PERFIL: Rejeitado nas urnas, Da Luz se compara a Lincoln, promete “bomba” e não entrega santinho
PERFIL: Rejeitado nas urnas, Da Luz se compara a Lincoln, promete “bomba” e não entrega santinho
Essa é a terceira vez que Rogério Tadeu Da Luz, ou simplesmente ‘Da Luz’, concorre ao cargo de prefeito de Salvador. As outras tentativas foram em 2004 e 2012. O candidato, de 48 anos, também já concorreu para governador do estado em 2002 e 2014, além de já ter tentado ser vereador e deputado. Em nenhuma dessas tentativas logrou êxito.
Ele pode até ser um fracasso na política, mas se tem uma coisa que Da Luz conseguiu fazer com sucesso – e será para sempre lembrado por isso – foi eternizar suas propagandas eleitorais nada convencionais de um jeito irreverente.
Em 2002, quando se candidatou pela primeira vez, ele aparecia de costas para as câmeras e, num trocadilho barato, com luzes ressaltando seu nome. Não mostrava o rosto e dizia que, para o eleitor descobrir sua cara, teria que digitar seu número na urna. A explicação era que os políticos viviam de costas para o povo e que cabia aos eleitores virarem as costas aos candidatos tradicionais.
Em 2006, quando disputou a Câmara dos Deputados, ficava de cabeça para baixo, afirmando que as coisas no país estavam ?de ponta-cabeça?.
Este ano, Da Luz possui o menor tempo de propaganda eleitoral entre os candidatos que concorrem ao posto. Quando aparece, ironiza os ínfimos nove segundos que tem direito e pede para que o eleitor vá até o seu site que lá tem uma denúncia de uma “bomba”. No entanto, quando tentamos acessar o site (www.daluz28.com.br) aparece um joguinho de tiros para destruir pedras que caem do céu.
O político, que não formou coligação nesta eleição, se defende e fala que ?roubaram? o domínio do site. ?Simplesmente alguém comprou o domínio do meu site antes de mim pra me sacanear. Só pode ter sido de propósito, por que quem teria interesse em ter um site com o nome ?daluz28???, afirma.
A citada ‘bomba’ seria o documento preparado pelo candidato afirmando que ACM Neto, caso reeleito, vai ficar no cargo por apenas 1 ano e três meses. “Eu fiz esse documento dizendo que ele daria lugar ao vice pra concorrer as eleições para governador, mas ele não quis assinar”, explica.
Esta mesma pergunta, inclusive, foi feita pelo Aratu Online diretamente ao prefeito ACM Neto. Veja o que ele respondeu clicando aqui.
DESLEIXO
Este é apenas um dos indícios da desorganização da campanha do candidato, que não tem nem o ao menos os habituais ?santinhos? para divulgá-lo. ?Eu não ganhei nem um real do meu partido pra concorrer e eu nunca ganhei eleição porque não tenho material de campanha?, avalia.
Da Luz concorre pelo Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), no qual acumula as funções de presidente estadual e presidente municipal do partido na Bahia e em Salvador, respectivamente. O seu vice na chapa é o empresário Antônio Neto.
Considerado um partido de pequeno porte, se comparado aos outros, o PRTB nacional recebeu cerca de R$ 2,5 milhões pelo fundo partidário. No entanto, Da Luz defende que o valor se torna ?irrelevante? quando dividido entre os estados. ?Eu prefiro que o meu partido fique forte nacionalmente?, aponta.
A falta de eventos na sua agenda, como as conhecidas caminhadas nas comunidades feitas pelos outros candidatos, também é outro fator que reforça sua falta de preparo para concorrer às eleições.
A situação descrita logo é comprovada quando observo a dona de casa Dulcineia Arcanjo elogiar o candidato e dizer que vai votar nele. Quando questiono se ela sabe o número do seu predileto ao Thomé de Souza, ela dispara: “ainda não decorei, mas ele vai me dar o santinho com o número, não é?”, diz a dona de casa olhando para o político, que rebate, constrangido: ?Eu não tenho santinho, mas no dia da votação lembre que não é 25, mas é 28 na cabeça?.
Veja situação no vídeo abaixo:
Sem santinhos, carros de som ou investimentos publicitários, o trabalho feito pelo candidato se restringe ao ?boca a boca? e a bagagem adquirida pelo político ao longo dos anos.
LÍDER DA REJEIÇÃO
Na última pesquisa do Ibope, divulgada há uma semana da eleição, Da Luz não chegou a pontuar na pesquisa de intenção de votos. Já no quesito ‘candidatos em que os eleitores não votariam de jeito nenhum’ — ou seja, os mais rejeitados — ele aparece em primeiro, liderando com percentual de 59%.
“Eu acho que o Ibope não é referência pra nada. Uma empresa picareta como essa, que dá tanto erro, deveria ser proibida apresentar qualquer tipo de pesquisa, porque se mostrou uma incompetente ou vendida pra dar qualquer tipo de informação. Então o Ibope ó: zero”, diz o candidato fazendo o sinal negativo com as mãos.
No entanto, o velho conhecido dos baianos não parava de ser gritado, cumprimentado e abraçado por pessoas de todas as idades que transitavam pela Estação da Lapa ? maior terminal rodoviário localizado na cidade de Salvador -, onde aconteceu a entrevista.
A todo momento a entrevista era interrompida por crianças ou adultos que queriam não apenas falar com o político, mas registrar o ‘encontro’ com uma selfie.
“Poxa, além de ser elegante, eu acho ele maravilhoso. Ele é dez! Adoro esse lado engraçado dele, principalmente quando ele fazia aquela propaganda virado de costas. Vou votar nele com certeza. Gosto do jeito dele e a gente vê sinceridade no jeito dele”, afirmou a dona de casa Valdelice Mendes Batista.
Visivelmente alterado enquanto falava dos dados do Ibope, o candidato grita enquanto gesticula freneticamente: “Eu não acredito nessa rejeição. Você viu alguém atirando pedra em mim aqui? Me xingando? Tem político que diz que a rejeição dele é 30% e que ele não pode nem ir pro restaurante que ele é vaiado. Eu não sou nada disso, o povo gosta de mim, então isso pra mim é uma falácia, uma descaração”.
SEM RAÍZES E PRECONCEITO
A personalidade forte e polêmicas não se restringem à trajetória política de Da Luz, mas também se resvalam na sua vida pessoal. Nascido em Jundiaí, interior de São Paulo, o analista de sistemas deixou um casamento de uma década e veio morar em Porto Seguro, na Bahia, em 1994. Lá, ele viveu por sete anos.
“A gente nasce onde a barriga da nossa mãe está, que, no meu caso, foi em São Paulo. Mas morremos e somos enterrado onde queremos. E eu escolhi a Bahia. Amo os baianos”, afirma. “Eu e São Paulo somos que nem água e óleo, a gente não se mistura. Não gosto de lá”, frisa.
Casado há 16 anos com sua atual esposa, Da Luz vive em Salvador com seus três filhos. Evangélico, o candidato garante que é um ‘servo do Senhor’. “Tenho um compromisso com Jesus e sempre fui fascinado por tudo que Jesus fez na terra”, diz.
“Não tenho preconceito com gays nem com nada. Eu sou uma pessoa simples que tem amor pelas pessoas independente das suas opções e desejos”, comenta.
Veja respostas do candidato ao Aratu Online no vídeo abaixo:
PROPOSTAS
Entre as propostas do candidato estão o cancelamento de todas as multas por sistemas eletrônicos e desativação dos mesmos; fim da zona azul; cancelamento dos alvarás para o fim da cobrança de estacionamento em shopping; transformação de 100% das escolas municipais em colégios militares, entre outras.
O candidato reclama da atual situação da cidade e faz sugestões soltas, porém não deixa claro como pretende resolver essas questões. Quando questionado se a desativação dos radares não seria radical e representaria um retrocesso na fiscalização, ele é taxativo: “Não tem condições nenhuma de a gente acreditar que esses equipamentos funcionem adequadamente”.
“Multa tem que ser usada como um instrumento de educação no trânsito, onde o agente faça a fiscalização e vá até o motorista infrator conversar com ele e o faça, inclusive, assinar a multa como era feito antigamente”, explica.
A solução para a política em Salvador, na visão do candidato, está no fim dos cargos por indicação, o chamado ‘cabide de emprego’ – quando uma pessoa é indicada a um cargo por nepotismo ou amizade. “Se eu for eleito, eu vou acabar com esses cargos de indicação. Se eu cortar todos esses cargos, consigo uma economia de 30% do orçamento e sobram dois bilhões de reais pra eu investir em creche para todas as crianças de Salvador e atendimento nos postos de saúde 24h por dia”, garante.
Como não poderia ser diferente, Da Luz encerra a entrevista fazendo críticas e provocações ao atual prefeito de Salvador, ACM Neto. “Essa política do pão e circo aqui na Bahia vem desde a época do ACM Velho e persiste até hoje. Aliás, o nosso prefeito mais parece um rei momo né? Porque ele ta continuando na balada e nas festas enquanto gasta só 59 centavos por habitante/dia na saúde. Pra mim ele é criminoso quando faz isso. Pra mim ele é desumano. Ele é o prefeito que menos investe da saúde do Brasil. Vou encerrar por aqui pra não falar nada pior que isso. Mas pra mim, ele é o pior prefeito do planeta terra”, conclui, sem perder o toque humorístico.
*Texto: Daniela Mazzei
*Foto: Daniela Mazzei/Aratu Online