Quantas horas você precisa trabalhar para comprar comida em Salvador? Pesquisa responde e lista os "vilões"
Em dezembro de 2021, a cesta básica em Salvado aumentou quase 3%, custando, em média R$ 518.
Um trabalhador soteropolitano precisa trabalhar mais de 103 horas para conseguir o dinheiro de uma cesta básica, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE). Em 2021, o valor do grupo de alimentos aumentou nas 17 capitais onde é realizada mensalmente a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos.
Entre novembro e dezembro de 2021, o valor da cesta subiu em Salvador (2,43%) e outras sete cidades. Com o preço médio de R$ 518,21, a capital baiana ainda ficou com o terceiro menor preço da lista, atrás apenas de João Pessoa (R$ 510,82) e Aracaju (R$ 478,05).
SALÁRIO IDEAL
Considerando a cesta mais cara, que, em dezembro, foi a de São Paulo, e levando em consideração a determinação constitucional que estabelece que o salário mínimo deve ser suficiente para suprir as despesas de um trabalhador e da família dele com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência, o DIEESE estima mensalmente o valor do salário mínimo necessário.
Em dezembro de 2021, o salário mínimo necessário para a manutenção de uma família de quatro pessoas deveria equivaler a R$ 5.800,98 ou 5,27 vezes o mínimo de R$ 1.100,00. Em novembro, o mínimo necessário correspondeu a R$ 5.969,17 ou 5,43 vezes o piso vigente. Em dezembro de 2020, o salário
TEMPO DE SERVIÇO
Considerando apenas Salvador, um trabalhador precisa de 103h38 minutos de trabalho para se alimentar. Isso corresponde a gastar 50,93% do seu salário apenas com alimentação, já que a cesta custa R$ 518,20, em média.
Em dezembro de 2021, o tempo médio necessário para um brasileiro adquirir os produtos da cesta básica foi de 119 horas e 53 minutos. Em novembro, a jornada necessária foi calculada em 119 horas e 58 minutos. Em dezembro de 2020, um ano antes, a média havia sido de 115 horas e 08 minutos.
"Quando se compara o custo da cesta e o salário mínimo líquido, ou seja, após o desconto referente à Previdência Social, verifica-se que o trabalhador remunerado pelo piso nacional comprometeu, em dezembro de 2021, 58,91% do rendimento para adquirir os mesmos produtos que, em novembro, demandaram 58,95%. Em dezembro de 2020, a média foi de 56,57%", explica o DIEESE.
VILÕES
Os preços dos alimentos básicos, principalmente os que são commodities, seguiram elevados em 2021, por causa da demanda externa aquecida, do dólar em patamar atraente para as exportações e influenciando negativamente os custos de produção (elevando os preços dos insumos) e de problemas climáticos (seca, geada).
Por outro lado, outros produtos tiveram redução de preço, uma vez que a economia seguiu em baixa, com poucos empregos gerados, crescimento da informalidade e alto desemprego, o que freou o consumo. Muitos produtores não conseguiram repassar os aumentos para o preço final.
Os dados da Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos mostraram que, entre dezembro de 2020 e de 2021, nove produtos tiveram alta acumulada de preços em quase todas as capitais pesquisadas. Foram eles: carne bovina de primeira, açúcar, óleo de soja, café em pó, tomate, pão francês, manteiga, leite integral longa vida e farinha de trigo, no Centro-Sul, e de mandioca, no Norte e Nordeste. Por outro lado, batata, arroz agulhinha e feijão registraram taxas negativas na maior parte das capitais.
Sobre a carne bovina de primeira, o Dieese acredita que esse resultado deveu-se ao alto volume exportado ao longo de 2021, principalmente para a China. Houve ainda influência da elevação no preço de insumos como milho e soja, que foram direcionados para exportação, e do clima seco, que dificultou as pastagens.
Já o preço do açúcar aumentou em todas as capitais em 2021. A baixa oferta interna ocorreu devido ao volume exportado, ao clima seco e às geadas de julho, que fizeram com que o preço do açúcar no varejo se mantivesse alto ao longo do ano. Todas as cidades também acumularam alta no preço do óleo de soja.
O café em pó acumulou aumento em todas as cidades, pois ao longo do ano, a expectativa foi de menor produção mundial. No segundo semestre, a geada e a estiagem prolongada causaram impactos na produção e na safra de 2022 e consequente diminuição da oferta e, por isso, o café foi negociado por maior preço no mercado futuro.
Também a elevação dos valores do frete internacional provocou dúvidas em relação ao preço futuro. Todos esses fatores deixaram o café mais caro no varejo.
O preço do quilo do tomate subiu em todas as cidades em 2021, com variações expressivas em Natal (102,29%), Vitória (58,53%), Florianópolis (43,85%), Rio de Janeiro (42,39%) e Belo Horizonte (36,76%). Houve diminuição da área plantada e busca por culturas mais lucrativas, por causa do menor consumo das famílias em 2021.
O pão francês teve o preço aumentado em 16 cidades, pois grande parte da farinha usada na produção do pão é importada e as constantes desvalorizações da taxa de câmbio encareceram o insumo. Os reajustes da energia também tiveram impacto no valor final do produto.
O valor da manteiga subiu nas 17 capitais e o leite integral registrou acréscimos em 12 cidades. O clima seco e as geadas de julho prejudicaram as pastagens. O alto volume exportado de milho e soja elevou os valores dos insumos para o produtor. O real desvalorizado diante do dólar impediu as importações de derivados lácteos.
No varejo, os aumentos de preços só não foram maiores por causa da redução da renda e da demanda das famílias.
BAIXOU
O preço do arroz agulhinha diminuiu em 15 capitais. Alguns motivos explicam a queda do preço médio do produto: menor demanda interna, em decorrência da queda de renda dos brasileiros e, ainda, a dificuldade de transporte, devido ao aumento do valor do frete internacional, o que elevou os estoques em vários países e reduziu o preço no exterior.
O valor do feijão diminuiu em 13 cidades, entre dezembro de 2020 e de 2021. O tipo carioquinha, pesquisado no Norte, Nordeste, Centro-Oeste, em Belo Horizonte e São Paulo, apresentou elevação de preço apenas em Salvador (7,56%) e Campo Grande (3,22%). Mesmo caindo na maior parte das cidades, o preço do feijão esteve em altos patamares durante o ano, o que reduziu a demanda interna.
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