Por que pessoas com Alzheimer se esquecem de quem eles amam? Pesquisa explica

Um estudo pode ter descoberto a causa por trás de um dos aspectos do Alzheimer: a dificuldade do paciente em reconhecer quem eles amam

Por Bruna Castelo Branco.

Um estudo da Escola de Medicina da Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos, pode ter descoberto a causa biológica por trás de um dos aspectos mais angustiantes do Alzheimer: a dificuldade do paciente em reconhecer familiares e pessoas próximas. A pesquisa, publicada em outubro na revista Alzheimer’s & Dementia, aponta para a deterioração de estruturas cerebrais específicas que protegem os neurônios responsáveis pela "memória social".

A pesquisa focou em estruturas conhecidas como redes perineuronais (PNN), uma espécie de "malha protetora" ao redor de neurônios essenciais para o reconhecimento social. No estudo, realizado com camundongos geneticamente modificados para simular o Alzheimer, os cientistas observaram que, a partir dos seis meses de idade – fase correspondente a um estágio inicial da doença –, essas redes começaram a se romper na região CA2 do hipocampo, área cerebral diretamente ligada à memória social.

Um estudo pode ter descoberto a causa por trás de um dos aspectos do Alzheimer - a dificuldade do paciente em reconhecer quem eles amam. | Foto: Ilustrativa/Pexels

Concomitantemente à degradação das PNN, os animais perderam a capacidade de distinguir entre roedores conhecidos e estranhos. O trabalho identificou que a quebra dessas redes protetoras está associada ao aumento da atividade de enzimas chamadas metaloproteinases de matriz (MMPs).

Proteção das redes pode retardar o sintoma

Em um dos achados mais significativos, os pesquisadores conseguiram intervir no processo. "Quando os pesquisadores usaram inibidores de MMP, conseguiram preservar as redes e retardar a perda da memória social nos animais", detalha o estudo.

A descoberta abre uma nova frente de investigação para a doença, que hoje tem a maioria de seus tratamentos em desenvolvimento focados em placas de beta-amiloide e emaranhados de proteína tau. As PNN representam um alvo estrutural diferente.

Essas redes são fundamentais porque "estabilizam sinapses e regulam a plasticidade do cérebro" – a capacidade de criar e reforçar conexões. Com sua degradação no Alzheimer, o neurônio fica vulnerável e a comunicação entre as regiões que armazenam informações afetivas e sociais se enfraquece, resultando na dificuldade crescente de reconhecer rostos familiares.

A pesquisa, publicada em outubro na revista Alzheimer’s & Dementia, aponta para a deterioração de estruturas cerebrais específicas. | Foto: Ilustrativa/Pexels

Caminho longo até um tratamento em humanos

Embora as descobertas sejam promissoras, os autores destacam que o estudo ainda está em fase pré-clínica. O grande desafio, agora, é "transformar essa descoberta em uma estratégia segura e eficaz para humanos, algo que ainda exige estudos clínicos longos e detalhados".

O Alzheimer é o tipo mais comum de demência em idosos e, segundo o Ministério da Saúde, responde por mais da metade dos casos registrados no Brasil. A perda da memória social é frequentemente relatada pelas famílias como um dos momentos mais devastadores da progressão da doença.

Nova pesquisa sobre prevenção

Um estudo publicado na segunda-feira (3) na revista Nature Medicine aponta que quantidades modestas de atividade física, como caminhar 3 mil passos por dia ou mais, podem retardar as alterações cerebrais e o declínio cognitivo associados à doença de Alzheimer.

A pesquisa, conduzida por cientistas do hospital Mass General Brigham, nos Estados Unidos, acompanhou 296 pessoas entre 50 e 90 anos ao longo de 14 anos. Nenhum dos participantes apresentava comprometimento cognitivo no início do estudo. Os pesquisadores analisaram a contagem diária de passos e os níveis de proteínas cerebrais associadas ao Alzheimer — as placas beta-amiloides e os emaranhados de proteína tau. Na Bahia, laboratórios realizam teste para identificar uma característica patológica da doença de Alzheimer, o exame PrecivityAD2™.

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