No fundo, ninguém está bem (e isso é normal)
Wesley Safadão, Baco Exu do Blues e Richarlison. O que esses nomes têm em comum? Todos eles admitiram, ao longo deste mês, que estão enfrentando dificuldades para cuidar da própria mente. Safadão chegou a suspender a sua agenda, enquanto Baco pediu a compreensão dos fãs após sofrer críticas em um show em Pernambuco. Richarlison, por sua vez, foi visto chorando em um jogo da Seleção Brasileira, e logo depois admitiu que buscaria ajuda psicológica.
Outro caso que chamou atenção foi o da ex-jogadora de vôlei Walewska Oliveira, que morreu após cair de um prédio no último dia 21. Em uma de suas últimas postagens nas redes sociais, ela escreveu sobre a pressão que o mundo exerce para que estejamos felizes o tempo todo, como se isso fosse possível. “Essa pressão pode ser extremamente assustadora e nos gerar culpa caso a gente se sinta em desacordo com o resto da sociedade”, concluiu.
Casos como esses nos permitem refletir e chegar a uma conclusão muito direta: no fim das contas, ninguém está bem o tempo todo. Mesmo quando se trata de artistas e atletas, pessoas que muitas vezes nos conquistam pela simpatia, no fundo, sempre existem pressões, medos e inseguranças. E eu acredito que o caminho não passa por negar esses sentimentos e reprimi-los, mas sim pela compreensão de que eles fazem parte da vida e que precisamos conversar sobre isso.
Existe uma situação muito comum do nosso cotidiano que, para mim, ilustra bem como a gente aprende a não falar sobre os nossos sentimentos. Quando alguém lhe faz uma pergunta do tipo “tudo bem?” ou “como vai você?”, quantas vezes você dá uma resposta automática dizendo que está bem, mesmo que não seja totalmente
verdade? Somos ensinados culturalmente a agir dessa maneira, e esse é um comportamento que só reforça o tabu em torno dos debates sobre saúde mental.
Nas tradições orientais, cujos ensinamentos têm sido cada vez mais popularizados no Ocidente, a noção de que o sofrimento faz parte da vida é algo bem estabelecido há séculos. Os budistas, inclusive, criaram um conceito específico para isso, chamado dukkha. Assim, admitindo a existência de um estado mental que pode nos deixar desconfortáveis, eles entendem que estão mais perto da iluminação.
Eu costumo escrever que, para resolver um problema, antes é necessário reconhecê-lo. É por isso que eu penso ser tão importante que a gente comece a naturalizar as conversas sobre saúde mental, porque elas podem ser uma fonte de alívio para quem está passando por algum tipo de sofrimento. Sem contar que, ao ter coragem de se abrir com alguém, você pode acabar descobrindo que a outra pessoa também passa por algo parecido e ajudá-la a lidar com a situação.
Também é importante lembrar que existem serviços baratos, ou até mesmo gratuitos, que podem ajudar quem precisa de apoio profissional. O Centro de Valorização da Vida atende 24 horas por dia, por meio de chat e ligação telefônica, de forma gratuita. Há também a Rede de Apoio Psicossocial, braço do SUS que você pode ter acesso em qualquer Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). Por fim, recomendo o Mapa Saúde Mental, site que reúne uma lista de clínicas e psicólogos que trabalham voluntariamente ou que cobram valores sociais.
Vivemos sob uma cultura que nos diz que precisamos estar bem o tempo todo, exibindo a vida perfeita nas redes sociais. E isso nos leva a acreditar que se sentir vulnerável ou inseguro é algo anormal, que não pode ser demonstrado. Mas a mensagem que quero deixar com esta coluna é que não há nada de errado em ter esse tipo de sentimento, porque todo mundo tem. Se a gente começar a falar mais sobre isso, tenho certeza que o nosso mundo se tornará um lugar mais saudável e acolhedor para todas as pessoas.
*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.