PM absolve policiais envolvidos em caso de agressão filmada; “não me deu satisfação”
PM absolve policiais envolvidos em caso de agressão filmada; “não me deu satisfação”
A primeira batalha na busca por Justiça chegou ao fim, e com derrota. Ivanildo dos Santos Nascimento, que há exatamente um ano procura respostas sobre a morte de seu filho, Gabriel Boaventura de Melo Nascimento, recebeu nesta quinta-feira (27/12), a informação que temia. A Polícia Militar absolveu os integrantes da guarnição envolvida no caso, ocorrido no dia 24 de dezembro de 2017, no bairro de Ilha Amarela, em Salvador.
A luta de seu Ivanildo começou na madrugada daquela véspera de Natal. Gabriel, pela versão do pai, estava em um bar comemorando o nascimento da filha – que atualmente vive com a mãe em outra cidade baiana – quando foi abordado pelos agentes do Pelotão de Emprego Tático Operacional (PETO) da 14ª Companhia Independente (CIPM/Lobato). Ninguém sabe o que aconteceu efetivamente após a abordagem.
A corporação, que só confirmou a informação ao ser questionada pelo Aratu Online, se pronunciou por meio de nota, destacando que houve a materialidade, já que a vítima foi, nas palavras da PM, “agredida”. Na sua própria investigação, porém, a Polícia Militar disse que absolveu os agentes baseada nos relatos de testemunhas e outras peças. Sem dar detalhes, a instituição reforçou que não viu motivos para punir os agentes.
Ivanildo, informado da absolvição pelo Aratu Online, criticou a postura da corregedoria da PM. “Ouviu a testemunha, concluiu o caso e não me comunicou nada, não falou nada comigo, não me deu satisfação”, disse. O pai da vítima prometeu ainda ir ao Ministério Público da Bahia (MP-BA) cobrar providências para a situação.
O MP baiano é o responsável por receber as investigações da PM e da Polícia Civil – que faz um trabalho paralelo -. A partir daí, o promotor sorteado decide se oferece ou não denúncia à Justiça. O órgão informou que o nome Gabriel Boaventura de Melo Nascimento não consta no seu sistema.
Após contato do Aratu Online, agentes do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) ligaram para seu Ivanildo. Os investigadores contaram que o Ministério Público devolveu o inquérito e mandou a Polícia Civil ouvir todas as testemunhas novamente. A delegada responsável confirmou para a assessoria que o laudo foi concluído em junho e retornou no mês seguinte para “diligências complementares”.
IMAGENS
A testemunha ouvida no inquérito da PM não teve a identidade revelada, mas Ivanildo supõe que seja a mesma pessoa que gravou imagens de Gabriel sendo arrastado e agonizando perto dos policiais. Dois dos três vídeos foram feitos na garagem de uma casa. Acredita-se que Gabriel tenha invadido o local para se esconder durante a perseguição.
?Você usa sua droga e fica nessa onda aí!??. É com essa frase que os policiais falam com o homem, já caído e sem reação alguma. Ao comentar essa primeira imagem durante entrevista ao Aratu Online, em junho, quando o caso completou seis meses, Ivanildo disse que não sabe o que aconteceu no bar para o filho ser perseguido. ?Aquela residência fica perto de onde tudo aconteceu. Eu acredito que o policial militar bateu nele na rua?.
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O pai recebeu os vídeos dias após o acontecimento, por meio do aplicativo WhatsApp. “No sábado [24], quando faleceu, a delegacia esteve lá na rua para fazer o levantamento. Eles [policiais civis] tomaram algumas informações da vizinhança e foram embora. Por volta de meia hora depois apareceram algumas pessoas lá dizendo que quem tinha batido no meu filho tinha sido um policial. Até então, eu não queria acreditar. Porém, depois, começaram a aparecer vídeos de policiais o arrastando e xingando?, frisou Ivanildo durante a entrevista em junho.
A segunda imagem não será colocada nesta reportagem por conter uma cena forte de Gabriel sendo arrastado pelos policiais da 14ª CIPM, enquanto a última já mostra o jovem na rua. A família entende que, depois disso, ele foi jogado na via pública, já agonizando. Detalhe: os policiais ficam ao lado da vítima, sem prestar socorro. A ajuda só foi dada por uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), chamada pelo próprio pai.
VIDA QUE SEGUE
“A sensação é de impunidade. Nesse último Natal eu fiquei em casa, não comemorei, porque lembrei do meu filho”. É com essa frase que Ivanildo Nascimento exemplifica como tem vivido seus últimos 365 dias. Sem ver as netas diariamente, ele continua trabalhando como marceneiro, profissão que, por ironia do destino, era seguida por Gabriel. “Perdi meu filho, meu ajudante. Mesmo com essa situação, não posso parar de trabalhar”, pondera.
O homem promete ir até a corregedoria da Polícia Militar, localizada no bairro da Pituba, em Salvador, para esclarecer os motivos que levaram à absolvição dos policiais envolvidos no caso.
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