A pandemia agravou as desigualdades sociais
Crédito: Mateus Pereira/GovBa
Não tem sido fácil acompanhar a escalada da desigualdade social no Brasil neste um ano e alguns meses de pandemia. Olho à minha volta e vejo o quanto as famílias da comunidade que nasci, cresci e vivo até os dias de hoje têm sofrido com impactos mais fortes na diminuição de renda e bem-estar. Não que as coisas por aqui já tenham sido fáceis algum dia, mas agora tudo tem ficado ainda mais difícil.
Quem vivencia essa realidade com maior proximidade, geralmente, consegue ter uma dimensão maior do quanto o cenário social no Brasil tem sido ainda mais dramático nesses últimos tempos. Acompanhar os noticiários também nos traz uma noção aprofundada do quanto os brasileiros têm sofrido com a redução da qualidade de vida e ampliação das dificuldades.
Não são poucos os estudos noticiados na imprensa que indicam o quanto o bem-estar social dos brasileiros(as) pioraram. Um estudo divulgado pela FGV Social em junho deste ano(2021) aponta que os indicadores de felicidade estão no menor ponto da série histórica em nosso país. E a parte da população que mais tem sido atingida por essa realidade é a parcela mais pobre da sociedade.
A pandemia do coronavírus amplificou as desigualdades da população mais vulnerável do Brasil e as ações imediatas para gerar proteção social a esses grupos foram negligenciadas por muitos governantes brasileiros, sobretudo no âmbito federal.
Por isso, nosso país que sempre foi um dos mais desiguais do mundo, agora, nesse contexto de pandemia, conseguiu tornar as diferenças ainda mais evidentes. Se antes da pandemia, milhões de brasileiros já sofriam com a falta de serviços básicos, atualmente, a triste prática de cozinhar com fogão a lenha, por exemplo, voltou a ser comum em nosso país. Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a utilização de lenha já é a segunda fonte de energia mais utilizada no Brasil, ficando à frente do gás liquefeito de petróleo (GLP).
Essa dura realidade do passado que volta a assombrar as famílias brasileiras atualmente é só mais um dos acontecimentos que revelam a situação caótica que estamos atravessando. Juntamente a isso, presenciamos o Brasil voltando ao mapa mundial da fome, tendo cerca de 19 milhões de pessoas literalmente passando fome e outras 119 milhões em insegurança alimentar.
Enquanto isso, não vemos a atual gestão federal coordenando uma ação bem planejada para diminuição da desigualdade, com projetos econômicos voltados para geração de emprego e renda. Ao invés disso, acompanhamos a extinção do bolsa-família, um programa de estado que há mais de 20 anos evita o desamparo de milhares de brasileiros(as). Encerra-se o bolsa-família para implementar um auxílio provisório até o fim do ano que vem ao custo de furar o teto dos gastos e dar calote nos precatórios, tudo isso por motivações puramente eleitoreiras.
Desse modo, é sempre importante registrar que, o atual governo não cuidou da saúde dos brasileiros e nem apresentou projetos econômicos efetivos para enfrentarmos essa crise pandêmica. E o resultado estamos vendo agora: alta do desemprego, fome, redução da renda e do poder de compra devido à hiperinflação.
É fato que o poder público teria um papel fundamental no enfrentamento das desigualdades ampliadas pela pandemia. Porém, não temos um governo federal interessado e com capacidade para mudar muita coisa nesse panorama. E diante de toda essa negligência administrativa, um dos caminhos que tem sido muito comum e ganhado corpo nessa pandemia são os atos de solidariedade.
Por todo o país se multiplicaram as ações para doação de alimentos e recursos para a população mais vulnerável. Ainda que sejam medidas paliativas, são ações que podem atenuar o drama de muitas famílias brasileiras. Espero que esse sentimento de união e empatia perdure por longos anos para mudarmos essa difícil realidade da desigualdade. Não podemos desistir da nossa força de mobilização para enfrentar os problemas sociais, seja com atos políticos e também com ações de solidariedade.
*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.