A nova vacina contra a dengue estará no SUS? Entenda como vai funcionar
A Anvisa deu parecer favorável à vacina contra dengue produzida pelo Instituto Butantan, em São Paulo
Por Bruna Castelo Branco.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deu parecer favorável à vacina contra dengue produzida pelo Instituto Butantan, em São Paulo. O imunizante, chamado Butantan-DV, é o primeiro desenvolvido no Brasil e o primeiro no mundo a demonstrar eficácia com dose única. O acordo assinado nesta quarta-feira (26) estabelece o compartilhamento contínuo de dados entre Anvisa e Butantan para acelerar futuras autorizações.
Segundo o instituto, o Butantan-DV apresentou, nas três fases de testes, eficácia semelhante à da Qdenga, vacina atualmente utilizada e produzida pela farmacêutica japonesa Takeda. O médico Alfredo Elias Gilio, coordenador da Clínica de Imunizações do Einstein Hospital Israelita, destaca que “de maneira geral a proteção para dengue sintomática, doença que já vitimou 1,6 mil pessoas no Brasil em 2025, foi de 80% na faixa etária de 2 a 6 anos; de 78% na faixa etária de 7 a 17 anos e de 90% na faixa etária de 18 a 59 anos”. Ele afirma ainda que “até o momento, o acompanhamento feito cinco anos após as primeiras doses mostra que essa proteção também se manteve ao longo do tempo”.

Em 2024, a campanha de imunização com a Qdenga priorizou adolescentes, que devem tomar duas doses com intervalo de três meses. Menos da metade do público-alvo completou o esquema. Para Gilio, o novo imunizante pode ampliar a adesão: “Toda vacina que possa ser utilizada em dose única facilita a adesão e reduz muito o custo para implantação em programas de imunização. Essa é uma enorme vantagem em relação à vacina disponível atualmente”.
Público-alvo
A Anvisa autorizou o uso da Butantan-DV em pessoas de 12 a 59 anos, mas não descarta ampliar o público com base em novos dados apresentados pelo instituto. A vacina já foi testada em crianças a partir de 2 anos, com bons resultados, mas a agência solicitou documentação adicional.
O Butantan informou, em nota, que novos estudos — já autorizados — devem incluir pessoas de 60 a 79 anos. Se comprovada a eficácia, será a primeira vacina contra dengue indicada para esse grupo. Crianças e idosos estão entre os que mais morrem de dengue proporcionalmente no país.

Como funciona
A tecnologia utilizada no imunizante é a de vírus vivo atenuado, também presente em vacinas como as de sarampo e febre amarela. O produto protege contra os quatro sorotipos conhecidos do vírus da dengue.
Essa característica é relevante porque o risco de formas graves aumenta em pessoas que já tiveram contato prévio com outro subtipo. Quadros severos podem causar danos irreversíveis, inclusive neurológicos, e levar à morte.
Eficácia
O ensaio clínico de fase 3, realizado entre 2016 e 2024 com 16 mil voluntários brasileiros, registrou eficácia geral de 74,7% contra dengue sintomática em pessoas de 12 a 59 anos. O estudo aponta ainda redução de 91,6% nos casos graves e de 100% nas hospitalizações.
Publicação de 2024 no The New England Journal of Medicine mostra que a proteção foi semelhante entre participantes com ou sem infecção prévia por dengue. Reações adversas foram raras e leves; apenas três pessoas (menos de 0,1%) tiveram efeitos mais severos — dor de cabeça, fadiga e erupções na pele — e todas se recuperaram.

Disponibilidade no SUS
Apesar da aprovação, a inclusão da vacina no Programa Nacional de Imunizações (PNI) ainda não está garantida. Em nota, o Butantan afirma que o imunizante “deverá ser incluída” e diz estar estruturando a produção em larga escala. O instituto tem 1 milhão de doses prontas e prevê fabricar até 30 milhões em parceria com a chinesa WuXi até meados de 2026.
Próximos passos
O termo de compromisso firmado com a Anvisa prevê o envio de dados adicionais para acompanhamento da estabilidade da proteção ao longo dos anos. O Butantan também deve apresentar novas informações sobre os estudos conduzidos com crianças de 2 a 11 anos, o que pode expandir o público apto à vacinação.
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