Cultura

Opinião: contradições entre Margareth Menezes, Daniela Mercury e as Aya Bass

Opinião: contradições entre Margareth Menezes, Daniela Mercury e as Aya Bass

Por Da Redação

Opinião: contradições entre Margareth Menezes, Daniela Mercury e as Aya Bassdivulgação

DE QUEM É A COR DESSA CIDADE?


Quando subiram juntas ao palco do Festival Sangue Novo no último fim de semana, Larissa Luz, Xênia França e Luedji Luna tinham consciência de que elas, nomes já expressivos no cenário musical brasileiro, fariam o show mais aguardado da noite. Sabiam, também, que, três cantoras negras baianas que estruturaram suas carreiras no eixo Rio-São Paulo, carregavam a força e o legado de outras cantoras da terra, que já não têm acesso a palcos como aquele.


Após as autoproclamadas Nordestiny?s Child abrirem o show evocando a força de orixás femininas, atualizando ?As Ayabas? (canção de Gil e Caetano gravada por Maria Bethânia em 1976), ecoou uma fala de Tia Má direcionada a Daniela Mercury, que, entre outras coisas, questionava a representatividade de mulheres negras dentre as cantoras de Axé. A homenagem que se seguiu, com citação a nomes como Alobêned e Márcia Short, culminou com um expressivo e justo chamamento ao nome e à música de Margareth Menezes ? como que se se reconhecesse em Maga a dona do disputado posto de ?rainha do axé?.


Não é novidade para ninguém que o ideal de baianidade defendido por Daniela se pauta no discurso afirmativo da negritude. É assim desde ?Swing da Cor? (Luciano Gomes), seu primeiro sucesso regional em 1991. Passados quase 20 anos, na recém-lançada ?Pantera Deusa Negra?, a compositora Daniela volta a forjar uma proximidade com a negritude, ao afirmar que ?Wakanda é aqui. Wakada é no Ilê. É, Wakanda é na África?, em referência ao país fictício africano da Marvel. No clipe da música, a cantora é o destaque entre pessoas e elementos da cultura negra, como Vovô do Ilê e a própria Tia Má.


O problema é que, no Século XXI, uma branca cantando negritudes à frente de dançarinas negras tem uma outra simbologia, diferente daquela do início dos anos 90. O F5 que Daniela apertou, ao citar Wakanda, não alcança o discurso afirmativo negro, que faz um debate profundo sobre lugar de fala, representatividade e apropriação cultural. O que fez com que que o ótimo show das Aya Bass seguisse quase como um anti-tributo, com as novas baianas vociferando frases como ?A cor dessa cidade não é a sua? e ?Wakanda é nossa?.


Da Ribeira, por seu turno, Margareth Menezes emplaca um dos melhores verões dos últimos anos. Se nos últimos 5 carnavais, Maga só havia lançado uma música de estilo, a cantora defende duas em 2019: ?Todo Mundo Alegre? (Luiz Soares, Luizinho do Jêje, Nem Cardoso e Peu Meurray) e ?Canto da Massa? (Pierre Onassis). Os shows que apresentava no Mercado Iaô em anos anteriores contavam com um repertório não condizente com a vasta carreira da cantora, que chegou a se submeter a efêmeros sucessos neo-sertanejos.


O que se vê nesta temporada é uma Margareth defendendo bem seu capital artístico, inclusive relembrando ótimas canções do início de sua carreira, como ?Marmelada? (George Decimus) e Raça Negra (Dito e Jorge Zarath). Esta última, por sinal, uma canção afirmativa e que possui um registro histórico do Carnaval de 1994, em parceria com Carlinhos Brown e, vejam só, Daniela Mercury:



Contradições e mistura não são nenhuma novidade no Reino do Dendê. Muitos elementos explicam as diferenças entre a carreira das amigas Daniela e Margareth, inclusive, sim, o componente racial. Margareth volta a cantar nos Mascarados no carnaval de 2019, quando será homenageada, nove anos após deixar o bloco. Daniela vai muito melhor quando canta ?Proibido o Carnaval?, ao lado de Caetano, sua aposta para a folia deste ano. As Aya Bass também deram indicativo de que voltam em trio elétrico. É salutar que novas cantoras baianas possam bradar seus reclames ao microfone soteropolitano. Para isso, outras cantoras da terra abriram o caminho lá atrás, quando o protagonismo masculino imperava. Que cantem mais, essas iabás. Todas grandes. O canto é de todas elas. A cor, não.


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