Corregedoria deu ‘sumiço’ em laudo sobre morte de mulher em suposta ação desastrada da PM
Corregedoria deu ‘sumiço’ em laudo sobre morte de mulher em suposta ação desastrada da PM
A dor da perda ainda aflige amigos e familiares de Vânia Machado. Era noite de sábado, 23 de abril de 2016, quando ela foi baleada e morta durante uma suposta operação policial no bairro do Lobato, Subúrbio de Salvador. Nesta sexta-feira (24/3), exatamente 11 meses após o caso, nenhuma resposta foi dada sobre a tragédia que assolou a família da evangélica.
O irmão da vítima aceitou dar entrevista com exclusividade para a equipe do Aratu Online. Clóvis Machado permanece com a mesma versão desde o domingo fatídico: “Vânia foi assassinada por um policial militar lotado na 14ª Companhia Independente (CIPM/Lobato)”.
Clóvis presenciou a morte da própria irmã. Ele conta que a ação dos militares foi montada para ser registrada por um repórter e cinegrafista de uma emissora de TV. “Eles vinham fazendo isso há meses. Quando um dos policiais deu o tiro, acertou Vânia na porta de casa. Nós temos testemunhas, muita gente viu. Depois daquilo tudo, peguei no braço do repórter e falei ‘olha o que você fez!’. Mas eles foram embora”, conta.
Toda a situação foi registrada no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). É comum, neste tipo de caso, que o delegado responsável peça um laudo que aponte ou não se o disparo que atingiu a vítima partiu do revólver do militar. O relatório é elaborado pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT).
Na época, o titular da 3ª Delegacia de Homicídios, Reinaldo Mangabeira, chefiou o inquérito relacionado à morte de Vânia. Neste intervalo de tempo, ele foi exonerado do cargo para assumir outra delegacia. A atual delegada que acompanha o caso, Pilly Dantas, não foi localizada pela reportagem.
A assessoria de imprensa do Departamento de Polícia Técnica (DPT) informou que o laudo balístico foi concluído e entregue na Corregedoria da Polícia Militar no mês de julho. Oito meses depois o laudo continua retido na Corregedoria sem divulgação do seu conteúdo.
Questionado sobre a demora, a polícia informou em nota que ” todos os policiais envolvidos estão respondendo
processos administrativos e aguardam resultados das apurações”. No entanto, não respondeu sobre a demora na liberação do conteúdo do laudo.
À época do ocorrido a polícia sustentou a versão que o disparo não foi feito sem justificativa à pedidos de uma emissora de TV. “Uma denúncia via Cicom [Centro Integrado de Comunicação] disse que estava tendo uma festa no local. Durante as abordagens, alguns homens correram, dando início a um confronto. Durante a troca de tiros, ela [Vânia] foi atingida?, contou o comandante da 14ª CIPM, major Carlos Humberto, na ocasião.
SAUDADES
A primeira frase desta reportagem tem um peso marcante. Os pais de Vânia e Clóvis são idosos e sofrem com a saudade. “Todos os dias nós pensamos nela. Nossa família não costuma ir para festas. Vamos de casa para o trabalho e do trabalho para a Igreja. Ainda estamos superando todo aquele trauma. Não podemos ouvir um barulho na rua que toda a situação vem nas nossas memórias e Estado deve pagar por isso”, enfatiza o irmão.
As duras palavras de Clóvis se estendem quando compara a morte de sua irmã com a de um agente militar. “Quando um policial morre, em uma semana o suspeito é preso ou morre. Quando se trata de um inocente, nada é feito. A maior Justiça, porém, será a de Deus. Nela, todos vão pagar”, finaliza.
CASO SEMELHANTE, DOR COMPARTILHADA
A família da personagem desta reportagem padece por uma resposta. Essa situação é muito parecida com outro caso que aconteceu recentemente e tem o enredo bastante parecido. A garota Mirela do Carmo Barreto, de 6 anos, foi baleada durante uma operação policial no bairro de São Caetano, também em Salvador.
Os moradores da Rua Goméia são enfáticos ao afirmar que policiais militares, desta vez lotados na 9ª Companhia Independente (CIPM/Pirajá), chegaram atirando e atingiram a criança, que estava dentro de sua casa.
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A versão da PM, porém, é diferente. A corporação alega que os agentes foram chamados para atender uma ocorrência de furto de celular e trocou tiros com criminosos na localidade.
“Eu não estava lá, mas em São Caetano creio que não houve troca de tiros. Eles [PMs] sempre agem assim”, condena Clóvis, se solidarizando com os familiares de Mirela. Assim como o caso de Vânia, foi pedido o mesmo exame para o crime de Mirela. Novamente, não há um prazo para a conclusão desta etapa da investigação.
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