DERAM NO PÉ: O que aconteceu com as bicicletas que estavam aqui em Salvador?
DERAM NO PÉ: O que aconteceu com as bicicletas que estavam aqui em Salvador?
Passar uma tarde em Itapuã, depois ver o pôr do sol na Barra e, encerrar o dia em alguma festa pelos vários largos e praças do Pelourinho é um roteiro possível para uma pessoa que possui carro ou se aventura no transporte público de Salvador, por mais que a cidade se desenvolva em torno de meios de locomoção como o automóvel, ônibus e o metrô, cresce cada vez mais o número de pessoas que se utilizam da bicicleta como forma de transporte diário.
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A quarta maior cidade do Brasil, com quase 3 milhões de habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), iniciou tardiamente o desenvolvimento do seu sistema cicloviário. Até 2012, Salvador possuía apenas 11,4 quilômetros de ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas (quando, no asfalto, há uma indicação por onde devem passar os ciclistas).
Mesmo com a recente melhora na infraestrutura cicloviária e no fomento do uso das bicicletas como meio de locomoção e lazer por parte do poder público local, a capital baiana ainda se encontra atrás de cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília quando o assunto é a malha viária para tráfego de bicicletas. Usuários apontam como principais problemas a falta de conexão entre as ciclovias e ciclofaixas, a segurança nesses locais, a não integração plena da malha cicloviária com terminais de transporte e falhas estruturais no sistema de bikes compartilhadas.
BIKE SALVADOR
Uma das principais ações de estímulo para o uso de bicicletas na cidade, é o projeto “Bike Salvador”, implantado pela prefeitura em 2013 e executado em parceria com o banco Itaú e a empresa Serttel. São 400 bicicletas distribuídas em 40 estações espalhadas pela cidade, a grande maioria na orla marítima e centro.
As regras de utilização das bicicletas funcionam com viagens de 45 minutos com intervalos de 15 minutos entre elas. Apesar da iniciativa, usuários do Bike Salvador atualmente reclamam da prestação do serviço, alegando principalmente problemas no aplicativo, ausência de fiscalização e a falta de bicicletas nas estações que dificultam o uso das “laranjinhas”.
“O próprio aplicativo às vezes apresenta muito erro, então tem esse tempo de esperar a bicicleta sair, ver se tem alguém chegando com uma outra bike pra você pegar, o tempo pra ver se vai chegar alguém pra retirar uma bicicleta e você ter uma vaga para coloca-la. Então todas essas incertezas contribuem para as pessoas não usarem tanto”, alega a atriz Bruna Nolasco.
O sistema tem mais de 130 mil usuários cadastrados e se configura como uma solução de transporte para pequenos percursos. Ele funciona via credenciamento anual no valor de R$ 10,00 que pode ser realizado na internet e após aprovação, o usuário pode retirar as bikes dos terminais através do aplicativo para smartphones, ligação para central ou pelo Salvador Card.
Outro fator que vem gerando queixa dos usuários é em relação a manutenção das bikes que sofrem com ação de vândalos, fenômenos naturais e acidentes de trânsito.
“Pelas questões do uso e pôr as estações não serem cobertas, as bicicletas acabam sendo danificadas. O desgaste desse equipamento acaba sendo muito grande e não existe uma reposição imediata. Isso é uma coisa que tem ocorrido muito dentro do sistema, você chegar na estação para retirar uma bicicleta e, na hora, ela constar que está em manutenção”, afirma a produtora e publicitária Erica Telles.
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CICLISTAS X MOTORISTAS
Além dos fatores estruturais que dificultam o acesso as bikes compartilhadas, os ciclistas ainda enfrentam problemas no tráfego da cidade. Mesmo com a ampliação da estrutura cicloviária, as faixas exclusivas para bicicletas não se conectam entre si, obrigando os usuários a enfrentarem o trânsito de Salvador que ainda encontra resistência por parte de alguns motoristas a dividirem as vias com os ciclistas.
Para Valdiria Fernandes, o processo de educação e conscientização dos motoristas em relação a percepção de divisão do trânsito com os ciclistas ainda é lento, porém a estudante consegue notar uma melhoria nesse vínculo quando participa de pedais por Salvador.
“Os carros buzinam para nos cumprimentar, não apenas para mandarem que saiamos das ruas. Isso de nos mandarem ir para a ciclovia acontece, mas já não é mais tão frequente. Alguns motoristas nos olham como se nós estivéssemos tirando o espeço deles. Um problema é que as ciclovias não se interligam, e as que são no meio da rua, como no corredor da Vitória e na Ribeira, os carros usam como estacionamento”, ressalta a ciclista.
COLETIVO PEDAL
Algumas ações na cidade impulsionam o uso das bikes como alternativa para transporte, grupos de pedais são cada vez mais presentes nas ruas de Salvador, além de coletivos formados por ciclistas voluntários com o intuito de ensinar pessoas a pedalarem e promover eventos de conscientização. Um destes grupos é o “Bike Anjo Salvador“, que presta atendimentos individuais e duas vezes por mês, sempre aos domingos.
Segundo uma das articuladoras do projeto nacional em Salvador, Marcella Marconi, é visível que as estações do “Bike Salvador” estão mais vazias e que o aplicativo desenvolvido para o sistema precisa ser melhorado, já que ele apresenta que em determinadas estações não tem bicicletas disponíveis quando na verdade tem, ou quando uma bike é devolvida e o sistema aponta que não.
“Cada vez mais se ver a demanda crescente no número de ciclistas na cidade, mas o fato do sistema não funcionar faz com que menos pessoas procurem porque elas já vão tendo a noção de que não vai ter a bicicleta disponível. Salvador ainda estacionou no número de estação, a gente não teve um aumento. Manteve a bicicleta somente na orla, nos centros de lazer, não houve uma expansão para outras áreas da cidade”, aponta Marcella.
Apesar das críticas ao sistema e o baixo número de bikes nas estações públicas de compartilhamento relatados pelos usuários, o presidente da Empresa de Turismo S/A – SALTUR, Isaac Edington, responsável pelo serviço Bike Salvador e pelas ações do movimento “Salvador vai de bike”, afirma que não houve uma diminuição no número de bicicletas.
“Muitas vezes quando o usuário vai se dirigir a determinada estação, por algum tipo de vandalismo no sistema de comunicação ou na própria estação, o usuário avisa e nós acionamos a empresa e ela vai dar a manutenção. Mas de fato acontecem problemas, não estamos imunes, mas em geral o sistema funciona bem”, assegura o gestor.
Edington ainda garante que, nos próximos meses, o sistema irá passar por melhorias de infraestrutura devido a entrada de uma nova organização na prestação do serviço que se comprometeu a modernizar e ampliar o sistema. Em relação a oferta de bikes nas estações, ele garante que isso é fruto da dinâmica do sistema de bicicletas compartilhadas.
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“Às vezes tem uma estação fora do ar por conta de um problema ou então a perda de conexão, por que muitas vezes quando o aplicativo não funciona é porque houve algum dano na estação que está comprometendo o processo de comunicação dela com a central, e por conta desse dano eletromagnético e o aplicativo não representa a verdade. Em outros momentos, essas estações funcionam com o Wi-fi, então às vezes se tem um problema na operadora de telefonia em questão de sinal. Mas que acontecem problemas, eles acontecem sim, mas a intenção é sempre melhorar”, esclarece.
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