“Parece que foi ontem”, diz sobrevivente sobre explosão de farmácia em Camaçari após um ano
“Parece que foi ontem”, diz sobrevivente sobre explosão de farmácia em Camaçari após um ano
“Parece que foi ontem”. É com esta singela frase que o operador de caixa Rubem Gama, 26 anos, relembra a tragédia em uma farmácia da rede Pague Menos, no centro de Camaçari, Região Metropolitana de Salvador, que deixou dez mortos há exatamente um ano. No dia 23 de novembro do ano passado, o jovem almoçava com alguns colegas na parte superior do estabelecimento, quando ouviram o estrondo da explosão.
“Desci pela lateral e passei por dentro do fogo, assim como outra funcionária. Me queimei muito, inalei fumaça e saí para pedir socorro”, diz Rubem. Ele adquiriu queimaduras de segundo e terceiro graus na barriga, rosto, braços e pernas. Foi para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do município e depois transferido para o Hospital Teresa de Lisieux, em Salvador, onde ficou internado por uma semana.
O rapaz ficou sete meses afastado das atividades rotineiras para tratamento psicológico e fisioterápico, em virtude de uma queloide no braço. Toda a assistência médica foi arcada pela empresa, segundo ele. Hoje, trabalha em outra loja da mesma rede de farmácia.
Apesar das marcas, a história do operador foi uma das mais positivas, visto que, entre as dez vítimas fatais, estavam quatro funcionários e seis clientes – incluindo uma criança, Celine Pires Souza Castro, de apenas 9 anos -. As outras foram Cristiana do Nascimento Souza, 39 anos, Denilda de Jesus Puridade, 36, Luciane Alves Santos, 38 anos, Maria do Carmo Santos de Menezes, Celine Pires Souza Castro, 9, Lidiane Macedo Silva, 33 anos, Tatiane Ribeiro Mendes, 34 anos, Rosiane dos Santos, 35 anos e Vilma Conceição Santos, 40 anos.
CAUSAS E DESDOBRAMENTOS
Segundo o auditor-fiscal do trabalho, Amaurilio Alencar, que atua em Camaçari, a explosão foi proveniente de um vazamento de gás. No ano passado, a perícia apontou que a explosão pode ter sido originada por uma série de “pequenos erros” causados pelos técnicos que realizavam manutenção no telhado metálico.
Entre as falhas, o uso de GLP (popularmente conhecido como gás de cozinha) e o inadequado “bico” do maçarico, além de a empresa não ter comunicado previamente ao Ministério do Trabalho sobre a realização da reforma, o que é obrigatório, de acordo com norma regulamentadora.
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“A investigação na área trabalhista foi concluída e os autos de infração foram lavrados”, pontuou o fiscal Amaurilio Alencar. Ele falou, ainda, que um relatório da conclusão da mesma foi encaminhado ao Ministério Público do Trabalho (MPT), à Polícia Civil e ao Ministério Público estadual (MP-BA).
Procurada pela reportagem, a assessoria do MP-BA informou que o órgão “está aguardando a Justiça marcar a audiência, o que só pode ser feito depois que os réus apresentem a defesa”.
As pessoas indiciadas foram Josué Ubiranilson Alves, diretor da Pague Menos, Augusto Alves Pereira, gerente regional, Maria Rita Santos Sampaio, gerente da farmácia, Erick Bezerra Chianca, sócio da empresa de manutenção Chianca, Rafael Fabrício Nascimento de Almeida, sócio da empresa da AR Empreendimentos, e Luciano Santos Silva, técnico em refrigeração pela AR. Estes respondem por homicídios por dolo eventual e tentativas de homicídio.
Já Fernando Vieira de Farias e Edilson Soares de Souza, funcionários da empresa de manutenção Chianca, foram indiciados por homicídio culposo (quando não há intenção de matar). Na época, a delegada titular da 18ª Delegacia Territorial (DT/Camaçari), Thaís Siqueira, disse que eles agiram com negligência.
SAUDADE
Enquanto a esfera judicial não finaliza o caso, é difícil, para quem viveu aquele momento, esquecê-lo. “Sentimos muita falta dos colegas que se foram. As imagens vêm à cabeça e ainda é muito triste”, relatou Rubem. Ele também contou que nesta quinta-feira (23/11) haverá uma missa, na cidade, em homenagem às vítimas. “Os sobreviventes também vão se encontrar, ver como cada um está e aproveitar para celebrar a vida”, concluiu.
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*Publicada originalmente às 6h (23/11)