Já pensou se todos tivessem igualdade de condições e oportunidades?
Crédito da foto: ilustrativa/Pexels
Em abril deste ano, conhecemos a história de dois estudantes baianos que deram um show no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e tiraram notas excelentes na redação. Helder dos Santos Lima, do município de Xique-Xique, tirou a nota máxima, 1000, e Matheus de Araújo Moreira Silva, da cidade de Feira de Santana, não ficou muito atrás e atingiu 980 pontos na redação.
Além de mandarem muito bem no Enem, o que ambos têm em comum é a origem humilde e uma trajetória de muita superação. Mesmo com todos os contratempos pela falta de acesso a uma educação de qualidade, moradia com muitas limitações e até falta de energia elétrica para estudar, eles alcançaram resultados incríveis. No entanto, são resultados inviáveis para outros tantos brasileiros por conta da falta de condições adequadas de ensino e da desigualdade social.
Essas notícias de superação são, sobretudo, um alento de esperança no cenário de hoje, em que presenciamos muitas notícias tristes devido à má condução da crise pandêmica no âmbito federal. Entretanto, esses casos também nos trazem reflexões e alguns questionamentos sobre a desigualdade de oportunidades e a precariedade da educação no Brasil e na Bahia.
Jovens como Helder e Mateus certamente irão inspirar centenas de outros jovens, além de transformar suas próprias realidades e a de muitos que estão ao seu redor. Porém, não podemos romantizar a precarização da educação e a desigualdade de condições que inviabilizam a geração de oportunidades.
Assim como esses dois baianos foram submetidos a muitas restrições e dificuldades para alcançarem esses resultados, milhares de outros jovens de origem semelhante também vivenciam condições precárias e, por algumas outras vulnerabilidades a mais, não conseguem dar continuidade nos estudos para seguir em busca dos seus sonhos.
Em nosso estado, por exemplo, são registrados índices muito ruins na educação. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2019, divulgado no ano passado, apontou que a Bahia teve o terceiro pior desempenho do país entre os alunos do Ensino Médio. Já nos anos finais do Ensino Fundamental, nosso estado ocupou o penúltimo lugar no ranking nacional.
E se antes da pandemia a educação já não estava boa por aqui, agora, ou pelo menos durante grande parte dessa crise sanitária, a situação ficou ainda mais complicada. Em um ranking brasileiro de educação pública à distância durante a pandemia elaborado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), a Bahia ficou em último lugar. De acordo com o relatório da FGV, o estado tirou nota zero na pesquisa porque não apresentou nenhum programa de ensino no ano passado.
Além de muitos outros estragos, a pandemia aprofundou a precariedade da nossa já combalida educação. E, diante desse cenário, eu me questiono: quantos jovens brilhantes espalhados pela Bahia não conseguem explorar plenamente os seus talentos por causa do acesso precário à educação e outras debilidades sociais?
Se com poucos recursos o nosso estado já revela talentos como Helder e Mateus, muito por conta das suas genialidades e esforços homéricos, imagine com o investimento adequado em educação e redução de desigualdades sociais. Tenho certeza que teríamos uma sociedade muito mais justa, digna e igualitária.
Sei o quanto a educação transformou a minha vida e possibilitou que eu pudesse alçar voos mais altos. Da mesma forma, acredito que a educação irá transformar as realidades de Matheus, de Helder e de muitos outros jovens. Por isso, acredito ser fundamental lutar por um ensino de qualidade que viabilize a igualdade de condições e oportunidades. Bons resultados na educação, como a desses dois jovens baianos, não podem ser exceções. Eles precisam ser a regra.
*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.