O que é Habeas Corpus e quando pode ser usado

Habeas Corpus é uma das poucas ações judiciais que podem ser apresentadas por qualquer pessoa

Por Anna Caroline Santiago.

Quando você lê que alguém teve um habeas corpus negado ou concedido, talvez não fique claro o que isso significa na prática. Conhecido como um verdadeiro “remédio constitucional”, o habeas corpus é um instrumento jurídico destinado exclusivamente a proteger a liberdade. Mesmo assim, muita gente ainda o confunde com um recurso judicial.

O que é Habeas Corpus e quando pode ser usado.Foto: Imagem Ilustrativa | Freepik

O professor de Direito e especialista em processo civil Diogo Guanabara explica que o habeas corpus não é um recurso, mas sim uma ação urgente, utilizada quando alguém sofre, ou está prestes a sofrer, uma prisão ilegal.

“Os recursos servem para pedir que um tribunal reavalie uma decisão judicial, e podem tratar de qualquer assunto: penal, civil, administrativo etc. O habeas corpus, por outro lado, existe apenas para proteger a liberdade de ir e vir”, afirma.

A confusão, segundo ele, ocorre porque o habeas corpus também chega aos tribunais superiores. "Os tribunais brasileiros admitem o Habeas Corpus como substituto de um recurso, o que chamamos de sucedâneo recursal", definiu.

Segundo ele, isso acontece quando não existe outro recurso adequado ou quando há risco imediato à liberdade. 

Nessas situações, o tribunal pode aceitar o habeas corpus para corrigir erros graves. Mas Guanabara destaca ser uma exceção. "O normal é que cada tema seja tratado no recurso próprio, e o habeas corpus usado apenas para proteger a liberdade.”

Diferentes tipos de habeas corpus

Para entender o instrumento, é preciso diferenciar suas duas modalidades: preventivo e liberatório. Segundo o professor, a distinção está no momento em que a liberdade é afetada.

Habeas Corpus Liberatório

O Habeas Corpus Liberatório é, segundo Guanabara, o mais utilizado quando a violação à liberdade já ocorreu. Ou seja, a pessoa já está presa por uma decisão considerada ilegal ou abusiva.

"Neste cenário, o objetivo prático do pedido é garantir a liberdade de quem está detido. Se o juiz ou tribunal reconhece a ilegalidade, ele concede um alvará de soltura, determinando a imediata liberação do paciente", explica. 

Alvará de Soltura. Foto: Reprodução

Habeas Corpus Preventivo

Já o Habeas Corpus Preventivo, conhecido como salvo-conduto, é utilizado quando existe um risco real e imediato de prisão. Na prática, esse tipo de pedido busca impedir que a detenção aconteça.

Ele costuma ser acionado, quando há um mandado de prisão já expedido, mas ainda não cumprido, ou quando a investigação está avançada e há indícios concretos de que o juiz pode decretar uma prisão preventiva a qualquer momento.

Se o pedido for aceito, o juiz não concede uma soltura, afinal, a pessoa ainda não foi presa, mas sim um salvo-conduto, que é uma ordem judicial garantindo que o paciente não poderá ser detido pelo fato específico que motivou a ameaça.

O especialista resume. “Em suma: o liberatório corrige uma prisão ilegal já efetivada; o preventivo evita uma prisão ilegal iminente.”

Quando cabe habeas corpus

Guanabara explica que o juiz reconhece a ameaça ou violação à liberdade com base em critérios previstos na lei. Os mais comuns são:

  • Ilegalidade da prisão: quando não há flagrante, mandado válido ou quando o mandado foi expedido por autoridade incompetente.

  • Falta de fundamentação: quando a decisão que decretou a prisão não apresenta justificativas concretas.

  • Excesso de prazo: quando o processo está parado sem motivo e o réu permanece preso além do razoável.

  • Extinção da punibilidade: quando a pena já foi cumprida ou o crime prescreveu.

 Juiz reconhece a ameaça ou violação à liberdade com base em critérios previstos na lei. Foto: Freepik

Quando não cabe habeas corpus

Há situações onde o pedido não pode ser utilizado, como:

Pena de multa: Segundo a Súmula 693 do STF, não cabe habeas corpus contra decisão cuja pena aplicada é somente pecuniária.

Sanções militares: A Constituição proíbe o uso de habeas corpus para punições disciplinares militares. No entanto, a Justiça admite o instrumento para verificar a legalidade do procedimento — mas não para discutir o mérito da punição.

Casos em que a pena já foi extinta: Não é possível usar habeas corpus para questionar prisões já resolvidas, como quando a pessoa já cumpriu a pena.

Como solicitar um habeas corpus

O habeas corpus é uma das poucas ações judiciais que podem ser apresentadas por qualquer pessoa, mesmo sem advogado. Isso ocorre devido à importância do direito que ele protege.

  • Qualquer cidadão pode impetrar: pode ser o próprio preso, um familiar, amigo ou até um desconhecido.

  • Como fazer: o pedido pode ser escrito de forma simples ou apresentado verbalmente, em casos de urgência.

O documento deve conter:

  1. Nome do paciente;

  2. Nome da autoridade coatora (quem determinou a prisão);

  3. Motivo da ilegalidade;

  4. O pedido (libertação ou salvo-conduto).

Erros frequentes

Entre os equívocos mais comuns cometidos por familiares ou até advogados, estão:

  • Usar habeas corpus para discutir qualquer tipo de decisão judicial;

  • Tentar revisar provas ou solicitar absolvição — o habeas corpus não serve para isso;

  • Acionar o instrumento em questões que não envolvem liberdade, como:

    • disputas de guarda

    • multas

    • punições administrativas

    • decisões com as quais a pessoa somente discorda.

Exemplos recentes de habeas corpus aceitos e rejeitados

Caso Hytalo Santos

Hytalo Santos e Kamylinha. Foto: Reprodução | redes sociais

O influenciador Hytalo Santos preso desde agosto desse ano, teve o habeas corpus negado pelo Tribunal de Justiça da Paraíba. O influenciador é investigado pelo Ministério Público do Estado da Paraíba pelos crimes de tráfico humano e exploração sexual infantil. As prisões foram determinadas pela 2ª Vara da Comarca de Bayeux, da Paraíba, sob ordem do juiz Antônio Rudimacy Firmino de Sousa.

Os promotores justificaram a prisão preventiva dos dois como forma de evitar a prática de novos crimes e impedir a destruição ou ocultação de provas, condutas que, segundo a acusação, já teriam ocorrido desde o início das investigações.

As investigações contra Hytalo começaram em 2024, após a denúncia de vizinhos de que as produções envolvendo crianças e adolescentes se estendiam até tarde e faziam muito barulho. Segundo o Ministério Público, "muitas dessas filmagens envolviam bebidas alcoólicas, além de cenas que tinham uma conotação sensual".

caso ganhou repercussão nacional após vídeo viral do youtuber Felca, em que ele denunciou "adultização" infantil nas redes sociais. Com o debate, a Justiça também determinou a suspensão de todos os perfis de Hytalo, proibiu contato com menores citados nas investigações e ordenou a desmonetização de conteúdos.

Iuri Sheik

Em maio deste ano, o influenciador digital baiano Iuri Santos Abrão, conhecido como Iuri Sheik, de 27 anos, foi absolvido da acusação de homicídio do empresário William Oliveira.

O julgamento, realizado no Fórum Desembargador Wilde Oliveira Lima, em Santo Antônio de Jesus, no Recôncavo Baiano, durou cerca de 10 horas e contou com a participação de um júri popular.

Iuri Sheik ganhou 20 mil seguidores logo após assassinato. | Foto: SSP-BA

Iuri Sheik confessou ter matado o empresário ex-sócio da banda de pagode Black Stlye. O caso aconteceu em uma festa tipo "paredão" no município baiano.

De acordo com testemunhas ouvidas pela polícia, Iuri teria matado a vítima por ele não ter o cumprimentado no evento. Ele foi baleado duas vezes no peito e morreu dois dias depois, deixando uma esposa e três filhas.

Iuri Sheik chegou a ficar preso um ano e cinco meses, na Penitenciária da Mata Escura, em Salvador. No entanto, em 2020, ele foi solto após um habeas corpus concedido pelo TJ-BA.

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