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PERIGOSA: Líder de facção criminosa, mulher espalha o terror em Vitória da Conquista

PERIGOSA: Líder de facção criminosa, mulher espalha o terror em Vitória da Conquista

Por Da Redação

PERIGOSA: Líder de facção criminosa, mulher espalha o terror em Vitória da ConquistaReprodução

Do Suíça Baiana, parceiro do Aratu Online


A aventura na busca por compra de drogas para consumo próprio terminou em morte para dois jovens amigos no final da tarde do dia 2 de fevereiro de 2017 em Vitória da Conquista, sudoeste do estado.


Julgados como ?soldados do tráfico? numa área inimiga, eles foram assassinados com mais de dez tiros de pistola e revólveres, num ?modus operandi? de integrantes da facção BDN (Bonde do Neguinho), liderada por Jasiane Silva Teixeira, 28, a ?dona Maria?, e que tem espelhado o terror na cidade de 346 mil habitantes ? a terceira maior da Bahia.


Segundo a Polícia Civil, os garotos estavam de bicicleta no Vila Sul, conjunto habitacional do programa federal de habitação popular Minha Casa, Minha Vida situado no bairro Campinhos (periferia da cidade), perguntando onde achar maconha.


Até o final de semana, a polícia conseguiu identificar apenas uma das vítimas: Igor Carvalho Silva, de 18 anos.


?Pelo que apuramos, os jovens não tinham envolvimento com o tráfico, eram usuários. Mas ao serem confundidos com integrantes de outra facção, foram mortos?, afirmou o delegado Hudson Santana, da Delegacia de Homicídios.


A morte dos jovens foi a última relacionada ao tráfico na cidade, onde já ocorreram este ano 36 homicídios, a maioria envolvendo traficantes e usuários de drogas. Ano passado, a cidade fechou o ano com mais de 200 assassinatos.


Segundo autoridades policiais e do Ministério Público, mais de 90% dos homicídios da cidade está associada à violência fruto dos conflitos envolvendo tráfico de drogas.


Salve Copa


O destino dos jovens é o mesmo de quem se atreve a contrariar os interesses de dona Maria, seja dentro ou fora do território dominado pelo sua facção, cuja sigla é referente ao seu braço direito Juarez Vicente de Moraes, o ?Neguinho?, principal executor de homicídios e gerente do tráfico.


Branca, de olhos claros e sorriso atraente, dona Maria tem crescimento recente no mundo do crime no interior da Bahia. Mas estar em posição de liderança trouxe para ela maiores riscos ? é muito visada tanto por facções rivais quanto pela polícia.


Tamanha importância a colocou em fevereiro deste ano como a ?Dama de Copas? no ?Baralho do Crime?, ferramenta da SSP (Secretaria da Segurança Pública) da Bahia para ajudar na captura de criminosos foragidos.


O ?baralho? já foi atualizado 110 vezes desde sua criação, em 2011, e após exibir os rostos dos criminosos mais procurados, já contribuiu para 68 prisões.


E entrar para o baralho parece ter sido motivo de orgulho para a traficante, pois já é possível se ver em bairros onde domina o tráfico pichações em casas com o nome ?Salve Copa?.



Inimigo discreto


Na Justiça Criminal ela é ré em seis processos: por tráfico e associação para o tráfico (quatro ações) e mais dois por homicídio qualificado, um em Vitória da Conquista e outro em Jequié, cidade vizinha a Vitória da Conquista e para onde vão os presos condenados a regime fechado na área de jurisdição da região Sudoeste da Bahia.


?Mas temos informações seguras de que é ela quem manda cometer os homicídios?, disse o delegado Hudson Santana, segundo o qual dona Maria tem em aberto quatro mandados de prisão por tráfico, associação para o tráfico e homicídio.


A maioria dos crimes foram ocorridos em Vitória da Conquista, onde a zona que atua é a oeste ? no lado oposto, separado pela rodovia BR-116, quem comanda o tráfico, segundo a Polícia Civil, é Wilians de Souza Filho, o Nem Bomba.


A polícia informou que a facção de dona Maria vem tentando há anos tirar Nem Bomba de cena, realizando constantes invasões no território inimigo e assassinando quem trabalha direta ou indiretamente para ele.


?Nem Bomba, por sua vez, não tem entrado na área dela, mais por estilo de atuação. Ele tem o território definido e quer apenas manter o poder, sem realizar homicídios, assaltos e outros crimes. Nem possui atuação bem mais discreta, mas se for atrás dele, ele revida. Já esteve preso, mas teve o mandado revogado pela Justiça. Sabemos que ele comanda o tráfico, mas atualmente não há nenhum mandado de prisão em aberto contra ele?, declarou Hudson Santana.




Dona Maria e seu comparsa Juarez, o ?Neguinho?, apontado como homicida e gerente da facção BDN. Foto: Divulgação/Polícia Civil



Origens 


Nascida e criada no bairro Jardim Valéria (periferia de Vitória da Conquista), dona Maria se envolveu com o tráfico de drogas ainda jovem, quando passou a se relacionar com o então maior traficante da cidade, Bruno de Jesus Camilo, o Pezão, primo em primeiro grau dela e líder do ?Bonde do Pezão?.


Viveram anos de aventuras, fugindo da polícia e promovendo festas regadas a maconha e cocaína, até que Pezão acabou assassinado em 2014 numa troca de tiros com a polícia em Porto Seguro, no extremo sul do estado.


Dona Maria estava junto com Pezão e conseguiu escapar do cerco, após o companheiro dar guarita para a fuga.


Com o dinheiro do tráfico, segundo a polícia, eles usaram laranjas para comprar casas em Vitória da Conquista e Porto Seguro e um apartamento em Salvador.


A líder do BDN foi presa pela primeira vez em 2008 por tráfico e associação para o tráfico e porte de arma com o companheiro Pezão.


Solta meses depois, ela passou a atuar de acordo com as ordens de Pezão e a operacionalizar em Jequié, onde montou uma base.


Foi em Jequié onde ocorreu, em 2010, um dos homicídios no qual ela responde na Justiça. Pezão mandou matar um agente penitenciário que não queria facilitar a entrada de drogas e armas para ele na unidade prisional onde estava.


Outros crimes atribuídos diretamente a dona Maria são um duplo e um triplo homicídio contra integrantes da facção de Nem Bomba.


Sem piedade


Desde que assumiu o comando do tráfico no lugar de Pezão, dona Maria tem atuado com impiedade até maior que a do ex-companheiro.


Ela começou a crescer como líder ao realizar ainda em Jequié uma aliança com Paulo DG, traficante filiado ao Bonde do Maluco, que por sua vez atua na Bahia como braço do PCC, de acordo com a SSP-BA.


Dona Maria se articulou também com grupos menores de traficantes de Vitória da Conquista que tinham se desarticulado com a morte de Pezão. Esses grupos estavam a cada dia se guerreando mais, fazendo crescer uma onda de homicídios na cidade.


Para trazê-los para perto de si e colocá-los sob seu comando, dona Maria acordou com os líderes desses grupos que iria fornecer drogas, armas e disponibilizar advogados 24 horas. Em troca, a maior parte do lucro com o tráfico seria dela.


No comando, nona Maria tem atuado com impiedade pior que a de Pezão, executando rivais em qualquer local e quem estiver perto, sem poupar nem crianças, afirma a polícia.


Em novembro de 2016, por exemplo, ela ordenou que seu bando matasse todos que estivessem em uma festa realizada num bar que deu preferência a vender drogas da facção rival, a de Nem Bomba. No local havia mais de 20 pessoas.


A polícia, no entanto, frustrou a ação ao perceber a movimentação no local e seguir os traficantes. Quatro deles acabaram mortos em troca de tiros com a Polícia Civil quando chegaram a tal festa e desceram de um veículo Celta cinza de arma em punho.


A prima de um dos traficantes mortos esteve no local após o ocorrido e acabou presa. Ela tinha ido ver o que ocorreu para depois passar ao BDN. À polícia, a mulher confessou todo o plano: matar geral.


Recentemente, outra baixa no BDN: os homicidas de apelido ?Cocão? e ?Bagão? morreram em troca de tiros com a PM. Estavam entre os principais executores da facção.


Área de domínio


Além do bairro Campinhos, onde os jovens foram mortos na quinta-feira passada, a sigla BDN está espalhada no Jardim Valéria, Vila Bonita, Kadija, Patagônia, Brasil, Campo Verde e Miro Cairo. Na maioria destes bairros é onde foram criados nos últimos anos conjuntos habitacionais do Minha Casa.


Um deles (o do Miro Cairo) foi entregue pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em outubro de 2013, quando por lá já havia pichações de traficantes nas casas, uma delas ?PCC vida loca?.


A polícia diz ter informação de que a BDN, apesar de atuar localmente, já se expandiu a ponto de se tornar integrante de uma rede de tráfico que tem como representante maior a facção paulista, a mais poderosa do Brasil.


?Mas ainda não vimos por aqui a frase ?paz, justiça e liberdade?, do PCC. E esperamos não vê-la?, declarou delegado Hudson Santana.



Nesses bairros, os casos de expulsão de moradores por parte de traficantes é fato corriqueiro. Ao Suíça Baiana, pessoas que residem nesses bairros disseram que para permanecer ?em paz? no bairro é preciso ser passivo com os traficantes, alertando-os muitas vezes da presença da polícia.


?Eu preferi sair, abandonei minha casa porque conviver da forma que eles querem é sempre um risco. Muita gente continua lá por falta de opção, mas querem mais poder ir para um local que não esteja sob o domínio do tráfico, do qual participam muitos adolescentes. Não quero criar meu filho num local desses?, afirmou Vanderleia Pereira de Oliveira, 37, que morava no Miro Cairo.


Ações policiais


Os moradores reclamam também da ausência das polícias Civil e Militar, as quais, por sua vez, afirmam que as ações desenvolvidas têm contribuído para a redução da criminalidade.


Em nota, a Polícia Civil afirma que ?nos últimos quatro meses, Vitória da Conquista acumula redução de 20% nos homicídios em relação ao mesmo período dos anos anteriores?.


?No último bimestre de 2016 a redução foi de 15% em relação a 2015. No primeiro bimestre de 2017 a redução foi de 25% em relação a 2016?, afirma a nota, sem citar números absolutos.



?O resultado é fruto do combate constante e conjunto da Polícia Civil e Polícia Militar ao tráfico de drogas, com apoio do Ministério Público e judiciário. No ano de 2016, a Polícia Civil deflagrou 164 operações policiais que resultaram na prisão de 201 pessoas, apreensão de 47 armas de fogo e 2.144 quilos de drogas.?


A nota destaca que ?somente o Núcleo de Tóxicos e Entorpecentes, criado em fevereiro de 2016 e efetivado como Delegacia em dezembro do mesmo ano, deflagrou 48 operações, prendeu 64 pessoas, apreendeu 25 armas de fogo e 624 quilos de drogas.?


Somando-se às apreensões realizadas pela PM e PRF (Polícia Rodoviária Federal), a Polícia Civil contabilizou em 2016 a apreensão de 12, 5 toneladas de drogas. Em 2015, diz a nota, ?foram apreendidas 461 quilos de drogas.?


Destaque internacional


Os dados apresentados apenas em porcentagem parecem não querer mostrar uma realidade que vem pondo nos últimos anos Vitória da Conquista como destaque em criminalidade em pesquisas nacionais e internacionais.


Num dos últimos relatórios sobre segurança, o Atlas da Violência 2016, produzido pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), aponta que a taxa de homicídios por cada 100 mil habitantes na cidade está quase quatro vezes maior que o aceitável pela ONU (Organização das Nações Unidas).


Segundo o Atlas, elaborado em parceria com o FBPS (Fórum Brasileiro de Segurança Pública) com dados de 2014 do Sistema de Informações sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde, Vitória da Conquista possui taxa de homicídios de 37,2 ? o tolerado pela ONU é de 10 assassinatos por cada 100 .000 habitantes.



Se comparado com outra pesquisa com dados de 2015, divulgada também em 2016 e que coloca a cidade como a 36ª onde mais se mata no mundo, a taxa de homicídios aumentou de um ano para o outro, já que em 2015 foi registrada taxa de 38,46 assassinatos por cada 100.000 moradores.


A pesquisa do início de 2016 coloca Vitória da Conquista numa posição que faz vizinhança com Tijuana, cidade outrora conhecida como sede de um dos cartéis de drogas mais violentos do México.


A cidade baiana é também a 36ª onde mais se mata no mundo, aponta o estudo da ong mexicana Seguridade, Justiça e Paz ? Conselho Cidadão para a Segurança Pública e a Justiça Penal, cujo estudo abrangeu apenas cidades com população acima de 300.000 habitantes.


De acordo com a ong, ocorreram em 2015 em Vitória da Conquista 132 homicídios, tendo a cidade ficado com uma taxa de 38.46 por cada 100.000 habitantes.


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