Donas das lonas: Contra o machismo e a violência, mulheres aprendem técnicas de defesa pessoal
Donas das lonas: Contra o machismo e a violência, mulheres aprendem técnicas de defesa pessoal
Em novembro de 2012, Yeda Freitas estava dentro do carro de um amigo, esperando-o entrar para que pudessem ir embora. Estavam no bairro de Nazaré, em frente ao Fórum Ruy Barbosa. De repente, o amigo da oftalmologista, de 51 anos, foi abordado por um bandido, que o ameaçou com uma faca. Impotente, ela não pôde fazer nada além de continuar imóvel dentro do carro.
Dois meses depois, Yeda resolveu tomar uma atitude. ?O agressor vai sempre escolher um alvo mais fácil. Sou sempre visada quando ando pela rua?, explica, justificando sua vontade de aprender algum tipo de defesa pessoal. Foi isso que a levou até as aulas de krav magá, luta usada pelas Forças Armadas de Israel que estimula várias possibilidades de defesa, com golpes curtos, rápidos e ágeis.
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Seu professor, Cláudio Tetsuo, é um dos instrutores a dar as aulas do curso gratuito de krav magá para mulheres, neste final de semana, com sessões por toda a cidade. A ideia do curso, idealizado pela Federação Sul-Americana de Krav Magá (FSAKM), é de ajudar o público feminino com noções básicas de defesa, em pleno Mês da Mulher. São elas, afinal, que estão sujeitas a maior parte da violência urbana e doméstica.
Aos 36 anos, Cláudio fala com entusiasmo sobre a luta israelense. Já são oito anos lecionando as técnicas trazidas ao Brasil nos anos 1990 pelo mestre Kobi Lichtenstein, que não visa competições ou performances. Neste período, ele viu o número de alunas mulheres crescerem significativamente. ?O krav magá foi feito para qualquer pessoa, independente de idade, sexo ou condicionamento físico?, afirma, explicando por que se trata de uma modalidade acessível.
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O professor Roque Jorge, 40, atua como instrutor de krav magá há nove anos, quase a mesma faixa de tempo do seu colega Cláudio. Ambos fazem questão de reiterar o caráter sempre defensivo da luta, que visa ?pontos sensíveis do corpo do agressor?, como a garganta, os olhos e os genitais. Também gostam de lembrar como a modalidade é inclusiva; Cláudio chega a apontar para seus alunos e dizer que nenhum deles é uma máquina de músculos, mas pessoas comuns.
Nas turmas de Roque e Cláudio, as mulheres às vezes ocupam a sala inteira. Para o primeiro, o aumento do número de alunas está diretamente conectado ao ?constante assunto da violência urbana?, que vitimiza muitas mulheres no país. ?A gente não forma Mulheres-Maravilhas, mas ajuda as alunas a terem confiança e a saberem se defender, se necessário?, observa.
Nas aulas do curso gratuito de krav magá para mulheres, são ensinadas técnicas que vão desde a como se livrar de uma puxada de cabelo a como se desvencilhar de uma tentativa de estupro.
Por influência do pai, a advogada Larissa Solino, 26, aderiu à modalidade, em novembro de 2015, e desde então não parou de frequentar as aulas. Ela se sentia vulnerável quando andava pela rua, coisa que tem mudado. No último Carnaval, por exemplo, Larissa utilizou a técnica da ‘soltura de mão’ para se livrar de um rapaz que a assediava. “A gente fica capaz de muita coisa quando percebe que não é fraca”, opina.
Para Lorena Rodrigues, 26, a luta é fundamental para que ela se sinta segura no seu ambiente de trabalho. ?Fico muito em ambientes fechados e vazios. Nunca sei a intenção de quem vai estar comigo?, explica a cirurgiã-dentista. Para ela, como para todas as mulheres ouvidas pela reportagem, saber se defender pode ser algo crucial para a sobrevivência feminina.
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