Cidadania

Agosto Lilás conscientiza e salva vidas

Colunista On: Isabela SousaAtivista pela redução das desigualdades e fundadora do Move Bahia
Agosto Lilás conscientiza e salva vidas

Foto: ilustrativa/Pexels

 


Não foram poucas as vezes que recebi ou ouvi questionamentos irônicos sobre o motivo de existirem campanhas pelo fim da violência contra as mulheres. Para algumas pessoas, parecem ser questionamentos surreais diante dos inúmeros casos de violência expostos diariamente. Porém, esta é a realidade de uma sociedade estruturada em relações machistas que naturaliza qualquer prática de agressão às mulheres.


Pesquisas em todo mundo indicam, recorrentemente, que o Brasil é um dos países mais violentos do mundo para as mulheres. Um alerta que nos diz que ainda precisamos avançar muito em campanhas de conscientização para combatermos a violência contra todas nós. Só para termos uma base estatística, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), o Brasil ocupa o 5º lugar no ranking mundial de feminicídio.


É sempre importante relembrarmos que o feminicídio se refere ao assassinato de mulheres e meninas por questões de gênero, ou seja, em função do menosprezo ou discriminação por sermos do gênero feminino. E neste quesito, nosso país só fica atrás de El Salvador, Colômbia, Guatemala e Rússia que também possuem números alarmantes de assassinatos de mulheres.


Neste presente mês, temos uma importantíssima campanha de  enfrentamento à violência doméstica e familiar contra a mulher que é nomeada por ‘Agosto Lilás’. Apresentando-se como um conjunto de ações e atividades por todo país, a campanha busca intensificar a divulgação da Lei Maria da Penha, sensibilizar e conscientizar a sociedade sobre o necessário fim da violência contra a mulher. Além disso, o ‘Agosto Lilás’ impulsiona a divulgação de serviços especializados da rede de atendimento à mulher em situação de violência e os mecanismos de denúncia existentes.


E tão importante quanto estimular a conscientização da sociedade sobre essa trágica realidade violenta, é preciso tornar compreensível os tipos de violência que as mulheres sofrem. Afinal de contas, não é incomum ouvirmos relatos de mulheres demonstrando desconhecer que determinada ação que sofreu durante anos se tratava de um crime suscetível a enquadramento na Lei Maria da Penha. 


Para ampliarmos esse entendimento, é sempre essencial destacar os cinco tipos de violência doméstica e familiar contra a mulher que estão previstos na Lei Maria da Penha. São elas: 


1 - A violência física, que é considerada como qualquer ato que ofenda a integridade ou saúde corporal da mulher;

2 - A violência psicológica, que é tida como qualquer conduta causadora de dano emocional, diminuição da autoestima, prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento da mulher ou vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões;

3 - A violência sexual, que é toda conduta que mediante intimidação, ameaça ou uso da força para presenciar, manter ou participar de relação sexual não desejada;

4 - A violência patrimonial, entendida como  toda conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;

5 - A violência moral, que é  considerada qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.

Para muitas dessas violências, o primeiro sinal inicia-se através de falas agressivas que tentam nos intimidar ou menosprezar. Logo, é crucial estar ciente de quando tudo se inicia para tentar evitar desdobramentos mais agressivos ou fins ainda mais trágicos que ampliam as estatísticas do feminicídio no Brasil. 


Infelizmente, em pleno 2021, ainda presenciamos muitas dessas situações abusivas. Inclusive em ocorrências envolvendo  personalidades públicas manifestando-se de forma agressiva contra nós mulheres. São falas que estimulam e legitimam, ainda mais, a conservação de uma sociedade violenta para todas as mulheres por virem daqueles que deveriam dar bons exemplos à população. 


Recentemente  tivemos um péssimo exemplo com o Secretário estadual da Saúde na Bahia, Fábio Vilas - Boas, agredindo verbalmente uma empresária e Chef de cozinha. São expressões que desumanizam e acabam por colocar a mulher em posição de subalternidade para ser violentada.


Por isso, a existência de campanhas que tragam conhecimento sobre essa infeliz realidade para as mulheres é fundamental para caminharmos em favor de uma sociedade que garanta uma vida digna para todas. Além disso, o ‘Agosto Lilás’ é decisivo para que pessoas próximas das vítimas possam auxiliá-las assim que perceba situações de violência. 


Existem diversos serviços públicos especializados de atendimento à mulher em situação de violência. E, quanto mais pessoas tiverem ciência desses locais, melhor será para construirmos uma sociedade livre dessa cruel realidade. Para acessar mais informações sobre esses serviços basta clicar aqui.


Importante lembrar também que muitas mulheres diante desse cenário de agressão ficam emocionalmente fragilizadas e impossibilitadas de pedir ajuda. Ter alguém próximo ciente desses quadros violentos com empatia para estender a mão, ser paciente para ouvir e acolher também salva vidas. Afinal, ‘em briga de marido e mulher, a gente salva a mulher!’ 


*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.


Importante: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do Aratu On.

Isabela Sousa

Isabela Sousa

Ativista pela redução das desigualdades, filha mais velha de quatro irmãos e fundadora do Move Bahia. Essa é Isabela Sousa, uma jovem de Campinas de Pirajá que cresceu sentindo na pele as dificuldades de uma realidade periférica de Salvador. Hoje, é uma formanda em Direito que sonha pela igualdade de oportunidades e tem a educação como pilar das transformações que a sociedade precisa. Aos 25 anos, Isabela já foi embaixadora do movimento Mapa Educação, é Líder Estadual do Movimento Acredito e representou o Brasil no maior congresso de jovens líderes do mundo, o One Young World, em Londres.

Instagram: @isabelasousaba

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