Qual é a origem da Festa de Santa Bárbara? História de fé, sincretismo e resistência
Apesar de conhecer a celebração, talvez, vez ou outra, você se pergunte: qual é a origem da Festa de Santa Bárbara?
Por Bruna Castelo Branco.
Todos os anos, a Festa de Santa Bárbara abre, em 4 de dezembro, o calendário das festas populares da Bahia, que vai até o Carnaval. Realizada no Centro Histórico de Salvador, a celebração reúne fé, sincretismo, devoção popular e muitas referências às religiões de matriz africana, especialmente à Iansã, orixá dos ventos e tempestades. Mas, apesar de conhecer a celebração, talvez, vez ou outra, você se pergunte: qual é a origem da Festa de Santa Bárbara?
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Nas primeiras horas da manhã do dia 4, devotos vestidos de vermelho e branco lotam o Largo do Pelourinho para acompanhar a missa campal em homenagem à padroeira do Corpo de Bombeiros, marcada para as 8h. Em seguida, a imagem de Santa Bárbara segue em procissão pelas ruas do Centro Histórico, passando por pontos como a Praça da Sé, Terreiro de Jesus e quartel do Corpo de Bombeiros, onde há uma saudação especial.
Durante o percurso, o caruru e o acarajé viram marcas da festa, oferecidos em lugares como o Mercado de Santa Bárbara e em sedes de grupos culturais, entre eles, o Afoxé Filhos de Korin Efan.
Em um artigo publicado pela Prefeitura de Salvador, a pesquisadora Carla Bahia, que estuda a celebração, explicou que festa se distingue pelo simbolismo e pela força popular: “A festa de Santa Bárbara, por si só, chama a atenção. Ela é quente. Ela não é só vermelha, é vermelha, branca, rosa. Ela tem brilho, tem borboletas nos torsos. Ela tem perfume de acarajé, de dendê. Ela tem brilho nos olhos, tem pedido de: ‘Por favor, minha mãe, não me abandone’”.
Além da Festa de Santa Bárbara, Salvador é marcada pela Lavagem do Bonfim, maior celebração religiosa da Bahia. Você conhece a história do cortejo?
A origem da Festa de Santa Bárbara
A devoção a Santa Bárbara em Salvador remonta ao século XVII, quando uma imagem trazida por portugueses foi entronizada no então Morgado de Santa Bárbara, no Comércio. Ao longo dos séculos, a festa passou por diferentes locais, acompanhando mudanças urbanas e históricas, até se consolidar no Pelourinho.
Padroeira dos bombeiros, mineiros e artilheiros, Santa Bárbara também é invocada contra raios e tempestades. Sua história, segundo a tradição cristã, remonta ao século III, quando foi martirizada após se converter ao cristianismo.
O sincretismo religioso marca a celebração. Muitos devotos associam a santa a Iansã, e não é incomum ouvir saudações como “Saravá”, “Oiá” e “Epà Hey” durante a procissão. De acordo com Elisangela Silva, presidente do Afoxé Filhos de Korin Efan, o momento reforça a união entre culturas. “Para nós, o dia 4 é uma data muito importante, porque, enquanto instituição cultural negra com influência do candomblé, celebramos Santa Bárbara e também Iansã”, afirma.
Registrada como Patrimônio Imaterial da Bahia desde 2008, a Festa de Santa Bárbara é considerada um símbolo de fé e resistência. Para o padre Lázaro, a celebração traduz simplicidade e acolhimento. “É sempre uma honra celebrar a festa de Santa Bárbara, sempre uma alegria, porque é uma festa que, pela sua espontaneidade, se estabelece, porque o povo vem, os devotos chegam e a gente não precisa fazer grandes movimentações, pois os devotos estão aí e vêm rezar, porque já tem no sangue essa devoção”, afirma.
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