Quem realmente precisa excluir o glúten do cardápio? Saiba as indicações

Inchaço, desconforto abdominal, fadiga, diarreia, prisão de ventre e dor de cabeça estão entre os sintomas mais frequentemente associados ao consumo de glúten

Por Bruna Castelo Branco.

Inchaço, desconforto abdominal, fadiga, diarreia, prisão de ventre e dor de cabeça estão entre os sintomas mais frequentemente associados ao consumo de glúten, segundo um estudo publicado na revista Gut. A proteína, presente em alimentos como pães, massas, bolachas, pizzas e outras preparações à base de trigo, centeio e cevada, foi analisada em uma revisão que buscou medir a prevalência da chamada sensibilidade ao glúten não celíaca. Com informações da Agência Einstein.

A pesquisa reuniu 25 artigos científicos, com 49.476 participantes de 16 países, conduzida por pesquisadores do Reino Unido, Itália, México e Estados Unidos. As análises indicaram que cerca de 10% das pessoas relatam apresentar sintomas relacionados ao glúten. “O dado impressiona, mas precisa ser interpretado com cautela”, afirma o nutrólogo Diogo Oliveira Toledo, do Hospital Israelita Albert Einstein.

Inchaço, desconforto abdominal, fadiga, diarreia, prisão de ventre e dor de cabeça estão entre os sintomas mais frequentemente associados ao consumo de glúten. | Foto: Ilustrativa/Pexels

Grande parte dos participantes também relatava ansiedade, depressão e síndrome do intestino irritável. Para Toledo, esse achado reforça a ideia de que muitos casos podem estar ligados a distúrbios de interação intestino-cérebro. “Isso ajuda a reforçar a hipótese de que, em muitos casos, a condição se encaixa melhor dentro do espectro dos distúrbios de interação intestino-cérebro, influenciada por fatores como a microbiota e a sensibilidade visceral”, diz. Segundo ele, a sensibilidade não celíaca não estaria associada a uma resposta imunológica direta ao glúten, como ocorre na doença celíaca.

A nutricionista Desire Coelho, doutora pela USP e especialista em comportamento alimentar, ressalta que a revisão se baseia em autorrelatos, sem realização de testes clínicos. “Atualmente, notamos a interferência das redes sociais e de outras mídias que podem levar as pessoas a se identificar e até mesmo passar a sentir alguns sintomas”, afirma.

Os autores do estudo reconhecem que a autodeclaração é uma limitação, mas defendem que os resultados podem auxiliar na personalização de tratamentos, evitando restrições alimentares desnecessárias. Muitos participantes, segundo o levantamento, adotaram dietas sem glúten por conta própria e sem orientação médica.

As análises indicaram que cerca de 10% das pessoas relatam apresentar sintomas relacionados ao glúten. | Foto: Ilustrativa/Pexels

Doença celíaca x sensibilidade ao glúten

Antes de iniciar uma dieta sem glúten, especialistas recomendam buscar diagnóstico adequado e compreender as diferenças entre as condições relacionadas à substância. O glúten é responsável por características como consistência, sustentação da massa e textura de pães e produtos similares, mas pode causar prejuízos à saúde em indivíduos sensíveis.

Na doença celíaca, a gliadina — componente do glúten — desencadeia uma resposta inflamatória que pode danificar células intestinais, prejudicando a absorção de nutrientes. O distúrbio, classificado como autoimune, afeta cerca de 1% da população mundial, principalmente pessoas geneticamente predispostas.

O diagnóstico envolve exames específicos. “Testes sorológicos são o ponto de partida, especialmente a dosagem dos anticorpos antitransglutaminase tecidual (anti-tTG IgA) e o antiendomísio (anti-EM IgA), que ajudam a detectar a reação imunológica ao glúten”, explica Toledo. Em caso de dúvida, diz o especialista, “a biópsia duodenal continua sendo o padrão-ouro, pois permite identificar a atrofia em certas estruturas do intestino”. Para garantir a precisão dos resultados, o paciente deve estar consumindo glúten regularmente antes dos exames.

A sensibilidade ao glúten não celíaca, por sua vez, envolve sintomas após a ingestão da proteína, mas não conta com um exame específico para confirmação. “Primeiro, deve-se excluir a doença celíaca ou a alergia ao trigo”, afirma Toledo. O processo inclui retirada temporária do glúten, avaliação clínica e posterior reexposição. O nutrólogo observa que muitos pacientes melhoram simplesmente ao reduzir alimentos ultraprocessados ou ricos em FODMAPs, o que pode distorcer a interpretação clínica. FODMAPs são carboidratos fermentáveis presentes em alimentos como aspargo, alcachofra, chicória, brócolis, leite e mel.

ntes de iniciar uma dieta sem glúten, especialistas recomendam buscar diagnóstico adequado. | Foto: Ilustrativa/Pexels

Especialistas reforçam que mudanças no cardápio devem ser acompanhadas por um profissional de saúde. Na doença celíaca, o tratamento exige eliminação completa do glúten. “Para pacientes com sensibilidade não celíaca, a conduta deve ser individualizada, já que alguns toleram pequenas quantidades sem sintomas relevantes, enquanto outros relatam desconforto mesmo com traços mínimos”, detalha Toledo.

Dietas sem glúten ganham popularidade

Dietas sem glúten se difundiram nas últimas décadas, muitas vezes associadas à promessa de emagrecimento, embora não haja evidências científicas que sustentem esse benefício. “Em alguns casos, o que se vê é um desequilíbrio no cardápio, com grande espaço para itens classificados como ultraprocessados, com excesso de farinha branca e aditivos que podem interferir com a digestão”, observa Desire Coelho.

Para a nutricionista, o glúten frequentemente recebe uma culpa indevida. Na tentativa de aliviar desconfortos, muitos consumidores trocam alimentos tradicionais por opções sem trigo, centeio ou cevada. “Mas muitos deles não são saudáveis, embora sejam colocados dessa forma até mesmo nas gôndolas dos supermercados”, afirma. A análise cuidadosa dos rótulos é apontada como essencial para evitar escolhas equivocadas.

Toledo acrescenta que, em grande parte dos casos, o foco deveria estar no equilíbrio da microbiota, na melhoria da qualidade da alimentação e na regulação do estresse — medidas que, segundo ele, favorecem a saúde de forma abrangente.

Dietas sem glúten se difundiram nas últimas décadas, muitas vezes associadas à promessa de emagrecimento. | Foto: Ilustrativa/Pexels

Siga a gente no InstaFacebookBluesky e X. Envie denúncia ou sugestão de pauta para (71) 99940 – 7440 (WhatsApp).

Comentários

Importante: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do Aratu On.

Nós utilizamos cookies para aprimorar e personalizar a sua experiência em nosso site. Ao continuar navegando, você concorda em contribuir para os dados estatísticos de melhoria. Conheça nossa Política de Privacidade e consulte nossa Política de Cookies.