Rom Santana: do vaqueiro da Chapada Diamantina a 'Rei do Bixiga' em São Paulo
Inspirado em Léo Santana, cantor baiano Rom Santana, o 'Príncipe/Rei do Bixiga', conquistou São Paulo; conheça a trajetória
Por Juana Castro.
“Faz o sinal do felino aí!”.
A frase já se tornou marca registrada de Rom Santana, artista baiano que tem arrastado multidões na noite paulistana. Natural de Iramaia, na Chapada Diamantina, o artista de 31 anos agora é o príncipe - ou rei - do Bixiga, bairro boêmio de São Paulo onde mora e começou a carreira.
As pessoas já não saem mais à noite à procura de um local, mas, sim, do fenômeno Rom Santana. Na Rua 13 de Maio, no Bixiga, por exemplo, cerca de duas mil se reúnem a cada apresentação para ver o cantor. "Virou uma febre!", resume o produtor dele, Robson Melo, ao Aratu On.
Rom Santana: das raízes na roça à maior metrópole da América Latina
Nascido Romário Silva Ramos, Rom é de São José, zona rural de Iramaia, município com pouco mais de 10 mil habitantes. “Sou da roça. Foi um dos motivos para vir pra São Paulo. Lá era muito difícil”, recorda, em conversa por telefone com o Aratu On.
Filho de trabalhadores rurais, ajudava o pai no "trabalho braçal", no cuidado com o gado e com os cavalos, até também virar vaqueiro. Isso lhe rendeu inspirações musicais: “Sempre cito a palavra ‘vaqueiro’, porque foi a primeira profissão que exerci. Gosto dessa palavra, de cavalo, gado, roça. Sou muito apegado nisso.”
Aos 17 anos, Rom se mudou para a capital paulista para morar com o irmão mais velho. Atuou como ajudante de pizzaiolo, forneiro, pizzaiolo e, mais tarde, como motoboy. “Sempre me virei dessa maneira, até começar a cantar.”
Léo Santana: a grande inspiração de Rom
"Na Bahia, sempre que podia, ia a algumas festas, geralmente as da prefeitura, que eram mais acessíveis. Sempre gostei, mas nunca imaginei que poderia me envolver com a música", explicou.
E foi justamente em um show na praça de Iramaia que Rom viu sua primeira e maior inspiração: Léo Santana. O nome artístico, inclusive, é uma homenagem ao ídolo - que deve se apresentar gratuitamente no Novembro Negro, em Salvador.
“Não tem Santana no meu nome. Alguns primos têm, mas 'peguei' o Santana porque sempre admirei Léo. Desde pequeno eu gostava do jeito dele cantar, de se portar no palco. De lá pra cá, só aumentou essa admiração”, contou.
Mais tarde, em São Paulo, assistiu ao ídolo na Audio Club, uma das casas de shows mais importantes da cidade. "Foi surreal demais, uma coisa fora do comum. O melhor show que já fui na vida", descreveu. O momento acabou servindo de inspiração para que ele sonhasse em um dia também se apresentar no mesmo espaço — o que se concretizou anos depois.
O início de Rom na música e a fama de 'Príncipe/Rei do Bixiga'
Rom começou postando vídeos caseiros no Facebook. “Colocava os ‘plays’ no celular e cantava. Tinha cinco, sete, dez curtidas. Postava porque eu gostava, era um passatempo”, confessou.
O ponto de virada veio no Bixiga, ao entrar num karaokê e o dono do bar afirmar que ele poderia continuar. "A partir desse momento me abriu um leque", revelou.
No início, conciliava a música com o trabalho em restaurante, mas essa rotina lhe tomava muito tempo e ele não conseguia focar na música. "Então só ficava pensando, mesmo, cantando em casa, fazendo vídeos. Sempre gostei de fazer música, também, e deixava guardado. Mas quando tinha oportunidade, no final de semana, ia nos bares e cantava ali com os amigos”, relatou.
Muitas vezes, ele não recebia nada pelas apresentações. "Ia só pra 'tomar uma' com os amigos". Certo dia, no final de 2022, foi chamado para cantar em um aniversário na Rua 13 de Maio. "Foi onde tudo começou a acontecer. Me chamaram para cantar novamente", lembrou Rom.
A música virou compromisso, mas ainda não o sustentava. O baiano, então, passou a trabalhar também como motoboy, fazendo seus próprios horários. O que ele não esperava é que a motocicleta seria roubada, o que o fez voltar ao restaurante. Não durou muito tempo.
"Falei ‘mano, quer saber? Eu vou ter que procurar show. Vou saindo de bar em bar, vou tentar mais show, pra ficar na música. Não quero largar a música, não'."
O desafio, agora, era a falta de uma banda. Para os estilos musicais que ele canta, que incluem piseiro, forró e o pagodão baiano, o ideal seria, pelo menos, o acompanhamento de um tecladista. Como não tinha, usava a criatividade. "Pegava os 'beats' prontos, procurava na internet e ia formando meu repertório ali, através do meu celular", contou.
Ao dono de cada estabelecimento, dizia a verdade, mas pedia: "Me deixe cantar, me dê oportunidade. No final do show, se você não gostar, não curtir, nem paga nada. Vou embora e 'tá' tudo tranquilo. Só queria que você me deixasse cantar".
A abordagem deu certo. Rom cantava, o público gostava e o proprietário o chamava de volta. E as apresentações noite adentro chamaram a atenção de Robson Melo, produtor musical, também morador do Bixiga, com mais de 20 anos de estrada.
“Eu via o Rom cantar seis, sete horas seguidas. Começou com dez pessoas, depois 30, 50, 200… até formar um conglomerado", contou Robson. Certa vez, trabalhando com outro artista, encontrou Rom em um evento e perguntou se ele tinha alguém para cuidar da carreira. "Não. Só eu por mim mesmo", ouviu do baiano. Em seguida, deu seu contato. "Se quiser ligar, pra gente bater um papo, acho que posso ajudar você a dar uma guinada."
Rom entrou em contato e começaram um novo trabalho. A partir dali, o cantor fez aberturas de diversas casas de shows, incluindo a Audio, onde tinha visto Léo Santana, e se apresentou no "Je Treme", bloco de Carnaval paulista, para um público de mais de 50 mil pessoas.
"Fizemos grandes festas e os vídeos começaram a viralizar, aí veio esse lance do 'Príncipe' ou 'Rei' do Bixiga", explicou o produtor. "Qualquer lugar que ele vá aparecem mais de mil pessoas. E aí vira essa 'loucura' que 'tá' hoje aqui em São Paulo", completou Melo.
"De um ano e meio para cá, vivo de música", celebrou Rom.
Os fãs de Rom Santana: felinos, felinas e feliners
Além da fama majestosa, Rom Santana tem outro apelido carinhoso e midiático: felino. O motivo, ele explica, é simples: vem do próprio signo (leão).
“No começo eu falava ‘Rom Santana, el felino’. Gostei tanto que comecei a chamar os fãs de felinos e felinas. Hoje já temos até os feliners", conta. "Durante o show, peço: ‘faz o sinal do felino aí’, e a galera levanta a mão em forma de garra. É lindo de ver", acrescenta.
Assim, do cantor que chegava "na cara e na coragem" apenas com a voz e o celular, o "Príncipe do Bixiga" conta, atualmente, com uma equipe estruturada, incluindo DJ, produtores, assessoria de imprensa, jurídica e financeira. No ano passado, inclusive, lançou EP com seis músicas autorais, sendo "Teoria" a de maior sucesso, bastante pedida nos shows.
"Hoje, graças a Deus, tenho várias pessoas maravilhosas que estão fechadas comigo. E não é só o profissionalismo, mas a gente preza muito pela energia, também, para formar uma boa equipe.”
Rom lança 'Baile do Felino', programa show em Salvador e planeja turnê na Europa
O resultado do trabalho é um público cada vez maior, 25 a 30 shows por mês e convidados especiais, como o também baiano O Poeta. Mas as apresentações têm ido além da capital paulista. Recentemente, Rom esteve em Paraty (RJ) e cumpre, até o fim do ano, agenda na cidade do Rio de Janeiro, Tiradentes (MG) e Salvador.
Na capital baiana, o período será de 11 a 14 de dezembro, em locais que ainda serão divulgados. "Pela primeira vez vamos fazer uma mini turnê em Salvador. Vai ser especial demais", comemorou.
O cantor baiano também se prepara para lançar o “Baile do Felino”, festa própria que estreia em São Paulo em outubro e deve rodar outras cidades. "A ideia é levar para todo o Brasil", destacou Robson.
O produtor pontuou ainda que a Europa também está nos planos, mas a primeira turnê precisou ser adiada por motivos burocráticos. A expectativa é que a estreia internacional ocorra em 2026.
Apesar da agenda lotada, Rom não perde a ligação com a terra natal: “Faço questão de aplicar o pagodão baiano aqui em São Paulo. A galera gosta muito da cultura baiana. É um prazer falar com vocês, com a Bahia, meu estado que eu amo.”
Rom Santana nas redes sociais e streaming:
- Instagram: @rom_santana
- TikTok: @romsantana
- Spotify: Rom Santana
Em tempo: pagodão baiano em alta
Estilo que Rom faz questão de defender em suas performances, o pagodão baiano tem sido destaque no Carnaval e se renovado ao longo dos anos. Na última semana, o ritmo ganhou novamente os holofotes com o anúncio de um retorno. Após 15 anos, o cantor Edcity anunciou que voltará à banda Fantasmão, com direito a show gratuito na capital baiana.
Sobre a Chapada Diamantina, região de Rom Santana
Local de origem de Rom Santana, a Chapada Diamantina é uma das regiões mais conhecidas da Bahia e do Brasil, marcada por serras, cachoeiras, grutas e cidades históricas. A Chapada já foi polo da mineração de diamantes e hoje é um dos destinos turísticos mais procurados do país, recebendo visitantes interessados tanto nas belezas naturais quanto nas tradições culturais do interior baiano.
No início deste mês de setembro, o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, assinou a ordem de serviço para a construção do Terminal Turístico e Rodoviário da Chapada Diamantina, que será instalado no distrito de Tanquinho, no município de Lençóis. O intuito, segundo o gestor, é fortalecer o turismo sustentável na região.
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