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O que aconteceu com a Barra? Da pirataria aos homicídios, entenda a história do bairro, que contempla invasões e guerras

À época da criação da cidade, antes de se tornar aprazível, a região conheceu outros tempos de violência. Porém, isso fazia parte do passado e do processo de crescimento histórico do local.

Por Diorgenes Xavier

O que aconteceu com a Barra? Da pirataria aos homicídios, entenda a história do bairro, que contempla invasões e guerras Dinaldo dos Santos/Aratu On

Um dos bairros mais contemplados de Salvador, a Barra vive momentos contraditórios à sua fama. Cenário de beleza geográfica, tradicionalismo e riqueza cultural, a região passou a conviver, recentemente, com acontecimentos desagradáveis.


Em pouco mais de um mês, a localidade acumulou ocorrências trágicas que viraram notícias policiais e passaram a preocupar moradores e visitantes. O que teria acontecido com a Barra? O que está transformando glamour em terror?


À época da criação da cidade, antes de se tornar aprazível, a região conheceu outros tempos de violência. Porém, isso fazia parte do passado e do processo de crescimento histórico do local. A Barra foi ponto de partida da Fundação de Salvador e sua intimidade com a guerra remonta ao período colonial.


O professor de história, Roberto Pessoa, conhecedor da formação da sociedade soteropolitana, explica que a violência naquele trecho de litoral existe desde a chegada dos primeiros portugueses ao Brasil. Ele conta que a Barra era uma área muito vulnerável e a etimologia do seu nome tem uma justificativa.


“Barra é a parte mais exposta de um meio geográfico. A cidade de Salvador não foi fundada naquele local, justamente porque ele ficava bem em frente ao mar aberto em uma exposição muito grande”, diz o professor, considerando que, naquele período, a principal forma de ataque a um território era feito pela região costeira.


“Por isso, podemos verificar que o bairro é uma região que possui três fortalezas em um raio de um quilômetro”, pontua. A região da Barra, segundo o historiador, seria a primeira a ser atacada em um caso de invasão estrangeira, principalmente de piratas.


“Quando ocorreu, aqui, logo no século XVI, a entrada de franceses tentando buscar pau-brasil e dominar a colônia portuguesa no aspecto econômico, eles passavam por ali”, lembra. Pessoa ressalta, ainda, que, mais tarde, a invasão holandesa foi mais uma experiência violenta daquela área da Baía de Todos Os Santos.


“Se não fossem as fortalezas da Barra, aquela região seria logo ocupada por eles e, mais facilmente, a cidade seria mais dominada como foi por algumas vezes”, ponta, citando a época da confirmação da Independência do Brasil, na Bahia, quando o comandante português Madeira de Melo havia tomado o Forte de Santo Antônio da Barra.


De acordo com Roberto Pessoa, já no século XVII, quando não havia qualquer tipo de iluminação, à noite, a violência era muito comum no local, quando muitas naus encalhavam dentro do banco Santo Antônio. “Por isso houve a necessidade de construir um farol dentro do forte, sinalizando as embarcações”. 


fortalezas-barra


NOBREZA E CONTEMPLAÇÃO


Já no início do século XIX, com a chegada dos ingleses, suíços e novos comerciantes favorecidos pela abertura dos portos às Nações Amigas, a Barra começou a desenvolver o seu processo de nobreza. O historiador destaca, a partir desse momento, os casarões com extensas varandas e áreas verdes que foram construídos.


Daí em diante, consequentemente, se tornou um bairro contemplativo. Nos anos 70 já tinha um comércio grande de lojas, bares e restaurantes. “Depois disso, com o aumento da população, o bairro, por ser aquela geografia que é, realmente privilegiada, passou a ser um muito frequentado por contempladores e criou-se um território de todos”.


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