Silas Malafaia não é apenas pastor: é, na verdade, o Rasputin do caos

Se outros conselheiros falam ao pé do ouvido, Malafaia prefere gritar no megafone, e colocar lenha na fogueira mesmo quando o incêndio já ameaça consumir o circo: conselhos tão diretos que fariam até o Mago Merlin duvidar da própria capacidade

Por Pablo Reis.

Silas Malafaia não é apenas pastor: é, na verdade, o Rasputin do caosPromptgrafismo: Matheus Carvalho

Nos bastidores da política brasileira, onde as tramas são muitas vezes mais complexas que um enredo de novela, Silas Malafaia não é um personagem secundário. Emerge como uma figura que, com um fervor quase messiânico, assume o papel de conselheiro-mor do ex-presidente Jair Bolsonaro e, por extensão, do bolsonarismo. É mais como um Rasputin tropical: inflamado, barulhento, convicto de sua própria infalibilidade.

(Grigori Rasputin, um místico siberiano, emergiu da obscuridade para se tornar uma figura de poder e fascínio na corte russa. Com uma barba farta e um olhar hipnótico, ele se autodenominava curandeiro e profeta, conquistando a confiança da imperatriz Alexandra por sua suposta capacidade de aliviar a hemofilia de seu filho, o herdeiro Alexei. Enquanto o Império Russo se esfacelava em meio à agitação da Primeira Guerra Mundial, Rasputin, um simples camponês, era quem sussurrava aos ouvidos da família Romanov, exercendo uma influência que, ironicamente, contribuiu para o colapso da monarquia que ele jurava proteger. Sua vida, uma mistura de devoção e deboche, terminou de forma tão dramática quanto sua ascensão, mas sua lenda, de "monge louco" a figura de poder, vive até hoje.)

Malafaia Rasputin Bolsonaro Prompt Matheus Carvalho

Se outros conselheiros falam ao pé do ouvido, Malafaia prefere gritar no megafone, transformar aconselhamento em espetáculo, e colocar lenha na fogueira mesmo quando o incêndio já ameaça consumir o circo. Munido de conselhos tão diretos que fariam até o Mago Merlin ponderar sobre suas próprias previsões, sua missão, aparentemente, é guiar seu pupilo através das tormentas políticas, mesmo que para isso precise conjurar algumas tempestades adicionais.

As revelações da Polícia Federal não o pintam como um amigo discreto, mas como um grão-vizir do bolsonarismo. É ele quem dita tons, distribui puxões de orelha, e assume o papel de diretor de uma peça onde até os filhos do ex-presidente são atores corrigidos no palco. Eduardo, por exemplo, foi alvo de uma verborragia tão radioativa que nem Hollywood escreveria melhor. Os adjetivos de "idiota" e "estúpido" são alguns adornos direcionados aos discursos "nacionalistas" que, na visão de Malafaia, estavam "ferrando" o ex-presidente. 

O pastor chegou a ameaçar publicamente “arrebentar" Eduardo se este continuasse com suas "asneiras". Vem à tona um controle de roteiro que nem o mais audacioso dos diretores de teatro ousaria impor. Em contraste, a entrevista de Flávio Bolsonaro foi elogiada como certinho, evidenciando o que seria o padrão ouro para a performance esperada de um filho do clã.

Malafaia também enxergou no tabuleiro internacional uma oportunidade de alquimia política. A disputa comercial com Donald Trump virou, em sua leitura, uma faca e um queijo para Bolsonaro negociar anistia. O que era economia global, ele transformava em retórica messiânica sobre liberdade e justiça. Era o tipo de manobra que mistura geopolítica com liturgia, como se sanções e tarifas pudessem virar sermão de domingo.

Religioso de "fogo no parquinho"

O estilo de aconselhamento do pastor nunca foi de apagar incêndios. Ele prefere acender fósforos. Longe de querer apaziguar corações e mentes, o religioso parece sempre estar com detonador e pavio prontos para colocar fogo no parquinho. Ele instigava Bolsonaro a “meter a carta", a não ter "medo de Alexandre Moraes" e a "detonar" as ações do Judiciário. Para Malafaia, a solução para os dilemas políticos de Bolsonaro passava por vídeos gravados para sua bolha, denunciando "centenas de censuras secretas ilegais" e a "vergonha" da delação de Mauro Cid. Aposta sempre na escalada, como quem acredita que o caos é não só o método, mas o milagre. 

O pastor, com a confiança de quem se julga infalível, garantia: "não errei uma contigo e não tô errando de novo". Uma convicção que o pinta como o Rasputin da política brasileira, cuja influência, ainda que controversa e por vezes caótica, é inabalável para seus seguidores, transformando cada conselho em um ingrediente potente na receita do confronto.

Malafaia Marionetes Bolsonaros Prompt Matheus C Arvalho

Mas até Rasputin encontra seus limites. Malafaia foi alvo de busca e apreensão, teve passaporte retido e ficou proibido de falar com Bolsonaro. Seus aliados acusam o Supremo de perseguição, de afrontar a liberdade religiosa e comprar briga com todo um setor evangélico. Eis o paradoxo: ao moldar o bolsonarismo com pólvora e pavio, o pastor atraiu a mesma tempestade que ajudou a conjurar. Ao incitar a cizânia, o arquiteto do caos acaba por atraí-la para si, demonstrando que mesmo os mais intrépidos conselheiros podem, por vezes, provar de seu próprio veneno.

E, mesmo assim, não recuou. Continuou sugerindo frases, notas e narrativas, como quem acredita ser não apenas conselheiro, mas profeta. Talvez seja isso que mais fascina e incomoda em sua figura: Malafaia não apenas aconselha diante da tormenta — ele acredita ser o condutor da própria ventania. Em meio a crises de soluço e à espera de um milagre para gravar, ele se mantém como o inabalável guru das intempéries, aquele que não só aconselha sobre as tempestades, mas que talvez as invoque com a certeza de que Deus está "contigo, compadre". 

No fim, sua trajetória revela algo maior sobre a política brasileira. O poder, por aqui, raramente se sustenta na razão serena; prefere a liturgia do choque, o teatro da convicção. E nesse palco de fúria e fé, Silas Malafaia permanece como um personagem emblemático: um Rasputin evangélico que fez do caos não um risco, mas um ministério.

 

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