A verdade que ninguém quer encarar sobre a segurança pública
O momento atual requer coragem para descortinar a realidade enfrentada pela maioria da população brasileira. Não adianta continuar discutindo segurança pública, dignidade da pessoa humana ou direitos individuais e coletivos como se estivéssemos falando de um país imaginário. O Brasil real é outro.
Falar de segurança pública ignorando o cotidiano do povo, especialmente dos mais vulneráveis, virou hipocrisia institucionalizada. Discute-se direitos, princípios e teorias, enquanto crianças, trabalhadores e famílias inteiras vivem aprisionadas por facções criminosas, submetidas a regras impostas pelo fuzil, e não pela lei.
Enquanto isso, muitos dos que discursam sobre “dignidade da pessoa humana” vivem protegidos por carros blindados, motoristas e equipes de segurança. Juízes, políticos, autoridades circulam com aparatos de proteção que o povo não tem. E todos sabem disso.
Dignidade humana não pode seguir sendo discurso de auditório. É necessário proteger a vida do indivíduo de forma concreta; garantir a segurança daquele que acorda cedo, pega ônibus, trabalha, paga imposto e, ao voltar para casa, precisa pedir permissão à facção para entrar na própria rua.
Quem mora nas comunidades conhece a verdade: barricadas, homens armados, toque de recolher, “leis paralelas”, territórios dominados. E sabe também que, depois de cada grande operação policial, no dia seguinte as barreiras estão de volta, os fuzis reaparecem e a vida volta ao “normal”. O normal do medo e da repressão.
O que não é dito é que o povo apoia as operações porque sabe que a polícia é a única presença do Estado que ainda tenta devolver algum mínimo de ordem. Quem vive sob domínio criminoso sabe que a “lei” que vale lá dentro é muito mais severa do que qualquer legislação brasileira.
Enquanto isso, no Congresso e no Judiciário, muitos defendem leis cada vez mais brandas. E não apenas para eles, que vivem protegidos; mas também para quem aterroriza o povo.
A hipocrisia chegou ao ponto de se acusar abuso policial antes mesmo de se entender a operação, enquanto o povo olha e diz: “se a polícia não entrar, quem é que entra?”.
Se o Estado continuar fingindo que controla o território, o povo vai perder a fé. E quando o povo perde a fé no Estado, começa a fazer justiça com as próprias mãos. E a história já mostrou que este é um caminho que leva nações a entrarem em colapso.
Todos nós conhecemos alguém que vive em comunidades dominadas: a funcionária que não conseguiu ir trabalhar porque teve troca de tiros; o motorista que teve que abandonar a casa por ordem da facção; a diarista que pede ajuda para mudar de bairro; a mãe que não deixa o filho brincar na porta de casa; o trabalhador que dorme ouvindo disparos.
Pergunto: isso é “dignidade humana”?, Estado?, sociedade?
Do outro lado, o policial que está sempre em desvantagem, pois ganha pouco, mora em áreas vulneráveis, precisa esconder a farda para não morrer, enquanto nós fingimos que está tudo bem. Fingimos que o discurso é mais importante que a realidade.
O povo conhece a verdade e já não aguenta mais. Cedo ou tarde, isso vai mudar o voto, vai mudar o discurso e vai mudar o país. Porque nenhum país sobrevive quando a hipocrisia se torna maior que a própria realidade.
Quando a lei deixa de alcançar quem precisa dela, não estamos falando apenas de violência. Estamos falando do fim do pacto social.
Se o Estado não garante o direito de ir e vir, o cidadão deixa de ser cidadão e volta a ser sobrevivente. E um país de sobreviventes não constrói futuro; apenas tenta chegar vivo ao dia seguinte.
*Este material não reflete, necessariamente, a opinião do Aratu On
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