Cidadania

Olimpíada emociona e traz reflexões

Colunista On: Isabela SousaAtivista pela redução das desigualdades e fundadora do Move Bahia
Olimpíada emociona e traz reflexõesBaiana Ana Marcela, ouro na Maratona Aquática na Olimpíada de Tóquio 2020, abraça o técnico, Fernando Possenti | Crédito: Jonne Roriz/COB

As Olimpíadas são consideradas o maior evento esportivo do mundo. Capazes de proporcionar momentos marcantes de disputa, superação e inspiração em meio ao convívio de respeito e confraternização entre povos de culturas tão diferentes. 


É difícil não se emocionar ao assistir competições em que atletas demonstram toda sua garra para vencer. Ao mesmo tempo em que esses esportistas expõem seu espírito esportivo para aceitar uma derrota com dignidade, também sabem comemorar grandes feitos com empatia e humildade.


E o que mais temos presenciado nestas Olimpíadas de Tóquio são cenas emocionantes da superação de atletas brasileiros(as). Situações que nos trazem alegria, esperança e, também, reflexões sobre toda luta que eles(as) enfrentam para chegar até ali. 


Se em um cenário sem pandemia, muitos atletas brasileiros(as) já tinham dificuldades para alcançar um nível extremamente competitivo, agora,  durante esse período de crise, a preparação se tornou ainda mais complicada.


Não faltam relatos de esportistas revelando falta de incentivo para seguir em busca do sonho de se tornar um atleta olímpico, principalmente das modalidades menos prestigiadas. Pepê, que é atleta de canoagem, por exemplo, relatou as dificuldades enfrentadas pelo esporte e que precisou desembolsar cerca de 100 mil reais do próprio bolso para chegar às olimpíadas deste ano. O desabafo de Pepê foi realizado logo após encerrar a competição na penúltima colocação da etapa na canoagem slalom.


Nossa Rainha Marta também fez uma importante reflexão sobre a pressão por resultados e falta de estrutura no futebol feminino brasileiro após a desclassificação da seleção nas Olimpíadas. Craque dentro e fora dos campos, ela fez questão de afirmar que, “o peso de quem não trouxe a medalha não é das jogadoras. É de quem não investe no futebol feminino”. Lamentavelmente, o futebol feminino no Brasil sempre sofreu com o descaso.


Certamente, os atletas brasileiros(as) enfrentaram o pior momento para alçar voos mais altos em esportes olímpicos nos últimos anos. Além das restrições para treinar durante a pandemia, muitos encaram a dura realidade da redução de apoio público, a ausência de patrocínios e uma distribuição desproporcional da verba entre as diferentes modalidades e fases do desenvolvimento esportivo. Ou seja, o que já não era ideal, ficou ainda mais desfavorável. 


Para termos uma ideia, o Programa Bolsa Atleta, que consiste em um programa de auxílio financeiro para que atletas se dediquem integralmente ao esporte, sofreu uma queda de 17% em seu orçamento total durante o ciclo olímpico 2017-2021 em relação ao período anterior. Foi a primeira vez que houve essa redução desde a criação do programa federal, em 2005.


Além dessa redução no auxílio financeiro, soma-se ao quadro de desmonte dos programas, as recentes mudanças na organização da gestão do esporte no país. Entre elas, a perda do Ministério do Esporte, que hoje é uma Secretaria subordinada à pasta de Cidadania. O que implica numa perda de braços para lidar com o esporte no Brasil.


Entretanto, mesmo diante de tantos contratempos, os Jogos Olímpicos de Tóquio vêm rendendo bons frutos ao Brasil. É o melhor início de Olimpíada para o país. Foram cinco medalhas em quatro dias de competições em Tóquio. Importante destacar também, que, as mulheres estão dando show e conquistaram a maioria das medalhas até o momento. Mas, independente da cor da medalha ou lugar no pódio, o importante mesmo é reconhecermos a distância percorrida e a transformação que o esporte é capaz de realizar na vida de milhares de pessoas. 


Em um país onde a desigualdade social é tão acentuada como o nosso, o esporte acaba por apresentar-se para milhares de pessoas como um único mecanismo de transformação social que ameniza problemas históricos. Portanto, seria de fundamental importância que tivéssemos políticas públicas mais robustas e efetivas para o esporte a fim de servir como um combustível que transforma realidades.


Já pensou quantas ‘Rebecas’, ‘Rayssas’, ‘Anas Marcelas’, ‘Bias Ferreiras’ e tantas outras atletas das olimpíadas podemos ter espalhadas pelo Brasil com muito potencial à espera de uma oportunidade ou incentivo para  dedicar-se ao esporte?


Inclusive, é preciso perceber também que investir no esporte não deve ser pensando, apenas, na formação de atletas profissionais. Até porque, a prática do esporte de forma amadora também ajuda a promover a convivência em grupo, o crescimento pessoal, a construção de trabalhos coletivos, o aprimoramento da disciplina, o respeito ao próximo e a outros aspectos da sociabilidade.


A realidade é que, em muitos dos casos, nossos(as) atletas fazem ‘das tripas coração’ para disputar as Olimpíadas e ainda conquistar medalhas. Merecem todo nosso respeito, admiração e que nos juntemos a eles (as) na busca por um país mais comprometido com o incentivo ao esporte. Assim, poderemos sonhar com voos mais altos, seja com melhores resultados esportivos nos Jogos Olímpicos ou com uma sociedade mais justa, tendo o esporte como uma ferramenta importante nesta transformação. 


*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.


Importante: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do Aratu On.

Isabela Sousa

Isabela Sousa

Ativista pela redução das desigualdades, filha mais velha de quatro irmãos e fundadora do Move Bahia. Essa é Isabela Sousa, uma jovem de Campinas de Pirajá que cresceu sentindo na pele as dificuldades de uma realidade periférica de Salvador. Hoje, é uma formanda em Direito que sonha pela igualdade de oportunidades e tem a educação como pilar das transformações que a sociedade precisa. Aos 25 anos, Isabela já foi embaixadora do movimento Mapa Educação, é Líder Estadual do Movimento Acredito e representou o Brasil no maior congresso de jovens líderes do mundo, o One Young World, em Londres.

Instagram: @isabelasousaba

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