Direita e esquerda: entenda o que cada um significa na política

Entenda por que política não é só sobre ideologia, é sobre você, e como as suas decisões moldam o seu mundo

Por Laraelen Oliveira.

No Brasil, falar sobre direita e esquerda deixou de ser apenas um exercício de classificação política para se tornar uma questão de identidade, afeto e, muitas vezes, de embate. As disputas entre os dois lados ocupam não só os palanques e o Congresso, mas também as redes sociais, os grupos de WhatsApp, os almoços de família e o modo como milhões de brasileiros percebem o mundo. Mas afinal, o que significa ser de direita ou de esquerda? E como essa divisão impacta nossa vida prática?

O que é esquerda e direita, afinal?

Os termos nasceram na Revolução Francesa, no século XVIII, quando grupos com visões opostas se sentavam em lados diferentes da Assembleia Nacional. Ao longo do tempo, essa divisão passou por mudanças profundas. Hoje, como explica o mestre em ciência política, doutorando em comunicação e cultura digital na facom da UFBA e e membro do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT.DD), Eduardo Grizenti, a dualidade entre direita e esquerda tornou-se uma simplificação quase ineficiente frente à complexidade da vida política moderna.

Obra que Retrata o “eu” Político/Imagem: Robson Becker Loeck

De forma geral, a esquerda é associada à defesa de políticas sociais, igualdade, progressismo e maior atuação do Estado na economia e nas garantias sociais. Já a direita costuma defender valores conservadores, maior liberdade de mercado e uma presença mais limitada do Estado.

Mas Grizenti alerta: “Essa simplificação causa confusão. Há pessoas progressistas nos costumes que defendem o liberalismo econômico, e conservadores nos costumes que apoiam políticas estatais. O cenário real está bem além das caixinhas”.

Direita, esquerda e o cotidiano do brasileiro

Na prática, as pautas defendidas por cada lado acabam influenciando diretamente o dia a dia da população. A direita no Brasil tem priorizado temas como segurança pública com viés punitivista, combate à corrupção e anti política institucional. Já a esquerda destaca o combate às desigualdades, racismo estrutural, identidades sociais e justiça redistributiva.

Imagem da população protestando pela política/Foto: Fernanda Frazão

Esses temas se materializam em projetos de lei, decisões do governo, políticas públicas e até nos investimentos sociais em áreas como educação, saúde e habitação.

Polarização: um fenômeno emocional e midiático

Mais do que apenas diferenças de ideias, o Brasil enfrenta hoje uma “polarização afetiva”. Isso significa que os embates políticos deixaram de ser sobre projetos de país para se tornarem confrontos de pertencimento: “nós contra eles”.

Essa polarização é alimentada tanto pela mídia tradicional quanto pelas redes sociais, como explica Grizenti. “Hoje, os influenciadores digitais funcionam como representantes emocionais do público. Eles reforçam crenças já existentes e oferecem um sentimento de pertencimento”.

Nikolas Ferreiras na Câmara dos Deputados/Foto: Zeca Ribeiro

Um caso emblemático foi o chamado “efeito Nicolas Ferreira”, quando o deputado usou as redes para questionar políticas públicas e criou uma comoção digital que influenciou decisões governamentais. “O digital não cria a opinião do zero. Ele organiza e potencializa sentimentos que já estão na sociedade”, afirma Grizenti.

Estereótipos e fake news: a distorção do debate

Com a comunicação política cada vez mais baseada em arquétipos, como o “comunista perigoso”, o “patriota conservador” ou o “lacrador da esquerda”, o debate racional perde espaço para narrativas emocionais.

Nesse cenário, as fake news não criam crenças, mas reforçam o que as pessoas já querem acreditar. “Mesmo quando confrontadas com a verdade, muitas pessoas não mudam de opinião. Porque não se trata de verdade ou mentira, mas de reafirmação identitária”, explica o especialista.

O perigo da desinformação e o papel da mídia

Com a perda de espaço dos jornalistas e especialistas para os influenciadores digitais, a informação passou a ser mediada por figuras sem compromisso com a imparcialidade. Para Grizenti, “o jornalista tem um papel de ética e apuração que os influenciadores não seguem. Mas hoje, o que se busca é a confirmação do que já se acredita, não a descoberta do novo”.

Apasar disso, ele pondera que ainda não se pode dizer que os influenciadores são, por si só, uma ameaça à democracia, mas sim parte de um novo ecossistema de informação que precisa ser regulado com responsabilidade.

Consequências para a democracia

A polarização política e afetiva tem consequências diretas para o funcionamento da democracia. O debate público se empobrece, as instituições são desacreditadas e o voto passa a ser motivado por rejeição, e não por propostas. “É o voto contra, não o voto a favor”, define Grizenti.

Essa rejeição alimenta discursos extremistas e dificulta o surgimento de consensos em torno de políticas públicas fundamentais para o país.

Obra que Retrata a Manipulação do Público/Foto:Kako Abraham 

A grande pergunta que fica é: como o cidadão pode se proteger desse cenário tóxico de desinformação e manipulação?

Grizenti é direto: “a primeira pergunta é: a pessoa quer se proteger? Porque estar dentro de um grupo, sentir que pertence, é algo prazeroso. Para sair disso, é preciso esforço”.

A saída, segundo ele, passa pela educação política e midiática, fortalecimento das instituições e uma urgente regulação das redes sociais enquanto novas esferas públicas.

Um desafio coletivo

Direita e esquerda não são apenas posições políticas, são hoje símbolos de identidade e emoção. Mas para além das disputas, o desafio é recuperar a capacidade de diálogo, de debate baseado em ideias e dados, e não em ódio ou fanatismo.

A democracia, afinal, não é feita apenas de votos. Ela é feita de escuta, de pluralidade e de respeito à diferença.

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