GRUPO DE RISCO: Nova geração “não viu ninguém morrer de AIDS” e ignora uso da camisinha
GRUPO DE RISCO: Nova geração “não viu ninguém morrer de AIDS” e ignora uso da camisinha
Desde sua descoberta, em 1981, a AIDS já matou mais de 25 milhões de pessoas. E, segundo estimativas, está presente hoje em outros 40 milhões de seres humanos. Chamada inicialmente de câncer gay, não tardou até que a Síndrome da Imunodeficiência Humana Adquirida vitimizasse quem quer que fosse, sem definir gênero, cor ou sexualidade.
Apenas 1996, o Brasil começou a oferecer tratamento gratuito aos soropositivos, ajudando no controle das mortes causadas pela doença. É também neste mesmo período que as campanhas para o uso da camisinha se intensificam como forma de proteção ao contágio.
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Atualmente, porém, o número de jovens infectados pelo vírus da AIDS tem aumentado significativamente, segundo a organização Unaids — Programa Conjunto das Nações Unidas que monitora a proliferação do vírus HIV.
No mundo, o número de casos de jovens entre 13 a 19 anos aumentou 53% em nove anos (de 2004 a 2013).
Por aqui, as estatísticas são ainda mais assustadoras: segundo o Grupo de Apoio à Prevenção à Aids da Bahia (Gapa), o crescimento no número de jovens nesta faixa etária foi de quase 100%. ?Essa geração de hoje é a primeira que não viu ninguém morrer pela doença?, justifica Adriano Rodrigues, que há 14 anos coordena um serviço de fisioterapia para pacientes soropositivos na Casa de Apoio e Assistência do Portador do Vírus HIV Aids (Caasah), no bairro de Mont Serrat.
A observação de Rodrigues faz sentido. Entre os anos 1980 e 1990, o medo da doença era algo presente na vida das pessoas e foi potencializado com a morte de alguns ícones em diversas áreas.
No Brasil, os cantores Cazuza (morto em 1990) e Renato Russo (1996), os irmãos Henfil (1998) e Betinho (1997) e a atriz Claudia Magno (1994) foram vítimas da síndrome e instauraram um pânico generalizado sobre as formas de contaminação. No mundo, uma das mortes que mais alarmou a população foi do roqueiro Freddy Mercury, líder da banda Queen, morto em 1991, aos 45 anos de idade.
Ainda de acordo com Rodrigues, que também pesquisa a neurotoxoplasmose (infecção no cérebro que ocorre em pessoas com baixa imunidade) associada ao HIV, o crescimento no número de jovens infectados se deve a falta de percepção do contágio do vírus.
?A Aids não tem sido vista pelos jovens como algo letal, os coquetéis dão a falsa impressão de que há uma cura e os mais jovens se descuidam?, afirma.
SEM PROTEÇÃO
Foi o caso de Daniel*, de 23 anos, que tinha 19 quando descobriu portar o vírus HIV. ?Todo mundo tem consciência de que se deve usar camisinha, mas pensei que não seria tão fácil ser infectado?, explica. O estudante de publicidade confessa que não costumava usar camisinha quando tinha relações com o namorado, mesmo o conhecendo há pouco tempo.
Tiago* hesitou ao ser questionado se já fez sexo sem preservativo. ?Sexo oral conta??, questionou. Com 20 anos, o estudante de jornalismo tem apenas um ano a mais da faixa de jovens que vem surpreendendo as estatísticas. Foi no banheiro de uma casa noturna que ele se relacionou com uma pessoa que tinha acabado de conhecer. ?Fiquei empolgado na hora porque estava com muita atração, mas o medo bateu no primeiro segundo após a gente ter se despedido?, explica.
*os nomes foram ocultos para preservar a identidade
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