Estudo mostra que ensino superior no Brasil pode dobrar salários

Mesmo que o impacto salarial, o relatório também aponta que evasão e desigualdade preocupam

Por Rosana Bomfim.

Um estudo lançado nesta terça-feira (9) pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), com foco principal no ensino superior, revela que os benefícios econômicos de concluir essa etapa, dobram salários, em relação aos de quem possui apenas o ensino médio. Contudo, muitos jovens no Brasil ainda não conseguem chegar ao fim da graduação.

Segundo o relatório Education at a Glance (EaG) 2025, da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), um em cada quatro estudantes brasileiros abandona o curso após o primeiro ano.

Diploma que faz diferença, mas ainda para poucos

De acordo com o relatório, brasileiros de 25 a 64 anos com ensino superior completo ganham, em média, 148% a mais do que aqueles que têm apenas o ensino médio. Esse percentual está bem acima da média da OCDE, que é de 54%.

Ainda assim, o diploma de nível superior continua sendo realidade para uma minoria: apenas 20,5% dos brasileiros com 25 anos ou mais haviam concluído essa etapa até 2024, segundo o IBGE. A título de comparação, a média da OCDE entre jovens de 25 a 34 anos com ensino superior é de 49%, enquanto no Brasil esse percentual é de 24%.

Apesar do ensino superior mais que dobrar salários, a desigualdade ainda é um empecilho na vida dos jovens |  Foto: Ilustração | Pexels

Apenas dois países superam o Brasil na diferença salarial entre quem concluiu ou não o ensino superior: Colômbia (150%) e África do Sul (251%).

Um em cada quatro desiste no primeiro ano

Um dos principais alertas do relatório é a alta taxa de evasão entre estudantes brasileiros. Dos que ingressam em um curso de bacharelado, 25% abandonam os estudos no primeiro ano  quase o dobro da média da OCDE, que é de 13%.

Além disso, mesmo três anos após o prazo esperado para conclusão, apenas 49% dos estudantes concluíram a graduação. Na OCDE, a média é de 70%.

Segundo a OCDE, essa evasão precoce pode refletir falta de orientação profissional, incompatibilidade entre expectativas e realidade do curso e falta de apoio acadêmico para os ingressantes.

Jovens fora da escola e do mercado de trabalho

Outro dado alarmante revelado pelo estudo é que 24% dos brasileiros entre 18 e 24 anos não estão estudando nem trabalhando, os chamados jovens NEET (Not in Education, Employment or Training). A média da OCDE é de 14%. Popularmente conhecidos como “geração nem, nem” nem trabalham e nem estudam.

No Brasil, a situação afeta mais as mulheres: 29% delas estão fora do mercado e da educação, contra 19% dos homens. Em outros países da OCDE, essa diferença entre os gêneros tende a ser menor.

Mulheres se formam mais do que os homens

Apesar dos desafios, as mulheres têm maior taxa de conclusão do ensino superior. No Brasil, 53% das mulheres que entram em um curso superior concluem a formação, contra 43% dos homens. A diferença de 9 pontos percentuais é um pouco menor que a média da OCDE, que é de 12 pontos.

Foto: Ilustração | Pexels

Baixa mobilidade internacional

Em relação à mobilidade internacional, o Brasil permanece praticamente estagnado. Apenas 0,2% dos estudantes brasileiros do ensino superior estavam matriculados em instituições estrangeiras em 2023, o mesmo percentual de 2018. Em contraste, a média da OCDE subiu de 6% para 7,4% no mesmo período.

Investimento: menor em valor, similar ao PIB

O relatório mostra que, em 2022, o Brasil investiu US$3.765 por estudante do ensino superior, o equivalente a cerca de R$ 20 mil. A média da OCDE é US$15.102 (ou aproximadamente R$ 80 mil).

No entanto, quando o investimento é analisado como proporção do PIB, os números se aproximam: 0,9% no Brasil, valor igual à média da OCDE — incluindo recursos destinados à pesquisa e inovação.

Desafios e recomendações

Para o secretário-geral da OCDE, Mathias Cormann, a baixa taxa de conclusão do ensino superior no Brasil e em outros países é um problema grave. Segundo ele, isso "prejudica o retorno do investimento público, agrava a escassez de competências e limita o acesso a oportunidades".

Cormann defende ações como:

  • Melhorar a preparação acadêmica e a orientação profissional ainda no ensino médio;

  • Criar cursos mais curtos, flexíveis e direcionados;

  • Ter admissões mais inclusivas, que reconheçam diferentes perfis de alunos;

  • Garantir apoio contínuo para os estudantes em risco de evasão.
    Diploma não garante competência

Por fim, o relatório alerta para um problema qualitativo. Mesmo entre os que concluem o ensino superior, há lacunas preocupantes. Uma pesquisa da OCDE mostra que 13% dos adultos diplomados não atingem o nível básico de proficiência em leitura — ou seja, compreendem apenas textos simples e familiares.

“Isso ilustra a necessidade de os países expandirem o acesso ao ensino superior sem perder de vista a qualidade e a relevância da formação oferecida”, afirma Cormann.

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