A crise econômica na Alemanha sopra como ventania para a Direita
A recessão na maior economia da Europa deve influenciar significativamente as eleições nacionais neste mês de fevereiro e tem impacto que pode atingir até o Brasil
Fonte: Pablo Reis
É de preocupar o Ocidente e, sobretudo, a Europa a aguda e persistente crise econômica na Alemanha. A maior economia do continente, responsável por um a cada cinco euros do PIB da União Europeia, vive oficialmente uma recessão após dois trimestres seguidos de queda do Produto Interno Bruto. Segundo o Escritório de Estatísticas Oficiais, o ano de 2024 fechou com contração de 0,2% na produção global de riqueza, mesmo índice de 2023. O Banco Central Europeu anunciou redução de 0,25 pp na taxa básica de juros para estimular a economia da Alemanha e de outros países do bloco.
As projeções para 2025 não são otimistas, variam de discreto crescimento de 0,3% a possível redução de até 0,5%, segundo a Federação das Indústrias Alemãs (BDI). Esta recessão é considerada a mais prolongada desde a reunificação alemã no início dos anos 1990. A indústria reconhecida como a maior exportadora do planeta está oficialmente afetada. A dependência do gás russo, interrompido pela guerra com a Ucrânia, elevou os preços de energia. A diminuição da demanda da China abalou a balança comercial. A ameaça de novas tarifas de importação dos EUA sob um possível governo de Donald Trump adiciona mais incerteza à situação.
As eleições nacionais deste mês de fevereiro devem ser influenciadas por esse contexto. Insatisfação popular com a gestão econômica do governo atual, liderado por Olaf Scholz, cria um terreno fértil para partidos de oposição, especialmente aqueles da direita, capitalizando a frustração dos eleitores. A Alternativa para a Alemanha (AfD), um partido de extrema-direita, tem visto um crescimento significativo nas pesquisas de opinião, chegando a 22% de intenção de voto, conforme indicado por posts recentes em X. Elon Musk tem atuado diretamente.
A crise econômica intensifica debates sobre políticas de imigração, austeridade fiscal, e a relação com a União Europeia, temas que a AfD explora em sua retórica nacionalista e crítica ao establishment. A percepção de que os partidos tradicionais, como o SPD (Social-Democrata) de Scholz e os Verdes, falharam em proteger a economia alemã pode levar eleitores a buscar alternativas mais radicais. A insatisfação com a alta dos custos de vida, o desemprego e a dependência energética, agravados pela situação internacional, aumenta a atração por discursos que prometem soluções simplistas ou focadas na "soberania nacional", como aqueles oferecidos pela direita.
A Alemanha é um dos maiores importadores de produtos brasileiros como soja, café e carne. Além disso, a indústria manufatureira brasileira, que depende de componentes e máquinas importados, pode enfrentar aumentos de custos e dificuldades na cadeia de suprimentos, já que a produção alemã está em declínio.
Além disso, a incerteza econômica pode resultar em uma menor confiança dos investidores internacionais, afetando o fluxo de investimentos diretos estrangeiros para o Brasil. Há também uma possível vantagem para o Brasil se a desaceleração global ajudar a controlar a inflação através de menores preços de importação, especialmente de bens de capital e intermediários.