EM GUERRA: Estudantes de Direito da UFBA mantêm relação conflituosa com egressos do sistema BI
EM GUERRA: Estudantes de Direito da UFBA mantêm relação conflituosa com egressos do sistema BI
Os corredores da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia (FDUFBA) vive dias estranhos. Desde a polêmica envolvendo as publicações anônimas feitas por um perfil falso no Facebook, no dia 5 de junho, expondo alunos egressos do Bacharelado Interdisciplinar (BI) que teriam, supostamente, fraudado o sistema de cotas da instituição, estudantes têm experimentado uma tensão crescente no prédio localizado no bairro da Graça.
Dos membros da faculdade que aceitaram conversar com o Aratu Online, apenas um — o diretor eleito da FDUFBA — não pediu que seu nome fosse ocultado. ?Qualquer pessoa que fale que essa tensão existe tem medo de ser perseguido ou condenado nas redes sociais, como já aconteceu?, explicou um dos alunos, de 24 anos, à sombra do anonimato.
Para ele, sempre houve certa animosidade entre os estudantes regulares do curso de Direito (aqueles que entraram diretamente na graduação, pelo Sisu) e os oriundos do bacharelado.
Os ânimos, porém, têm se exaltado de forma considerável por dois acontecimentos recentes: o aumento de 25% das vagas oferecido aos egressos do BI nas cadeiras da faculdade e a denúncia anônima feita pelo perfil Caragentebranca Ufba no Facebook.
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Na publicação, o autor expôs alunos do BI que tinham usufruído do sistema de cotas para o ingresso em diferentes cursos da UFBA. De acordo com a postagem, eles teriam fraudado o requisito da autodeclaração no que diz respeito à raça e se declarado negro falsamente.
Sete dos rostos à mostra eram de egressos do BI na Faculdade de Direito. O autor da publicação tornou-se alvo de medidas judiciais, em ação movida pelos advogados Carlos Mendes e Caroline Costa. Segundo eles, a denúncia anônima causou grande prejuízo aos seus sete estudantes, que têm receio até de frequentar às aulas por conta da repressão sofrida nas redes sociais.
A depreciação dos alunos que vieram do Bacharelado Interdisciplinar não é uma grande novidade no dia a dia da FDUFBA para os estudantes ouvidos pela reportagem. ?Há questões ideológicas envolvidas. O público da FDUFBA tem tradicionalmente um perfil elitizado, de filhos de políticos, juízes, procuradores. Talvez este público sinta que tem perdido espaço na universidade com o avanço do BI, que tem uma outra cara?, defendeu outro estudante egresso do bacharelado e que também pediu reservas para revelar sua identidade.
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Ele complementa que também percebe um atenuamento no clima de tensão na faculdade a ponto de sugerirem uma associação de estudantes egressos do sistema BI na Faculdade de Direito. Contudo, nenhuma ação foi oficializada ainda. ?Tenho minhas ressalvas quanto ao projeto, mas acredito que, como iniciativa de diálogo, talvez seja uma estratégia válida?, opina, comedido.
Recentemente eleito o novo diretor da FDUFBA, o professor Júlio Rocha também escolhe bem as palavras antes de se pronunciar. O docente, que só poderá assumir a direção quando o reitor admiti-lo, o que deve acontecer só no segundo semestre, avalia o clima entre os alunos de forma cautelosa e otimista, fazendo questão de ressaltar seu amor pela vida universitária.
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?A universidade é o lugar da diversidade, este é meu posicionamento. Assim como os alunos regulares, os egressos do BI são muito especiais para essa casa. Eles trazem o elemento da interdisciplinaridade, o que nos interessa muito?, declara o diretor eleito, comumente referenciado como simpático aos alunos dos bacharelados.
Além disso, Júlio Rocha destaca que as denúncias anônimas que provocaram grande parte deste rebuliço deveriam ter encontrado um meio ?mais adequado do que o Facebook?. De acordo com o acadêmico, a faculdade está sempre aberta a fazer as mediações necessárias. ?Mas requerimentos formais são sempre preferíveis?, afirma.
A reportagem tentou entrar com contato com o Centro Acadêmico Ruy Barbosa, instância de representação estudantil da instituição desde 1897, mas não obteve retorno.
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