FLIPELÔ: Martinho da Vila e Conceição Evaristo brilham na terceira noite do evento
FLIPELÔ: Martinho da Vila e Conceição Evaristo brilham na terceira noite do evento
Dois autores negros foram os grandes destaques da noite de sexta-feira (11/8) do Centro Histórico de Salvador durante o terceiro dia de atividades da primeira Festa Literária Internacional do Pelourinho ? FLIPELÔ. Martinho da Vila e Conceição Evaristo movimentaram o público que os acompanhavam durante o evento.
Bastante emocionado, Martinho da Vila lançou o livro ?Conversas cariocas?(Editora Malê), o 16º da sua carreira, na Casa do Olodum, no Pelourinho. O evento que contou com sessão de autógrafos, teve a participação de figuras importantes do movimento negro local, como Antônio Carlos dos Santos, o Vovô do Ilê, a Diretora do Centro de Culturas Populares e Identitárias, Arany Santana, o cantor Magary Lord e o presidente do Olodum, João Jorge.
COTIDIANO E HOMENAGENS
Aos 79 anos de idade, com metade dedicados a música e a literatura, o vascaíno fanático não escondeu o nervosismo em participar de mais um lançamento de sua carreira. “A gente sobe no palco há anos e sempre quando vou entrar bate uma tensãozinha. E aqui um pouco mais, porque estou nesse lugar incrível que é a Casa do Olodum. É o meu pessoal, o Vovô do Ilê veio aqui me dar um abraço, eu fiquei muito feliz!”, comentou o sambista.
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?Conversas cariocas? é uma coleção de crônicas escritas por Martinho nos últimos anos para jornal. Os assuntos das 248 páginas do livro variam entre os amigos do samba, a família, o Vasco, sua cidade natal: Duas Barras e até o cenário político brasileiro dos momentos que antecederam os jogos olímpicos.
Após o lançamento do livro, Martinho comentou sobre a homenagem que irá receber do carnaval de São Paulo, em 2018, ano que comemora 80 anos de idade, em fevereiro, e promete lançar um novo CD com música inéditas. Com o enredo ?Peruche celebra Martinho: 80 anos do Dikamba da Vila?, o sambista é a figura central do próximo carnaval da Unidos do Peruche. Apesar dos anos dedicados ao carnaval, Martinho afirma que está muito feliz e que não está se envolvendo com a organização do carnaval “sou só o homenageado”.
CONFIRA A ENTREVISTA COM O CANTOR MARTINHO DA VILA:
Fechando a noite de atividades da Flipelô, a escritora mineira Conceição Evaristo fez com que várias pessoas formassem uma grande fila na porta do Teatro Sesc Pelourinho, para a palestra “Diálogos Insubmissos de Mulheres Negras”. O alvoroço formado na espera e os olhares ansiosos da plateia para assistir a escritora não foi nenhuma surpresa, Conceição Evaristo era uma das principais estrelas do evento. Nascida em uma favela de Belo Horizonte, Conceição teve que conciliar os estudos com o trabalho de doméstica.
GRATIDÃO
A mineira foi para o Rio de Janeiro após ser aprovada em um concurso público para o magistério e começou a estudar Letras na UFRJ, na mesma cidade concluiu o mestrado em Literatura Brasileira pela PUC-Rio, e o doutorado em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense (UFF). “A resistência do povo negro é em estado perene”, comentou a escritora que, ao relembrar do passado durante a palestra, citou um episódio em que as pessoas de sua família comemoraram o fato dela ter concluído a 4º série e agora saber “contar dinheiro”.
Durante a palestra, Conceição enfatizou sua gratidão com as mulheres negras e os movimentos organizados que propagaram suas palavras para os mais diversos espaços sociais, antes mesmo da mídia conhecer o seu trabalho como escritora. ?Eu hoje tenho certeza absoluta que quem me trouxe aqui foram vocês. Eu não tenho que fazer gracinha para ninguém! Se hoje posso ser publicada por outras editoras, sei que foram as editoras negras que apostaram e confiaram em mim, no início. Tenho dito isso muito, porque quero que me ajudem a sustentar esse discurso de que não é o Prêmio Jabuti que me fez, não foi a Flip [Feira Literária Internacional de Paraty], nem alguma editora que vem me procurar, mas a mídia me descobriu depois que vocês me mostraram?, afirma.
Aos 71 anos de idade, a autora comentou sobre a importância dos coletivos organizados para a publicação e divulgação de autores negros, apesar do racismo estrutural e como consequência: a invisibilidade, em que essas produções ainda passam atualmente. Com o seu primeiro livro publicado aos 44 anos, Conceição relatou ao público o processo produtivo em que passou, quando escreveu a obra Insubmissas Lágrimas de Mulheres, atribuindo a doença enfrentada no período do doutorado, à ?crueldade da academia?.
Bastante ovacionada pela plateia, a escritora encerrou a sua participação comentando sobre a inspiração, sobretudo das mulheres negras, com as suas obras e do quanto a literatura é uma ferramenta de reflexão e resistência dentro dos mais diversos contextos sociais. “Quem diz que eu sou escritora é o leitor. É esse retorno que me certifica que essa literatura faz sentido. Isso me compromete cada vez mais com a escrita, a cada mulher que se reconhece no meu texto, ela me potencializa para uma nova escrita”, afirma.
CONFIRA A PARTICIPAÇÃO DE CONCEIÇÃO EVARISTO NA FLIPELÔ:
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