Casal de palhaços profissionais usa filosofia de ‘desconstrução’ como justificativa para não matricular filhos em escola; Conheça esse novo movimento
Casal de palhaços profissionais usa filosofia de ‘desconstrução’ como justificativa para não matricular filhos em escola; Conheça esse novo movimento
?Todos nascemos palhaços. Quando crescemos é que aprendemos a mentir?. Essa foi uma das chocantes frases dita pelo palhaço Caxambó, desastradamente registrado, na certidão de nascimento, como Igor Rodrigues de Sant?Anna.
Igor é casado com Carla de Miranda há 9 anos, com quem tem dois filhos: Luan, de seis, e Rosa, de um ano e seis meses. O casal, que se transforma em Caxambó e Didi Siriguela, é palhaço profissional e é dessa atividade que eles vivem e de onde tiram a principal fonte de renda da família.
Excêntricos por natureza ? ou por dom ? eles têm um estilo de vida inusitado e até mesmo provocador. É como aquilo que nos tira da nossa zona de conforto e nos faz viajar, pensar, questionar, e…pirar!
O filho mais velho do casal nunca frequentou a escola. Mas não por falta de condições ou oportunidade, mas por uma escolha dos pais, que são contra à escolarização contemporânea. Segundo Igor, essa decisão parte de um ensinamento básico na arte do palhaço: o de se conhecer internamente, de desconstruir as armaduras do corpo, da alma e da mente.
A desescolarização, na visão dele, vai além de apenas não ir a escola. Mas é um processo interno de permitir o aprendizado livre, espontâneo e sem expectativas. ?Eu e Carla acreditamos que cada criança vem ao mundo com uma missão e algo a oferecer. Só que quando ela chega aqui, os dons são abafados pelas expectativas dos pais e da sociedade, e acabam ficando reprimidos. Então a gente toma muito cuidado para não interferir nesse processo, procuramos apenas observar e auxiliar, deixando o dom do nosso filho fluir e florescer?, afirmou.
METALINGUAGEM
O mais surpreendente dessa visão contrária às regras é que, contraditoriamente, Igor é formado em urbanismo pela Universidade Estadual da Bahia (Uneb), já passou pelo mestrado e apresentou, em abril de 2016, sua tese de doutorado, pela mesma instituição, sobre a função do palhaço como educador.
Mais do que passar pela experiência do processo de escolarização ? em todos os seus níveis -, ele utilizou o meio acadêmico como instrumento de pesquisa e propagação da sua visão de mundo.
“A arte do palhaço em si não garante a desescolarização, mas ela contribui muito pra o nosso processo porque a pesquisa do palhaço é uma desconstrução de nós mesmos pra chegarmos a algum ponto interno nosso”, disse.
CAXAMBÓ E DIDI SIRIGUELA
Natural de Salvador, Igor deu vida a Caxambó em 2005 quando fez, pela primeira vez, o curso de palhaço. Em 2007, conheceu sua esposa, Carla, em outro curso da área. Desde então, decidiram criar a ‘Cia Pé na Terra’ e viver de apresentações nas ruas da capital baiana, com a passagem do chapéu – para que o público coloque dinheiro.
“A rua acaba sendo a nossa grande vitrine. É a partir dessas apresentações que surgem contratos e novas oportunidades de trabalhos com a nossa Companhia. Eu lembro que quando decidimos casar, um olhou pro outro e falou assim: você acredita que a gente pode pagar nosso aluguel passando o chapéu? E desde então vivemos disso, sempre nos aprimorando e buscando sempre mais”, afirmou.
A dupla costuma se apresentar em locais com movimento de pessoas, famílias e crianças. O Parque de Pituaçu é o ponto de onde tudo começou para eles. “Nós criamos uma relação muito forte com o Parque e fizemos parte da infância de muitas crianças que hoje já são jovens e adultos, mas que se lembram de nós quando voltamos lá.
PRESENÇA ‘INOCENTE’
A função do palhaço como educador é desenvolvida principalmente na rua, quando o profissional usa das suas técnicas e habilidades para chamar a atenção para algo de errado no local. Igor explica que o palhaço não é um ‘pateta’ que vai apenas fazer os outros ri. Mas ele sempre busca fazer uma crítica social e despertar a reflexão do público.
“A gente não faz espetáculo só pra crianças, até porque quem coloca dinheiro no chapéu são os adultos, então também temos que despertar a atenção deles. Aí é que entra a inteligência do palhaço que, com sua presença inocente, faz piadas corporais e faladas com duplo sentido”, explicou.
“Originalmente, a palhaçaria não é para crianças, mas sim para adultos. As pidas são ácidas e muitas vezes sarcásticas. Mas nós fazemos piadas para criança, que é algo muito recente, mas sem aquela coisa ‘infantilóide’, porque a criança é inteligente e também tem capacidade de lidar com esse universo da arte madura”, afirmou.
Veja no vídeo abaixo a preparação de Igor para se transformar em Caxambó:
Quando um palhaço pede palmas… Veja recado de Caxambó para o público no vídeo abaixo: