Bebidas ácidas, pastas abrasivas e alcoolismo: hábitos por trás da erosão dentária

A erosão dentária, caracterizada pelo desgaste do esmalte resulta de fatores como hábitos alimentares, consumo de bebidas ácidas, condições médicas e comportamentais

Por Bruna Castelo Branco.

A erosão dentária, caracterizada pelo desgaste do esmalte — camada que protege a superfície dos dentes — resulta de fatores como hábitos alimentares, consumo de bebidas ácidas, condições médicas e comportamentais. O problema, que vai além da estética, pode acometer pessoas de todas as idades.

Segundo a Associação Americana de Odontologia (ADA), análises indicam que a prevalência global de erosão dentária varia de 30% a 50% em dentes de leite e pode chegar a 45% em dentes permanentes de adultos.

A erosão dentária, caracterizada pelo desgaste do esmalte resulta de fatores como hábitos alimentares, consumo de bebidas ácidas, condições médicas e comportamentais. | Foto: Ilustrativa/Pexels

Esse desgaste ocorre quando a acidez na boca supera a capacidade natural de remineralização. O processo reduz minerais como cálcio, fosfato e flúor, provocando danos visíveis e desconforto.

“Os principais sintomas desse processo são a mudança da cor dos dentes, já que a perda do esmalte deixa exposta a estrutura que fica abaixo dele, a dentina, que costuma ser mais escura, e o aumento da sensibilidade dental, que pode causar uma sensação desagradável quando a pessoa ingere algo muito gelado, sorri muito ou respira de forma mais intensa”, explica a cirurgiã-dentista Leticia Bezinelli, coordenadora da Graduação em Odontologia da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein (Ficsae). Em quadros graves, surgem opacidade, bordas translúcidas e fissuras.

Hábitos como bruxismo, uso de escovas duras, força excessiva na escovação e pastas abrasivas podem agravar o quadro. As medidas de correção devem ser individualizadas. “Somente assim vão ser identificados e revertidos os fatores de risco”, afirma Bezinelli.

Causas internas e externas

A erosão pode ter origem endógena, relacionada a ácidos produzidos pelo próprio organismo, ou exógena, ligada a fatores externos.

No primeiro grupo, o desgaste resulta da exposição frequente da cavidade oral ao ácido gástrico, quadro associado a refluxo gastroesofágico, bulimia nervosa e alcoolismo crônico. Em gestantes, a ADA aponta evidências de que a hiperêmese gravídica — caracterizada por vômitos intensos e persistentes — também eleva o risco.

O problema, que vai além da estética, pode acometer pessoas de todas as idades. | Foto: Ilustrativa/Pexels

Entre os fatores exógenos, destacam-se alimentação, estilo de vida e ambiente. O consumo regular de bebidas ácidas é o principal deles. De acordo com a ADA, evidências crescentes apontam que o consumo frequente de refrigerantes, bebidas esportivas e sucos de fruta com pH entre 2,0 e 3,5 é um dos maiores gatilhos para a erosão extrínseca.

Esse cenário é intensificado pelo aumento da longevidade. “A expectativa de vida ter aumentado também faz com que os dentes se mantenham na boca por mais tempo, sendo submetidos ao estresse mecânico — como o desgaste causado pela mastigação e pelo hábito de apertar ou ranger os dentes — e ao estresse térmico, provocado pelas variações de temperatura entre alimentos e bebidas quentes e frias”, explica o dentista Camilo Anauate Netto, membro da Câmara Técnica de Dentística do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP).

Tratamento e prevenção

A abordagem depende da severidade do desgaste. “Muitos procedimentos têm como foco reduzir os sintomas do problema, como a sensibilidade, mas é importante lembrar que se trata de uma condição multifatorial”, observa o dentista João Gabriel S. Souza, professor-assistente da graduação em Odontologia da Ficsae.

Nos casos avançados, restaurações em resina podem ser necessárias para recompor a estrutura do dente. A prevenção, porém, é considerada fundamental — especialmente com consultas anuais capazes de detectar o desgaste precocemente e evitar tratamentos mais complexos.

Esse desgaste ocorre quando a acidez na boca supera a capacidade natural de remineralização. | Foto: Ilustrativa/Pexels

Cuidados recomendados

Especialistas orientam adotar práticas que reduzem o contato ácido com o esmalte:

  • Reduzir o consumo de bebidas ácidas.

  • Evitar manter esses líquidos na boca, bochechar com eles ou consumi-los antes de dormir.

  • Preferir o uso de canudo, direcionando o líquido para longe dos dentes anteriores.

  • Beber água durante as refeições ou enxaguar a boca após líquidos ácidos e alimentos doces.

  • Não escovar os dentes imediatamente após consumir bebidas ácidas; optar por escovas macias e evitar força excessiva.

  • Usar pastas com flúor e evitar versões abrasivas (com pirofosfato de cálcio, sílica ou óxido de alumínio).

  • Enxaguar a boca com água após episódios de vômito.

  • Preferir chicletes sem açúcar, com moderação, já que podem interferir na digestão.

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