor Xangai, amigo de Renato e padrinho de Chico, estava na plateia e foi convidado a subir no palco para interpretar canções de sua autoria.
Ao fim do espetáculo, Renato Teixeira recebeu o Aratu Online e falou sobre a sua avaliação da música sertaneja produzida hoje no Brasil. Para ele, o país tem espaço para todas as manifestações culturais, mas a mídia precisa dar mais atenção a artistas que apresentem outro perfil musical. “Se discute muito a questão de conteúdo da música sertaneja e acho que isso é uma coisa cultural. Os meninos trabalham direito, montam excelentes equipes, fazem grandes espetáculos, são bastante profissionais. Eles fazem grandes shows e conseguem juntar uma multidão na frente deles. Mas se fosse um país com mais cultura, com mais educação musical… Aqui mesmo aconteceu. No período do início da MPB tínhamos uma geração com aulas de música nas escolas, o que não acontece mais. E isso empobreceu muito o país. Agora, só tem isso sendo produzido? Não. Eu e o Almir Sater, por exemplo, fazemos uma média de 15 shows por mês, a gente canta pra a 10, 20 mil pessoas sempre, então tem um mercado poderoso. É isso que interessa”, avaliou.
Questionado sobre a nova geração de artistas que apresentam uma música regional, como opção para quem procura algo diferenciado do sertanejo atualmente em destaque, Renato mencionou o trabalho do filho Chico e do movimento Folk, que tem ganhado espaço nacionalmente. “Tem um movimento acontecendo no Brasil todo que ganhou o nome de Folk, que é o que o Chico meu filho faz parte, tem várias bandas de São Paulo, você enche dez ônibus com compositores de Folk lá. Por causa do Chico, eu me aproximo bastante deles e tenho ouvido muito os trabalhos. Eu acho que a resposta está aí, são músicas com muito conteúdo, muito bem gravadas, uma coisa mais profissional, vamos dizer assim. Então a coisa tá boa. O que precisa é a mídia facilitar um pouco. Em vez de ficar discutindo inocuidades prestar mais atenção no que está acontecendo. Eu e o Almir fizemos um disco agora… A gente faz o disco no amor mesmo, a gente gosta de fazer música junto. E não tem nenhum intenção quando a gente senta pra compor que não seja compor. Acho mais interessante você procurar o que tem do que não gostar do que ouve e vê. Achar que acabou aí é um grande engano. Tem muito mais coisas por traz desse tipo de música. Agora negar valor pra essa moçada sertaneja que conseguiu tudo isso, como? Não dá”.
Originalmente, o espetáculo apresentado ontem por Renato e Chico chamava-se Pai e Filhos, pois tinha a participação de João Lavraz, também filho de Renato que faleceu no final de 2014. “João, meu filho, faleceu ano passado e é uma ausência eterna. De alguma forma ele está sempre presente por que sempre tocou com a gente. Espiritualmente ele tá junto”. Em relação à carreira de Chico, Renato, que tem outros dois filhos e seis netos, afirma acompanhar, mas evitar interferir. “O Chico já fez o CD dele que se chama Mais que um Viajante. Eu não dou muito palpite. Ele tá fazendo bastante shows. Fazendo do jeito dele, e eu acho bonito”. Renato vem de uma família de músicos e afirmou que seus netos também já estão no caminho, formando a sétima geração de artistas.
Após deixar Salvador, a turnê do show pai e Filho segue para Minas Gerais e continuará rodando o país até o final de 2015. Paralelamente, Renato Teixeira segue com outros projetos, como seu show próprio, além do Amizade Sincera, ao lado de Sérgio Reis. “Eu faço mais pelo prazer. Não tem nada mais agradável, uma sala com um som legal, o público… Pro nosso lado artístico é uma beleza”, conclui.
Pra você que não conseguiu garantir um ingresso para o show, o Aratu Online gravou uma parte da apresentação, na qual pai e filho interpretam Tocando em Frente. Aprecie: