Cidadania

Pode, Waldir? Quando Gil tentou se candidatar a prefeito e terminou como o vereador mais votado de Salvador

Colunista On: Onã RudáAtivista antirracista e LGBTQIAP+, é fundador da Torcida LGBTricolor, do Bahia
Pode, Waldir? Quando Gil tentou se candidatar a prefeito e terminou como o vereador mais votado de Salvador

Foto: Márcio Lima/divulgação


Muita gente não sabe, mas Gilberto Gil tentou ser prefeito de Salvador. No retorno à capital baiana, em 1987, ele se filiou ao MDB e lançou a ideia. Era o artista negro mais popular do Brasil, com forte adesão na cidade, mas os políticos conservadores barraram a sua candidatura. Ele contou que, em conversa com Waldir Pires, então governador da Bahia, ele teria dito que a candidatura de Gil "implodiria" o MDB, porque ele era presidente da Fundação Gregório de Matos (FGM) e defendia pautas que, na época, não tinham muita adesão, como o meio ambiente. 


Gil queria compatibilizar a Salvador profunda e histórica com a Salvador moderna. Um equilíbrio entre as duas cidades. Mas, apesar de passar a usar terno e fazer diversas ações políticas, a candidatura a prefeito não aconteceu. Ele lançou a candidatura a vereador, e no primeiro dia de propaganda na televisão, foi exibido um longo clipe da música que era um verdadeiro "soco" em Waldir Pires. 


Confira a letra, abaixo:


Pra prefeito, não

Pra prefeito, não

E pra vereador:

Pode, Waldir? Pode, Waldir? Pode, Waldir?


Prefeito ainda não pode porque é cargo de chefia

E na cidade da Bahia

Chefe!, chefe tem que ser dos tais

Senhores professores, magistrados

Abastados, ilustrados, delegados

Ou apenas senhores feudais

Para um poeta ainda é cedo, ele tem medo

Que o poeta venha pôr mais lenha

Na fogueira de São João


Se é poeta, veta!

Se é poeta, corta!

Se é poeta, fora!

Se é poeta, nunca!

Se é poeta, não!


O argumento é que o momento é delicado

E prum pecado desse tipo

Pode não haver perdão

Mudança é arriscado, muda-se o palavreado

Mas o indicado

Isso ele não muda, não

O indicado deve ser do tipo moderado

Com um mofo do passado

Peça do status quo


Se é poeta, veta!

Se é poeta, corta!

Se é poeta, fora!

Se é poeta, nunca!

Se é poeta... oh!


O certo poderia ser o voto no Zelberto

Mas examinando mais de perto

Ele tem que duvidar

A dúvida de que a Bahia tenha um dia tido a primazia

De nos dar folia

De nos afrocivilizar

Pra ele civilização é a França que balança

No seu peito de homem direito

Homem de jeito sutil


Se é poeta, veta!

Se é poeta, corta!

Se é poeta, fora!

Se é poeta, nunca!

Se o poeta é Gil!


Pra prefeito, não

Pra prefeito, não

E pra vereador:

Pode, Waldir? Pode, Waldir? Pode, Waldir?


🎧 Ouça aqui


REPOSTA


Waldir Pires, que negou ter vetado o nome de Gil, respondeu com uma outra música: "Quem te viu, quem te vê... Se não é mais Gil, que bicho é você?".


RESULTADO


Gil foi eleito o vereador mais votado da cidade, com 11.111 votos. Passados quatro anos, ele não tentou a reeleição, mas você já pensou que sensacional seria ter Gilberto Gil prefeito da capital mais negra do mundo, fora da África?


*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.


Importante: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do Aratu On.

Onã Rudá

Onã Rudá

Onã Rudá é nordestino, filho de Odé, ativista antirracista e LGBTQIAP+. Ele também é midiativista e fundador da Torcida LGBTricolor, do Bahia.

Instagram: @onaruda2

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