OPINIÃO: Filme ‘Axé’ possui ritmo e supera a medianidade cinematográfica
OPINIÃO: Filme ‘Axé’ possui ritmo e supera a medianidade cinematográfica
Arthur Daltro, em colaboração ao Aratu Online
Daniela Mercury alardeou que ia fazer e Spike Lee chegou até a registrar imagens no carnaval de 2013. Mas coube mesmo ao estreante Chico Kertész lançar o primeiro documentário sobre o ritmo que dominou o hit parade brasileiro da década de 90. ?Axé: o Canto do Povo de um Lugar?, produção baiana maturada por aproximados dois anos, estreia na próxima quinta (19/1) em todo país, levando consigo a missão de traduzir ao cinema a história da Axé Music.
Em aproximadamente duas horas de filme, o espectador menos íntimo do Axé ou de sua história pode enfadar-se diante de uma trama contada cronologicamente e por vezes detalhista em excesso. A narrativa é linear e pesa mais no momento em que passa a esmiuçar a história dos blocos carnavalescos da folia baiana. Mas o filme, tal qual o gênero, possui ritmo e supera sua medianidade cinematográfica por contar uma passagem importante da música brasileira e que ainda sofre, à vista de olhares mais arraigados.
Com depoimentos dos artistas e produtores que construíram a evolução musical deste período da música baiana, dificilmente o filme será acusado de não ter contemplado alguma personagem mais importante. Obviamente que documentário qualquer tem compromisso com citação numérica de artistas, mas salta aos olhos que a trama tenha conseguido mostrar quantidade tão grande e importante de personagens.
O diretor usa o longo tempo de que dispõe e consegue contar desde a influência dos Novos Baianos na formação do gênero até a retomada do ?axé de raiz?, com o movimento recente que tem tomado os carnavais de Salvador. Porém, se o filme tem a coragem de explorar pontos polêmicos como os inegáveis jabás que artistas pagam pra tocar no rádio e a perseguição de artistas por empresários, não consegue enfrentar a fundo questões como a mercantilização e a segregação existentes na festa.
A montagem de Denis Ferreira dá fluidez ao filme, fazendo crer, vez ou outra, que os artistas dialogam entre si, em seus depoimentos. Outro ponto alto é a pesquisa realizada por James Martins, que permite ao filme literalmente documentar reportagens exibidas pelos impressos da Bahia e do Brasil, enquanto os episódios vão passando na tela.
Não se sabe ainda se Kértesz tem sorte de principiante, pois o resultado é bom. Também não é todo dia que se tem a sacada de fazer o primeiro documentário sobre um gênero musical indispensável à historia da música brasileira. Certamente o filme não vai gerar interesse da grande imprensa e talvez seja até ser considerado um documentário ?regional?. Afinal, trata-se de um registro sobre um gênero musical ainda diminuído. Ninguém negará, contudo, que é um retrato delicioso de um período, mais do que memorável, pulsante da música do nosso país. Vida longa, axé!
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