Lockdown não funciona, dizem pesquisadores brasileiros; especialistas rebatem
De acordo com a Folha, a pesquisa avaliou a relação entre isolamento social, medida pelo índice de mobilidade do Google, e o número de óbitos por Covid-19 e não encontrou diferença significativa
Um artigo publicado na revista Scientific Reports, do grupo Nature, por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) teve repercussão internacional recentemente ao afirmar que o lockdown não diminuiu o número de mortes por Covid-19 em diversos países do mundo, incluindo o Brasil.
De acordo com a Folha de São Paulo, a pesquisa avaliou a relação entre isolamento social, medida pelo índice de mobilidade do Google, e o número de óbitos por Covid-19 e não encontrou diferença significativa.
Em outras palavras, comparando os lugares onde as pessoas passaram mais tempo em casa e aqueles que não o fizeram, o número de mortes de Covid por milhão de habitantes foi o mesmo.
Os dados foram coletados de fevereiro a agosto de 2020 em 87 locais diferentes: 51 países, 27 estados e seis capitais no Brasil (Manaus, Fortaleza, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre) e três grandes cidades de outros países (Tóquio, Berlim e Nova York).
A associação entre isolamento social e redução de óbitos nas áreas estudadas não foi significativa para mais de 98% delas. E em apenas 63 (1,6%) amostras do total de 3.741 combinações foi encontrada uma diferença significativa.
Após a publicação do artigo, pesquisadores que refizeram os cálculos enviaram comentários para a Scientific Reports, que aguarda a tréplica dos autores.
Carlos Góes, pesquisador do departamento de economia da Universidade da Califórnia, em San Diego, escreveu uma resposta ao estudo que, segundo ele, tem um erro matemático.
"O cálculo feito é uma média ponderada entre as duas cidades, ou seja, para cada região foi calculada a associação entre ficar em casa e número de mortes com pesos diferentes [por ter ou não lockdown], e não uma diferença. Pode ser que você tenha uma cidade com correlação positiva e negativa em outra —na média, a diferença é zero", diz.
"Os dados são por definição limitados. Como foram inseridos apenas dados de áreas residenciais do Google, e as pessoas normalmente passam de 12 a 16 horas em casa, os autores alegam que não encontraram um benefício em ficar em casa, mas nós achamos que eles não teriam encontrado mesmo quando há benefício devido aos dados utilizados", explica Gideon Meyerowitz-Katz, epidemiologista da Universidade de Wollongong (Austrália) e autor da primeira revisão do estudo.
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