Censo sem consenso
Dia 26 de março de 2021, uma notícia abalou os bastidores dos pesquisadores no Brasil: foi anunciado o corte de mais de 90% no orçamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Quase um mês depois, na última sexta-feira, 23 de abril, o Ministério da Economia confirmou o cancelamento do Censo Demográfico em 2021 por “falta de recursos”, derrubando, assim, a continuidade histórica do estudo.
Diante da pandemia, quando mais de 380 mil pessoas já morreram, surgem ainda mais perguntas que vão precisar de respostas e planos emergenciais.
É fundamental entender o perfil da população e as estruturas que a cerca. Quem são as pessoas que estão passando fome? Quem são as pessoas que foram mais atingidas pela pandemia? Onde elas moram? Em que condições elas moram? Qual é a raça que elas têm? Qual nível de escolaridade? Gênero? Idade?
O Censo é a pesquisa mais importante no Brasil. A não realização do Censo tem um impacto profundo na vida dos cidadãos. Apesar de muita gente nunca ter visto o Censo, nunca ter analisado o Censo, ele é responsável pelo desenho das políticas públicas que a gente tem no Brasil e orienta decisões de grandes corporações.
Os grandes institutos de pesquisa já estavam falando sobre isso, alertando sobre o perigo de cortes no Censo e, agora, em 2021, corta-se praticamente todo o orçamento do IBGE, seguido do seu cancelamento. Isso é muito grave, porque perderemos a historicidade do Censo e será praticamente impossível conhecer e compreender, com assertividade, as nossas variáveis e os nossos indicadores brasileiros de 10 em 10 anos.
A última informação que a gente tem sobre todo o Brasil e todos os brasileiros já tem 11 anos e não condiz mais com a realidade atual. Nos últimos dez anos, a gente teve um decréscimo de renda muito importante da população, por exemplo.
Eu, assim como demais pesquisadores sérios que atuam em solo nacional, tenho no Censo minha principal fonte de informação. O Censo do IBGE coleta dados da população e permite traçar um retrato abrangente do país. Além da contagem populacional, a pesquisa traz dados sobre condições de vida, emprego, renda, acesso a saneamento, saúde e escolaridade, entre outros.
Essas informações são essenciais para o desenvolvimento e implementação de políticas públicas e para a realização de investimentos públicos e privados.
Se ainda nos resta um fio de esperança, vamos torcer pela reversão desta situação.
*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On.