Em memória do meu tio-avô Pedrito, que morreu na fila da regulação
Quando uma pessoa morre na fila da regulação, é sinal de que há algo de muito errado na gestão da saúde do nosso estado. Foi assim que, há pouco menos de dois meses, eu e meus familiares fomos tomados pelo sentimento de dor com a perda de um ente querido. O meu tio-avô Pedrito faleceu na fila de uma UPA, onde estava há mais de 15 dias aguardando pela regulação. A nossa tristeza veio acompanhada de uma profunda revolta pela falta de celeridade do sistema de saúde. E, assim como o meu tio, quantos baianos e baianas já perderam suas vidas enquanto esperavam por um atendimento médico especializado?
A questão da regulação foi um dos temas mais debatidos ao longo do ano passado, sobretudo no segundo semestre, e continua sendo um problema constante na realidade das pessoas que mais precisam, com as quais convivo diariamente. Não se trata, portanto, de um desafio novo ou desconhecido para os gestores estaduais. É algo que já é motivo de queixas por parte da população há bastante tempo – e, portanto, não há mais desculpas para continuar fingindo que a situação simplesmente não existe.
O atual governador já está entrando no seu quarto mês de mandato. São quase 100 dias de governo. Compreendo que alguns problemas, quando são de caráter mais estrutural, demandam um período maior para que sejam plenamente resolvidos. Também entendo, porém, que já se passou tempo suficiente para a nova gestão tomar conhecimento dos problemas e desafios do nosso estado, especialmente aqueles que são sempre debatidos, e apresentar algum sinal de melhora.
Além da regulação, outras áreas continuam chamando atenção de forma negativa. O que foi feito para diminuir a insegurança que sentimos diariamente ao sair de casa? O que vimos, até agora, foi a mesma rotina de mortes violentas e brutais sendo noticiadas, semana após semana, nos jornais. Não adianta investir apenas em equipamentos novos se, enquanto isso, os nossos agentes de segurança não são devidamente valorizados e não encontram boas condições para que exerçam seu trabalho.
Nas andanças que faço pela cidade, muitas pessoas me abordam para reclamar de situações que deveriam ser resolvidas pelo Estado, e sempre lamento por não poder fazer muita coisa. Também foi assim que me senti quando vi a minha família sofrendo pelo nosso tio-avô. Mas uma das coisas que posso fazer é usar a minha voz para ecoar o clamor de quem sofre todos os dias. E espero, de coração, que os responsáveis pela nova gestão adquiram o chamado “diploma de realidade”, para que assim entendam a urgência de resolver determinados problemas.
Em memória do meu tio-avô Pedrito
*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.