Curiosidades

Jesus sofreu abuso sexual dos romanos antes de ser crucificado, defende teólogo

O pesquisador acredita que assumir esse abuso como possível pode ajudar outras vítimas deste crime a superarem o trauma.

Por Da Redação

Jesus sofreu abuso sexual dos romanos antes de ser crucificado, defende teólogoilustrativa/Pixabay

Um teólogo inglês criou uma nova tese que diz que Jesus Cristo foi vítima de abuso sexual antes de ser crucificado. Para sustentar o argumento, ele relaciona os maus-tratos a prisioneiros da era romana e práticas de ditaduras latino-americanas e estuda a dimensão sexual da tortura, propondo uma nova postura das igrejas cristãs. As informações são da Folha de S. Paulo.


David Tombs, 57, radicado na Nova Zelândia, começou a se perguntar sobre alguns momentos pouco descritos na Bíblia: o que significam os três momentos em que Jesus Cristo é publicamente despido, antes da crucificação? O teólogo é seguidor da religião anglicana e publicou em 1999 seu primeiro artigo sobre o tema, intitulado "Crucificação, terrorismo de Estado e abuso sexual". Hoje, não está mais sozinho: outros teólogos já abordam o aspecto sexualizado do martírio de Cristo.


"Então Pilatos, querendo satisfazer a multidão, soltou-lhe Barrabás e, açoitado Jesus, o entregou para ser crucificado. E os soldados o levaram dentro à sala, que é a da audiência, e convocaram toda a coorte [unidade militar romana com 500 soldados]. E vestiram-no de púrpura, e tecendo uma coroa de espinhos, lha puseram na cabeça. E começaram a saudá-lo, dizendo: Salve, Rei dos Judeus! E feriram-no na cabeça com uma cana, e cuspiram nele e, postos de joelhos, o adoraram. E, havendo-o escarnecido, despiram-lhe a púrpura, e o vestiram com as suas próprias vestes; e o levaram para fora a fim de o crucificarem", diz a Bíblia, em Marcos 15:15-20.


Para Tombs, tudo isso retrata que Cristo foi vítima de um abuso sexual: exposto em sua nudez, espancado e humilhado enquanto nu, em uma recreação sádica que contou com 500 soldados, entre participações diretas e olhares curiosos.


"São dois aspectos: o primeiro é o que o texto realmente fala. Vejo a nudez forçada de Cristo como uma forma de violência sexual, o que justifica chamá-lo de vítima de abuso sexual. Embora muitas pessoas tenham dificuldade de chamar a nudez forçada de violência sexual, tendo a crer que elas estão sendo desnecessariamente resistentes ao que o texto afirma", diz Tombs, por videochamada, à Folha.


Ele também imagina o que pode ter ocorrido depois de tirarem as roupas de Cristo. "Não sabemos ao certo, mas podemos levantar uma questão que não é meramente especulativa nem leviana, porque temos evidências de maus-tratos a prisioneiros da era romana e também perspectivas trazidas pelo contexto de outras torturas modernas, na documentação das ditaduras em El Salvador, Brasil, Argentina, Chile, Sri Lanka e Abu Ghraib (prisão do Exército americano no Iraque), por exemplo", argumenta.


A ideia do abuso de Cristo surgiu exatamente ao investigar esse tipo de ditaduras, especialmente na cidade de El Salvador. "Fiquei chocado pelo fato de que tinha estudado aquilo e nunca tinha focado o tema da sexualidade. Comecei a tentar entender mais por que os soldados fazem isso com as pessoas. Li relatórios de tortura, de direitos humanos e de comissões da verdade e ficou absurdamente nítido para mim como o abuso sexual é comum na tortura, ainda que não seja a primeira coisa em que as pessoas pensam quando se fala de tortura", explica.


De acordo com Tombs, é comum que as populações saibam de violações sexuais em períodos autoritários de seus países: o desnudamento forçado, o uso da picana (bastão de choques elétricos usado para guiar o gado, comum na ditadura argentina) e a eletrocussão dos genitais. Porém, poucos se dão conta do papel central que essas práticas têm na humilhação de prisioneiros.


DEUS


Teologicamente, o professor reconhece que a hipótese do abuso sexual do corpo de Cristo eleva a tensão sobre o papel de Deus em seu sofrimento. Em muitas interpretações cristãs, Deus é o agente que permite que todo o martírio de Cristo ocorra.


Tombs, no entanto, prefere focar outro aspecto. "É possível perceber que algumas pessoas rejeitam essa leitura por acharem que tal sofrimento diminui Cristo, o que é parte do estigma que os sobreviventes do abuso sexual vivem. Às vezes, o que se percebe é que algumas pessoas dizem amar Cristo, mas não querem realmente saber do que ele sofreu. Adultos que dizem amar Cristo deveriam ter vontade de conhecer o que ele sofreu. Além disso, há também o aspecto de que Deus compartilha do sofrimento humano até nas suas piores instâncias. Recebi mensagens de sobreviventes de abuso sexual que admitiam sentir uma distância de Deus, como se Deus não entendesse a dor deles. Ao tomarem conhecimento dessa interpretação, essas pessoas me dizem que encontraram um advogado em Jesus", critica.


O pesquisador acredita que assumir esse abuso como possível pode ajudar outras vítimas deste crime a superarem o trauma. "Posso afirmar que não inventei o que escrevi, mas ser verdadeiro não basta. É preciso perguntar: como uma interpretação do texto pode ajudar as pessoas? O que me importa é a teologia que tem efeitos, e não aquela que anda em círculos", diz.


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