Empresa contesta acusações de 'escravizados' chineses em fábrica da BYD na Bahia
Ministério do Trabalho (MPT) identificou 163 trabalhadores chineses em condições degradantes em um canteiro de obras
Fonte: Da redação, com informações da Reuters
A Jinjiang Group, empresa chinesa contratada da fabricante de veículos elétricos BYD, negou as acusações feitas por autoridades brasileiras de que seus funcionários estariam trabalhando em "condições análogas à escravidão". Em nota publicada na rede social 'Weibo', da China, nesta quinta-feira (26), a empresa afirmou que as descrições são "inconsistentes com os fatos" e apontou mal-entendidos na tradução das informações.
Auditores fiscais do Ministério do Trabalho (MPT) identificaram 163 trabalhadores chineses em condições degradantes em um canteiro de obras de uma fábrica da BYD em Camaçari, na Bahia. Em resposta, a BYD anunciou o rompimento do contrato com a empresa responsável pelos trabalhadores e informou que está colaborando com as autoridades.
"Ser injustamente rotulado como 'escravizado' fez com que nossos funcionários sentissem que sua dignidade foi insultada e seus direitos humanos violados, ferindo seriamente a dignidade do povo chinês. Assinamos uma carta conjunta para expressar nossos verdadeiros sentimentos", declarou o Jinjiang Group.
A declaração foi amplamente divulgada após ser repostada por Li Yunfei, gerente geral de marca e relações públicas da BYD, que acusou "forças estrangeiras" e parte da mídia chinesa de tentarem "difamar marcas chinesas, o país e minar o relacionamento entre a China e o Brasil".
Segundo informações da Reuters (agência internacional de notícias), a BYD indicou a postagem de Li no Weibo como posicionamento oficial sobre o assunto. O Jinjiang, por sua vez, não respondeu diretamente às perguntas da agência.
Resposta da China e explicações do Jinjiang Group
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, confirmou que a embaixada chinesa no Brasil está em contato com autoridades brasileiras para esclarecer a situação.
O Jinjiang argumentou que as alegações ocorreram devido a problemas de tradução e diferenças culturais. A empresa afirmou que as perguntas feitas pelos auditores brasileiros foram "sugestivas". Além disso, publicou um vídeo em que trabalhadores chineses aparecem lendo uma carta assinada coletivamente, defendendo a empresa.
No vídeo, um dos trabalhadores afirmou: "Estamos muito felizes por vir a Camaçari para trabalhar. Temos cumprido as leis e os regulamentos, trabalhando duro durante o período, com a esperança de que a construção do maior projeto de veículos de energia nova no Brasil possa ser concluída o mais rápido possível".
O Jinjiang também alegou que os passaportes de 107 trabalhadores foram entregues à empresa apenas para viabilizar a emissão de certificados de identidade temporários no Brasil, enquanto os auditores interpretaram isso como retenção indevida de documentos.
+ Chineses em trabalho escravo na BYD: o que se sabe sobre o caso até agora
O que aconteceu na fábrica da BYD em Camaçari?
Em novembro e dezembro de 2024, foram identificadas graves irregularidades nas condições de trabalho no canteiro de obras da montadora BYD em Camaçari, região metropolitana de Salvador (RMS). Uma força-tarefa resgatou 163 trabalhadores, principalmente chineses, em situação análoga à escravidão. Entre as irregularidades constatadas estavam alojamentos precários, condições degradantes de trabalho e retenção de documentos.
Quem eram os trabalhadores resgatados?
Os trabalhadores resgatados eram, em sua maioria, chineses contratados pela empresa terceirizada Jinjiang Construction Brazil Ltda., que prestava serviços para a BYD. Eles estavam distribuídos em quatro alojamentos principais em Camaçari, com condições consideradas alarmantes.
Quais problemas foram encontrados nos alojamentos?
Os alojamentos apresentavam diversas irregularidades, incluindo:
- Banheiros em condições precárias, sem separação por sexo e sem assentos sanitários adequados;
- Falta de locais apropriados para lavar roupas, obrigando os trabalhadores a utilizarem os banheiros para essa finalidade;
- Cozinhas inadequadas, sem armários para armazenamento de alimentos e com materiais de construção próximos à comida;
- Refeitórios insuficientes, o que levava os trabalhadores a comerem em suas camas.
Havia outras práticas abusivas?
Sim. Segundo o Ministério Público do Trabalho (MPT), além das condições degradantes, os trabalhadores sofriam com:
- Retenção de passaportes;
- Pagamento parcial dos salários (apenas 40% em moeda chinesa);
- Cobrança de caução e ônus excessivo para rescisão contratual.
O que a BYD fez após as denúncias?
Nesta terça-feira (24), a BYD anunciou a rescisão do contrato com a construtora terceirizada Jinjiang Construction Brazil Ltda.. A empresa também afirmou que garantirá os direitos trabalhistas dos operários e que os trabalhadores resgatados serão transferidos para alojamentos em melhores condições.
Como as autoridades agiram?
A força-tarefa, composta por órgãos como o MPT, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e a Defensoria Pública da União (DPU), realizou inspeções desde novembro. Além do resgate dos trabalhadores, as áreas embargadas continuarão interditadas até a regularização completa. Uma audiência virtual está marcada para 26 de dezembro para discutir as medidas necessárias.
O que diz a BYD sobre as acusações?
Em nota, a BYD reiterou que “não tolera desrespeito à legislação brasileira e à dignidade humana” e destacou seu compromisso em colaborar com as autoridades para solucionar o caso.
O que é esperado para os próximos dias?
As inspeções continuarão, com análise de documentos e possíveis novas visitas. A BYD e a Jinjiang deverão apresentar soluções para os problemas identificados na audiência marcada para quinta-feira (26).
Quais as consequências legais para os envolvidos?
Os responsáveis pelas práticas abusivas poderão enfrentar penalidades, incluindo sanções trabalhistas e criminais. Trabalhadores estrangeiros acusados de agredir funcionários também podem ser expulsos do Brasil, dependendo das conclusões das investigações. A afirmação foi feita pelo vice-presidente sênior da BYD no Brasil, Alexandre Baldy, durante coletiva de imprensa na própria fábrica em Camaçari, no último dia 2 de dezembro.
Como denunciar trabalho escravo?
Denúncias de trabalho escravo podem ser feitas de forma remota e sigilosa pelo Sistema Ipê, ou pelo Sistema de Coleta de Denúncias do Ministério Público do Trabalho (MPT).
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