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NÃO PASSARÃO: Alunos da UFBA acusam professor por declarações machistas

NÃO PASSARÃO: Alunos da UFBA acusam professor por declarações machistas

Por Heloísa Gomes

NÃO PASSARÃO: Alunos da UFBA acusam professor por declarações machistasReprodução

?Eu vou pagar todos os meus pecados no inferno, pois obriguei minha mulher a abortar?, esta é uma das declarações feitas pelo professor Fernando Conceição, que ministra a disciplina atualidade I, na faculdade de comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), segundo acusações de alunos em nota publicada na página do Facebook do Centro Acadêmico Vladmir Herzog ? Facom UFBA, na segunda-feira (7/3).


Alunos e ex-alunos da instituição denunciam a conduta do docente no ambiente acadêmico, segundo a nota publicada o professor utiliza conceitos machistas e homofóbicos durante as aulas, coloca as alunas em condição inferior pelo fato de serem mulheres e as assedia, provocando constrangimento às vítimas.


Leia a nota na íntegra:


NOTA DE REPÚDIO AO PROFESSOR FERNANDO CONCEIÇÃO


Hoje, dia 07 de março de 2016, durante a disciplina Comunicação e Atualidade I, ministrada pelo professor Fernando Conceição, o docente reafirmou sua postura machista e homofóbica.


Nós estudantes vimos a público expressar nossa indignação diante dos casos já cientes pelo departamento da Universidade.


Dentre algumas colocações do professor colocadas em sala estão:


Livro grosso serve para bater na namorada.


Vocês deveriam louvar os homens, pois nós matamos baratas e vocês não.

Eu vou pagar todos os meus pecados no inferno, pois obriguei minha mulher a abortar.

Queria ser bissexual para não ter tido filhos e não ter esse gasto financeiro.

Homem só gosta de mulher bonita e não inteligente.

Machismo, racismo e homofobia são opiniões.


Além dessas colocações, o professor sempre assedia as alunas falando sobre seus corpos sem nenhum escrúpulo e coloca as alunas em posição inferior na sala de aula pelo simples fato de serem mulheres.


Ao ser questionado em sala sobre seus posicionamentos a resposta ouvida por uma aluna foi: ?Fique tranquila, sua opinião será ouvida igual a de uma mulher que gosta de homem?.


Tentamos contextualizar algumas para melhor compreensão do texto. Outras simplesmente não precisam de contextualização.


Condutas como as elencadas acima também rebaixam o valor de nossas vidas, já que banalizam e naturalizam as violências que passamos, tanto simbólicas, quanto físicas, emocionais e sexuais. Não importa o motivo pelo qual o docente se coloca, se por provocação, ideologia ou qualquer outra motivação, a violência não pode ser normatizada dentro do ambiente acadêmico. Somos donas de nossos corpos, somos senhoras de nossa própria voz.


Estamos na luta por uma universidade que não reproduza os sistemas de desigualdades da sociedade e que seja entidade combativa por uma sociedade mais justa e mais igualitária livre de preconceitos como machismo, racismo, homofobia e qualquer outra forma que coloque uma outra pessoa em posição inferior pela sua condição. A Faculdade de Comunicação não pode se calar mais uma vez diante dessa situação. A direção, o departamento e os alunos e alunas se calarão?


É importante que nos unamos. Não vamos nos calar, MACHISTAS E LGBTFÓBICOS NÃO PASSARÃO!


Em sua defesa, Fernando enviou nota ao jornal Extra, para ele não passam de acusações políticas e partidárias vindas de organizações ou pseudo-organizações.


Leia posicionamento do professor:


?Sobre a ?Nota de Repúdio? que me tem por alvo, deixe-me deixar claro logo uma coisa.



  1. As ?organizações? ou pseudo-organizações autoras da ?Nota? são todas política, partidária e facciosamente orientadas.

  2. Todas, dentro ou fora da Facom, são aparelhos de determinado partido político cujas principais lideranças estão investigadas na Operação Lava Jato.

  3. Operação Lava Jato que aplaudo, não por paixão ou ódio, mas por entender necessária no desmonte de um esquema criminoso contra um dos mais importantes patrimônios do país.

  4. De algumas dessas organizações, conheço os seus ?donos?. Caciques, alguns exercendo mandatos parlamentares, com os quais mantive (ou mantenho) relações pontuais. Afinal, como parte deles, sou forjado na luta.

  5. A ?Nota? é mentirosa. Falseia a verdade dos fatos e, suspeita, falseia suas reais intenções.

  6. 13 (treze) das 30 pessoas que colocam seu nome na ?Nota? não são alunas nas duas turmas da disciplina Comunicação e Atualidade 1 que ministro no presente semestre. Não sei quem são. Nem se o 13 é um número cabalístico.

  7. Duas delas tem já 21 faltas, uma 17 e duas 16 faltas. O semestre mal começou e esses 5 (cinco) signatários meus alunos ou já perderam ou estão prestes a perder a matéria. Uma terceira pessoa daquelas já acumula 14 faltas. Importante ressaltar: pode uma pessoa que não está nos debates e discussões acadêmicas na sala de aula atacar com uma nota infame, caluniosa, maldosa, um professor? Qual a motivação por trás disso?

  8. Os ?organizadores? politicamente orientados da ?Nota?, como organização partidariamente orientada, buscam a adesão de ?apoiadores?. Eu buscarei a afirmação da verdade e da autonomia do pensamento intelectual.

  9. Nas disciplinas que ministro todas e quaisquer discussões obedecem a um cronograma rígido de leituras, a uma bibliografia dada no programa entregue a todos no primeiro dia de aula.

  10. No caso de Comunicação e Atualidade I, além dos livros (a maioria a ser lidos por inteiro) as discussões se centram ainda no debate sobre temas da atualidade, com base as leituras obrigatórias da revista Veja e dos jornais Folha de S. Paulo, A Tarde e Correio. Nas aulas deste 7 de março, uma turma concluiu a leitura de Thomas Skidmore (Brasil, de Getúlio a Castello), tendo de nas aulas seguintes passar para Renato Ortiz (A Moderna tradição brasileira) e a segunda turma concluiu a leitura de Milton Santos (Por uma outra globalização) e deu inínio hoje mesmo à leitura de Sérgio Buarque de Holanda (Raízes do Brasil). Isso depois de nas primeiras semanas ambas as turmas debaterem a Constituição da República Federativa do Brasil.

  11. No presente semestre, o tema central desde a primeira semana de aulas são a crise político-institucional e a crise econômica que maculam o Brasil. Tenho me posicionado a favor de uma saída dessas crises com a valorização da Justiça (no caso, principalmente as investigações levadas a termo pela chamada Operação Lava-Jato), defendendo a postura do juiz Sergio Moro, inclusive na recente 24ª fase, que levou à condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Tenho, inclusive, dito da importância do comparecimento aos atos deste domingo, 13 de março, por uma Brasil menos corrupto. Estranho um professor universitário de uma faculdade ?progressista?, com alunos defensores de causas ?do bem?, afirmar tais heresias.

  12. Discussão de temas à margem ocorrem, sendo que todo e qualquer aluno pode e deve defender suas posições. De minha parte, assim como aos alunos é dado esse direito, apresento e defendo os meus, mas sempre trazendo referências de leitura. Como na aula de hoje, quando em tema paralelo entrou a questão da maternidade, que entendo ser atributo exclusivo (na maioria das espécies) do sexo feminino.

  13. Algumas alunas reagiram a isso como uma ?ofensa?, e então citei Schoppenhauer. Para uma dessas alunas, a que encabeça a lista de nomes na nota, um ?cientista? abominável, que não leu e deve ser repudiado de per si. Expliquei-lhes ser este um filósofo (não cientista) importante na tradição da filosofia ocidental e destaquei a arrogância e prepotência de alunos sabichões donos da verdade.

  14. Tal postura autoritária de alunos que querem impor sua visão de mundo aos demais, sem contraditório, transformando o espaço de debates de divergências comum na universidade, jamais será por este Professor compactuada.

  15. Tudo discutido, sem peias, a partir de referências bibliográficas e leituras obrigatórias, exatamente para diminuir o risco de opinionismos subjetivos e certezas absolutas.


Fernando Conceição, professor


Faculdade de Comunicação da UFBA?


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